O uso de máscaras em manifestações públicas ou protestos é proibido em diversos países. “Isso mostra o poder que a máscara tem”, disse Marcello Dantas, curador da exposição Etnos: Faces da Diversidade, nova mostra do Santander Cultural, durante apresentação das obras na manhã desta segunda-feira, 13, em Porto Alegre. A exposição abre ao público na quarta-feira, 15, com visitação gratuita.
A exposição reúne máscaras de tribos africanas, do folclore mexicano, de tribos indígenas e do candomblé brasileiro, mas também de ícones pop. Entre uma máscara artesanal e outra, há a popular máscara com o rosto do pintor Salvador Dalí, que virou fenômeno mundial por causa da série espanhola La Casa de Papel. Uma das máscaras usadas pela dupla Daft Punk, de música eletrônica, e uma máscara de medusa usada pela cantora islandesa Björk, também são atrações (veja fotos abaixo).
“Se alguém vier aqui para ver a máscara do Darth Vader, mas encontrar uma máscara da Costa do Marfim, maravilhosa, encontrar uma manifestação da Colômbia, interessantíssima, ou de Nova Guiné, ou de onde for, eu acho que é essa a beleza da coisa. Você tem várias portas de entrada. Posso vir aqui pelo que eu conheço e posso descobri algo que não conheço. Isso foi deliberado, eu quis. É legítimo. É uma das manifestações do uso da máscara no contemporâneo que é mais verdadeira”, disse a VEJA Dantas, considerado um dos mais importantes curadores do país.
Dantas pesquisou durante um ano para encontrar as 173 máscaras da mostra, que vieram de diferentes acervos como Museo Rafael Coronel, de Zaratecas, no México, coleções individuais, Museu do índio e Memorial da América Latina.
“A gente olha para todas as coisas que, de alguma forma, utilizam a máscara como elemento empoderador. Isso é muito forte. É uma das questões chave. A máscara tem uma capacidade de nos permitir fazer coisas que, sem a máscara, nós não somos capazes de fazer, para o bem e para o mal”, explicou o curador.
Segundo Clau Duarte, superintendente de Comunicação Externa do Santander, a mostra não contará com reforço na segurança por conta do episódio do fechamento da exposição Queermuseu, em setembro do ano passado. Após ataques de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), que alegavam equivocadamente que a mostra fazia apologia à pedofilia, o Santander decidiu encerrar a exposição antes do previsto. Nos bastidores, o banco alegou que fechou a exposição por uma questão de segurança dos funcionários, tanto do centro cultural como das agências bancárias que também foram atacadas.
A exposição Etnos faz parte do acordo com o Ministério Público Federal (MPF) em que o Santander se comprometeu a realizar duas novas exposições sobre diversidade e diferença. Na época do acordo, o curador da Queermuseu, Gaudêncio Fidelis, criticou o acordo porque considerou que determinar os temas previamente é “censura prévia”. A VEJA, o procurador Enrico Rodrigues de Freitas defendeu o acordo. Mesmo sendo parte do acordo, a proposta da exposição foi elaborada por Dantas antes mesmo dos ataques sofridos pela Queermuseu.
“A mobilização dizia respeito a dar visibilidade política para causas totalmente exógenas à exposição. Ela foi uma plataforma de ataque, não só ao Queermuseu. Alguns grupos brasileiros decidiram usar a cultura como um alvo, porque era um alvo de alta visibilidade”, opinou Dantas sobre os ataques àexposições de arte e peças de teatro.
Fonte: Veja