Diagnóstico médico via redes sociais é procedimento ilegal, diz CFM




O uso das redes sociais como forma de diagnosticar pacientes que buscam realizar procedimentos cirúrgicos estéticos é uma prática ilegal, segundo o corregedor do CFM (Conselho Federal de Medicina), José Vinagre. “Isso é vedado, não é permitido”, afirma. Outra prática antiética é a divulgação de fotos de pacientes nas redes sociais. Mas nem todas as pessoas sabem disso.
bancária Lilian Calixto, de 46 anos, morreu após passar por cirurgia estética com o médico que ficou conhecido como “Doutor Bumbum”. A modelo Mayara da Silva dos Santos, de 24 anos, realizou procedimento semelhante e teve o mesmo destino. Nos dois casos, o primeiro contato entre o médico e o paciente ocorreu pelas redes sociais.
Vinagre explica que os diagnósticos médicos devem sempre ser feitos presencialmente. O contato a distância pode existir, mas somente em casos emergenciais, apenas em caráter de orientação, depois da primeira consulta ser presencial.
O médico do CFM afirma que as avaliações médicas feitas pelas redes sociais para procedimentos estéticos não devem ocorrer nunca, apesar estarem se tornando uma prática cada vez mais difundida. Ele orienta que as pessoas procurem informações sobre esses médicos no próprio portal do CFM, para, ao menos, verificar o registro médico de quem faz publicidade oferecendo estes serviços na internet.
"O paciente não sabe nem se a pessoa que está oferecendo este procedimento realmente é médico”, afirma. Vinagre também recomenda que os pacientes, ao se depararem com irregularidades, denunciem os médicos para os conselhos regionais, para que uma investigação possa ser aberta.
O presidente da Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Lavínio Nilton Camarim, diz que este tipo de contato “não tem sustentação ética”. Ele reforça que  a troca de mensagens "nunca deve ser o primeiro passo". "Uma coisa é já conhecer o médico, agora, ser a porta de entrada da relação médico/paciente, é sempre um mal começo”.
Camarim também afirma que apesar dos meios de comunicação entre o médico e o paciente terem mudado, a finalidade do contato deve continuar a mesma. “No passado [o médico] utilizava o telefone para responder algumas dúvidas, mas sempre como caráter de orientação e nunca como consulta. Isso serve para as novas mídias. Nada ainda substitui a consulta presencial.”
O médico ainda explicou que o próprio Cremesp faz buscas em redes sociais e sites com o objetivo de coibir este tipo de publicidade. Além disso, o Conselho também recebe denúncia por meio de pacientes, médicos e delegacias. O médico flagrado fazendo este tipo de publicidade poderá ser investigado por meio de uma sindicância aberta pelo Conselho.
Caso o médico seja julgado e condenado após a abertura dessa investigação, a punição pode variar de acordo com a gravidade da irregularidade cometida. As sanções variam desde uma simples advertência, até a cassação definitiva do registro médico profissional.
Fácil acesso nas redes sociais
A reportagem do R7 entrou em contato com um médico cirurgião plástico para obter informações a respeito de um procedimento com bioplastia. Por WhatsApp, a equipe dele pediu que fossem enviadas fotos de biquíni para um primeiro diagnóstico.
Clinica médica solicita fotos de biquíni para primeiro atendimento de paciente

Clinica médica solicita fotos de biquíni para primeiro atendimento de paciente

Reprodução
De acordo com Camarim, este tipo de pedido também não é correto. “Esse é um contato inadequado.”
Levantamento
Segundo censo feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, mais da metade dos médicos utilizam o Facebook profissionalmente. Em seguida aparecem o WhatsApp e o Instagram como as principais redes sociais utilizadas pelos profissionais.
Apenas 28,6% dos entrevistados afirmaram que não utilizam as redes sociais profissionalmente.
Ainda de acordo com o levantamento, o número de cirurgias de reparações, em decorrência de problemas com procedimentos estéticos vem aumentando. Em 2009 foram pouco mais de 169 mil reparações, em contraste com mais de 664 mil em 2016. Deste total, mais de 4 mil cirurgias de reparação foram motivadas por procedimentos com PMMA, a mesma substância utilizada nos procedimentos feitos pelo “Doutor Bumbum”.
*Estagiário do R7, sob supervisão de Ingrid Alfaya