Os desafios por trás da depressão





Estimativas apontam que dentro de 10 anos a depressão deve liderar o ranking das enfermidades globais. O Brasil é o País com maior prevalência da doença da América Latina e todo o tabu envolvendo a depressão está ainda mais enraizado na população com mais de 55 anos, que é justamente a que está mais suscetível.
É o que aponta um estudo realizado pelo IBOPE no segundo semestre de 2019, a pedido da Pfizer e de sua divisão focada em doenças crônicas não-transmissíveis, a Upjohn. Foram entrevistados 2 mil internautas na capital paulista e em diferentes regiões metropolitanas do País.
Os gatilhos estão relacionados a condições orgânicas preexistentes – Foto: Adobe Stock
A depressão é caracterizada por alguns sinais de alerta e mudanças de comportamento, como desânimo persistente, baixa autoestima, sentimentos de inutilidade. Há ainda a perda de interesse por atividades antes apreciadas, mudanças de apetite e dos hábitos de sono, dificuldades de concentração e irritabilidade.
“O desenvolvimento da depressão precisa de fatores externos para que a pessoa passe a ter o risco de desenvolver a doença. Muitos desses gatilhos estão relacionados a condições orgânicas preexistentes”, explica o médico intensivista Luiz Fernando Vieira, gerente médico da Upjohn.
De acordo com ele, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer e doença de Parkinson, além da idade avançada, aumentam o risco de desenvolvimento de depressão. Também há casos em que as doenças coincidem com momentos de aposentadoria e diminuição da sociabilidade.
“Não é uma doença que causa diretamente a morte, mas causa muita perda funcional para o paciente e para todo o círculo de interação dele. A pessoa que é acometida pela depressão vai ter um controle pior do diabetes, por exemplo, da alimentação, vai ter uma funcionalidade na vida muito diminuída”, pontua Luiz Fernando.

Mitos dificultam o tratamento adequado

Um grave problema apontado pela pesquisa e que dificulta o acesso ao tratamento da depressão é o tabu, com uma série de estigmas envolvendo a doença.
Os idosos são os que mais confundem a depressão com falta de fé, acreditam que basta alegria e uma atitude positiva para vencer a doença e que o sucesso no trabalho e na vida social podem ‘blindar’ qualquer pessoa
contra a depressão.
A pesquisa mostrou que 25% dos entrevistados com mais de 55 anos de idade não associam a depressão aos riscos de suicídio, embora a doença esteja diretamente ligada à condição psicológica de 36% das vítimas.
“O paciente, além de ter vergonha de procurar um médico, muitas vezes não tem formação suficiente em sua concepção de que isso é uma doença. Ele não tem coragem de falar com os amigos, com os familiares, com o patrão, então procura ajuda muito tarde”, alerta Luiz Fernando.
A prevalência da depressão é menor em jovens, mas eles não se sentem confortáveis para falar sobre o assunto – Foto: Adobe Stock
Por outro lado, a pesquisa indicou que o público maduro é o que está mais aberto a falar sobre o assunto, o que representa uma grande oportunidade para enfrentar o problema.
“Vemos a prevalência da doença e o estigma aumentados, mas eles também estão disponíveis a conversar, diferentemente do público jovem. Os jovens têm uma prevalência menor, o estigma também é menor, mas é um público que não se sente confortável a conversar. Esse é um ponto de atenção”, aponta o médico intensivista Luiz Fernando Vieira, gerente médico da Upjohn.

Depressão e ansiedade de forma associada

Ficar se perguntando se tudo vai correr bem é um traço de ansiedade que nos impulsiona para a preparação para os desafios do dia a dia. O quadro se torna preocupante quando ela começa a se manifestar com dores no peito, sensação de coração acelerado ou até dores de cabeça insistentes.
Os sintomas costumam aumentar gradualmente, e por isso exigem atenção.
Embora ansiedade e depressão sejam distúrbios diferentes, muitas vezes estão associados. “A ansiedade é um fator de risco para a depressão. Hoje sabemos que quase 70% das pessoas com depressão iniciou com um transtorno de ansiedade, que não foi diagnosticado e tratado corretamente”, explica o médico intensivista Luiz Fernando Vieira.

Pandemia

A pandemia vivida por conta do novo coronavírus (Covid-19) pode ter consequências diretas na saúde mental, com momentos de solidão devido à recomendação de isolamento social, estresse permanente com o medo da doença ou de perder pessoas queridas e luto, além da crise financeira.
“Uma pessoa saudável, num momento como esse, exposta a alguns gatilhos tão difíceis e complicados de enfrentarmos, pode sim adoecer”, alerta o médico Luiz Fernando Vieira.
De acordo com ele, os gatilhos são situações externas como períodos de estresse diário, má qualidade do sono, falta de rotina, falta de separação entre espaços profissionais e pessoais e abuso de bebida alcoólica.
Com relação ao descontrole da alimentação e falta de exercícios físicos, ele explica que é importante manter bons hábitos, mas também se permitir ficar quieto quando sentir necessidade.
“Alimentação saudável e exercício físico são medidas importantes para ficarmos bem e saudáveis, mas a cobrança e a autocobrança geram bastante ansiedade e pode nos prejudicar. É um momento de aceitação, de se conhecer e se analisar. A gente se permite e, ao mesmo tempo, se cuida”, afirma o médico.


Fonte: O LIBERAL