Estudo indica uso de anti-inflamatório comum contra picada de escorpiões

 



Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto divulgaram um estudo que indica o uso de dexametasona, um anti-inflamatório de uso comum, como uma possível forma de tratar vítimas de picadas de escorpião.

A picada do animal peçonhento, que é o que mais mata no Brasil, pode resultar em edema pulmonar e ataque cardíaco, principalmente quando envolve crianças e idosos. Em Americana, já foram registrados 362 acidentes com escorpiões em 2020 – no ano passado, foram 427.

A cidade também é uma das que mais captura e encaminha escorpiões para o Instituto Butantan, em São Paulo, para a produção de soro. Em 2019, foram capturados cerca de 20 mil animais. Neste ano, são 15,8 mil, segundo o Programa de Vigilância e Controle de Carrapatos e Escorpiões.

O estudo, que foi realizado em camundongos, foi publicado na revista Nature Communication e sugere que o bloqueio do processo inflamatório pode ser feito por meio do medicamento corticoide, que deve ser administrado logo após a picada.

Americana capturou mais de 15 mil escorpiões em 2020 – Foto: Arquivo / O Liberal

O trabalho foi desenvolvido durante o doutorado de Mourzallem Barros dos Reis como parte de um projeto temático coordenado pela professora Lúcia Helena Faccioli. O estudo teve o apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e do Instituto Butantan.

Além de demonstrar que o uso do anti-inflamatório pode ser útil em casos de escorpionismo, a pesquisa ajudou a entender quais são os mecanismos por trás dos efeitos da peçonha do escorpião no coração, que provém da relação entre o neurotransmissor acetilcolina e os mediadores inflamatórios produzidos no pulmão em resposta à peçonha, o que tem impacto no ritmo do batimento cardíaco.

Em 2016, os pesquisadores já haviam demonstrado, em outro estudo, que o edema no pulmão é resultado da ativação de um complexo proteico existente no interior das células de defesa.

No entanto, segundo Faccioli, apesar desse corticoide ser usado há décadas, ser seguro, acessível e não ter efeitos colaterais significativos, ainda é cedo para afirmar que os resultados obtidos na pesquisa se aplicam também aos humanos.

“Nossa principal dúvida é em relação ao tempo de administração do corticoide em pessoas, visto que os períodos de vida de um humano e de um camundongo têm uma grande diferença. No estudo, a administração do anti-inflamatório até 30 minutos após o camundongo receber a peçonha evitou a morte do animal”, explicou ao LIBERAL.

No Brasil existem 160 espécies de escorpião, mas as que geralmente são consideradas riscos à saúde pública são a Tityus bahiensis (escorpião marrom) e a Tityus serrulatus (escorpião amarelo), que são adaptadas ao meio urbano.

Segundo o Ministério da Saúde, foram registradas 169 mortes e cerca de 156 mil casos de envenenamento por escorpião no país no ano passado. Em 2008, eram cerca de 40 mil casos. A tendência é que este número continue aumentando por conta de problemas como desmatamento, acúmulo de lixo, aumento de temperaturas e urbanização desordenada.



Fonte: O LIBERAL