Vacina não é solução para altas taxas de transmissão, diz Gabbardo

 




As altas taxas de transmissão da doença não devem ser critério para priorização da vacinação e distribuição de doses de vacinas contra covid-19, segundo afirmou o secretário-executivo do Centro de Contingência do combate ao coronavírus em São Paulo, João Gabbardo dos Reis, na Live JR, programa de entrevistas do Jornal da Record, nesta sexta-feira (19).

"Vacina não é solução para quando as pessoas apresentam transmissibildade alta", afirmou. "A vacina protege. Tem que ser aplicada em pessoas que ainda não estão com vírus porque ela vai levar três, quatro semanas para fazer efeito. A vacina é para prevenção. Nos locais onde a transmissão é baixa, a gente evita que aumente a transmissibilidade da doença."

Gabbardo afirmou que, por esse motivo, o critério mais adequado para a distribuição de vacinas é o demográfico, e não a taxa de transmissão. O critério é o mesmo adotado pelo Ministério da Saúde. "O critério que o ministério vem usando de acordo com critérios demográficos é mais adequado do que critérios epidemiológicos."

Além disso, há risco de gerar insatisfação. Como as taxas de transmissão tendem a ser mais altas em lugares onde as restrição são menos respeitadas, há o risco de haver um desestímulo à adoção das medidas de proteção. "A região que segue as restrições tem transmissibilidade mais baixa, vai receber menos vacina que as regiões que não seguem as restrições, que vai ser mais beneficada. Cria na população um sentimento de injustiça muito grande", detalhou o secretário-executivo.

O secretário acrescenta ainda que nenhum país "com maior relevância"no combate à pandemia usou critérios de transmissibilidade, mas seguiram os populacionais.

Um outro ponto em comum entre Gabbardo e o Ministério da Saúde é a priorização de aplicação da primeira dose. O foco, segundo o secretário, deve ser acelerar a imunização em vez de manter um estoque para a segunda dose. A posição foi defendida pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, durante reunião com prefeitos realizada nesta sexta-feira. 

"É um assunto bastante polêmico, não temos consenso sobre esse tema mesmo no Centro de Contingência. Venho defendendo esse ponto de vista [de priorizar a primeira dose]", diz o secretário, que considera a visão do ministro “absolutamente correta”. Gabbardo defende que, diante da grande quantidade de idosos que ainda não foram vacinados, não deve haver vacinas armazenadas na geladeira. "Vale a pena corrermos o risco caso atrase a segunda dose. O prejuízo de atrasar um pouco a segunda dose é muito menor do que a vantagem que temos de aumentar a velocidade e vacinar as pessoas idosas usando todas as vacinas que temos disponíveis".

João Gabbardo

João Gabbardo

DIVULGAÇÃO - 16/07/2020

Ele afirmou ainda que, apesar da alta taxa de transmissibilidade entre jovens, os idosos recebem prioridade por estarem mais sujeitos a casos graves e maiores taxas de mortalidade.

"Nesse momento precisamos atacar as pesoas que estão morrendo. Entre jovens, apesar de a transmissibilidade ser mais alta, o risco de ser internado, ir pra UTI, e morrer é pequeno nesta população. Nete momento, é mais impte a gente focar na redução dos casos graves. Mesmo caindo numero de internções e óbitos, a transmissibilidade da doença ainda vai continuar alta."

Produção de CoronaVac

Por conta da necessidade de vacinação contra Influenza, o Instituto Butantan ainda não está totalmente dedicado à produção de CoronaVac, conta Gabbardo. A produção atual diária do imunizante contra covid-19 é de 400 a 450 mil doses, e o número deve se manter por mais 30 dias. Com o fim da produção de vacinas contra Influenza a expectativa é que a produção se acelere a um milhão de doses diárias. "Isso é coisa pra abril, maio em diante", afirmou. 

Novas variantes

O secretário descartou a possibilidade de aumento das restrições às atividades econômicas a partir da circulação de novas variantes do coronavírus. Em São Paulo, só nesta semana, foram registrados 32 casos das variantes de Manaus e da linhagem britânica. "As medidas de prevenção não mudam nada, as recomendações são absolutamente as mesmas', disse Gabbardo.

Para o secretário, é "muito possível" que a CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan, tenha eficácia contra novas variantes que tenham pequenas modificações genéticas, por ser produzida a partir do vírus inteiro inativado. "Neste momento, nenhum dado nos motra impossibilidade ou redução de eficácia da vacina nestas variantes."

Segundo ele, as vacinas gênicas, que são mais precisas e com eficácia mais alta, podem ter problema maior por serem muito mais específicas e talvez precisem de atualização. "A vacina do Butantan, é possivel que nos próximos anos se faça atualização do virus, como se faz pra vacina do Influenza", afirmou. "Todos os anos fazemos uma pesquisa sobre os vírus que estavam circulando no inverno do Hemisfério Norte e se usa como modelo pra atualizar a vacina aqui Brasil." Segundo Gabbardo, assim como para a Influenza, é possível que seja necessária  atualização anual para vacina contra covid-19.

Vacina contra Influenza e covid-19

O secretário-executivo conta que durante a campanha de vacinação contra Influenza, prevista para os meses de março e abril, não há problemas, caso seja possível, uma mesma pessoa ser também imunizada contra a covid-19. "Não existe nenhum problema de fazer a vacina da Influenza junto com a vacina da covid. A pessoa pode se vacinar no mesmo dia."

Segundo Gabbardo, a partir do ano que vem, a expectativa do instituto Butantan é começar a pesquisar uma vacina casada de Influenza e covid-19.  "É possivel, o próprio Instituto Butantan - esse ano não vai ser possível-, mas no ano que vem colocar a vacina de covid já na composição da vacina da influenza. Quando o indivíduo for vacinado na Influenza, vai receber dois, três ou quatro vírus da vacina da Influenza e podemos ter a vacina da covd, então, em uma dose só."

Talvez haja vacinas separadas para atender diferentes grupos populacionais já que para Influenza, gestantes e crianças estão em grupos prioritários, mas não no no caso da covid-19. entao talvez tenhamos vacina separadas pra atender detertminados grupos populacionais. Segundo o secretário, à medida que as pesquisas mostraram que não há risco para estes grupos, eles poderão ser incluídos entre os prioritários. 

Carnaval


Gabbardo também lamentou as aglomerações registradas durante os dias correspondentes ao feriado de Carnaval. "É muito triste ver que esses jovens estão sendo extremamente egoístas, pensando apenas no seu bem-estar, sem perceber que serão vetores de transmissão, responsáveis por óbitos e mortes entre seus familiares. O jovem deve ter esse senso de responsabilidade e nos devemos ser muito duros em relação a isso", declarou. 

Equipe

Participaram da conversa os jornalistas Luis Fara Monteiro, Celso Freitas e Cleisla Garcia. A atração do Jornal da Record recebe, toda semana, personalidades da política e da economia do país. As entrevistas acontecem todas as sextas-feiras.

Na semana passada, o assunto foi o impacto do cancelamento do Carnaval no setor do turismo. Assista abaixo:


Fonte:R7