General Santos Cruz é demitido por Bolsonaro











O general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi demitido do cargo de ministro da Secretaria do Governo nesta quinta-feira, 13, em razão de divergências com as estratégias da equipe de comunicação da gestão Bolsonaro. O substituto dele será outro militar, o general Luiz Eduardo Ramos Baptista, atual comandante militar do Sudeste, conforme revelou o Radar
Santos Cruz é o terceiro integrante do primeiro escalão do governo a deixar o posto. O primeiro foi o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno, em fevereiro, e o segundo o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez, em abril.

O Radar informou que, ao falar com Santos Cruz, nesta manhã, o presidente lançou mão de uma de suas metáforas matrimoniais e disse ao general que “o casamento chega ao fim sem rugas, sem ressentimentos”.Por meio de nota, o Palácio do Planalto afirma que “o presidente da República deixa claro que essa ação não afeta a amizade, a admiração e o respeito mútuo, e agradece o trabalho executado pelo general Santos Cruz à frente da Secretaria de Governo”.Além da Secretaria de Comunicação Social (Secom), comandada pelo publicitário e empresário Fabio Wajngarten, e do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) do governo, Santos Cruz tinha sob suas atribuições na pasta a articulação política com o Congresso. A gestão do agora ex-ministro foi marcada por atritos internos: com Wajngarten, na Secom, divergia sobre o volume de investimentos em publicidade da reforma da Previdência e a respeito de entrevistas do presidente; já o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também responsável pela interlocução do Palácio do Planalto com o Congresso, considerava o militar pouco afeito ao trato com parlamentares.Ex-assessor parlamentar do Exército, o general Ramos é visto como alguém com mais traquejo para o diálogo com deputados e senadores.

Embate com Olavo

Santos Cruz trocou farpas públicas com o escritor Olavo de Carvalho, guru ideológico do presidente e de seus filhos, no auge da crise entre a ala militar do governo e os olavistas que integram a gestão Bolsonaro. Radicado na Virgínia, onde vive, o escritor publicava textos no Facebook nos quais se referia ao ministro como “bandidinho”, “fracote” e “fofoqueiro de m…”, entre outros ataques. 

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Santos Cruz declarou que o ideológo de extrema direita é “desequilibrado”. “Eu nunca me interessei pelas ideias desse senhor, Olavo de Carvalho. Por suas últimas colocações na mídia, com linguajar chulo, com palavrões, inconsequente, o desequilíbrio fica evidente”, afirmou. 
Em abril, Carlos Bolsonaro, o mais estridente dos filhos de Bolsonaro, fez críticas à gestão da comunicação do governo Bolsonaro. Carlos é muito próximo de Fábio Wajngarten.
“Vejo uma comunicação falha há meses da equipe do Presidente com o público. Tenho literalmente me matado para tentar melhorar, mas como muitos, sou apenas mais um e não pleiteio e nem quero máquina na mão. Infelizmente é notório que nossa esperança perde oportunidades impares de reagir e mostrar seu bom trabalho. Perder é fácil, recuperar é quase impossível! Não espero bom senso de quem não tem, apenas mais uma vez a verdade! O Brasil vencerá!”, escreveu Carlos no Facebook. 

Trajetória do ex-ministro

Em 44 anos de carreira no Exército, Carlos Alberto dos Santos Cruz chegou à patente de general de divisão, a segunda mais alta na hierarquia, abaixo apenas de general de Exército. Ele comandou as missões de paz da ONU no Haiti, entre 2006 e 2009, e na República Democrática do Congo, de 2013 a 2015 – neste caso, deixou a reserva, em que estava desde 2012, a pedido das Nações Unidas, e voltou à ativa. A missão no Congo foi a primeira em que o organismo internacional autorizou o uso da força para impor a paz.
Em janeiro de 2018, a ONU divulgou um relatório coordenado por Carlos Alberto dos Santos Cruz em que ele recomenda mudanças na atuação de soldados em missões de paz, que devem “estar conscientes dos riscos e devem ser habilitados para tomar a iniciativa de deter, prevenir e responder a ataques”. “Esperar em postura defensiva apenas dá liberdade a forças hostis para decidir quando, onde e como atacar as Nações Unidas”, diz o relatório.
“Infelizmente, grupos hostis não entendem outra língua que não seja a da força”, afirma o documento, produzido a partir de uma visita de 45 dias de Santos Cruz e outros oficiais da ONU à República Democrática do Congo, à República Centro-Africana, ao Mali e ao Sudão do Sul.

Fonte; VEJA