Comerciante fala sobre ato racista

 




Um caso de racismo contra o proprietário de uma lanchonete localizada na Rua Carlos Gomes, no centro de Araraquara, provocou uma grande repercussão nas redes sociais, nessa semana. A porta da hamburgueria Theodoro’s Burguer foi pichada, na madrugada de quarta-feira (11), com as palavras: “macaco” e “senzala”.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Imparcial, Bruno Thedoro, de 33 anos, falou sobre sua indignação com o fato. O comerciante relatou que começou trabalhando em sua casa com a ajuda de sua esposa até conseguir inaugurar o pequeno comércio há cerca de 1 ano e meio e, desde então, vem lutando para manter as portas abertas, mesmo com todas as dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus.

Ele contou que na tarde da quarta-feira (11) quando chegou à sua lanchonete para trabalhar, notou a pichação na porta de ferro. “Na hora eu nem dei muita atenção, mas depois fiquei chateado. A gente sabe que essas coisas ainda acontecem, mas nunca estamos preparados quando acontece com a gente. Mas isso não nos deixou abalados. As dificuldades da pandemia foram muito maiores do que isso”, ressalta.

Bruno também disse que ainda não teve tempo para ir até a delegacia registrar um boletim de ocorrência. “Eu ainda não fui registrar o BO, mas acho que nem vou. Nem pensei nisso”, diz.

Motivação pode ser política


Questionado se teria algum desafeto ou problema com alguém que poderia ter cometido o crime racial, Bruno diz que não tem problema com ninguém, mas relatou que depois que começou a enviar bolachas com a frase: “Fora, Bolsonaro”, junto com os lanches, passou a ter reclamações de clientes via internet que, inclusive, fizeram indicações negativas de seu estabelecimento nos aplicativos de entrega de alimentos.

“Os anos passam e as pessoas têm mais acesso às informações, mas mesmo assim, parece que elas estão regredindo, não aceitam as posições contrárias às delas. A gente se posiciona e expõe nossas ideias e, isso, as vezes incomoda algumas pessoas”, finalizou o comerciante.

Grande repercussão e apoio

A história ganhou grande repercussão nas redes sociais, onde milhares de pessoas se solidarizaram com o comerciante. Algumas instituições da cidade também prestaram apoio a Bruno.

A prefeitura municipal, através do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo de Araraquara, se manifestou sobre o crime de racismo através da rede social. “Enquanto houver fôlego, não nos calaremos e continuaremos a denunciar e repudiar todo e qualquer ato de racismo e preconceito nesta cidade”, diz a publicação que também pediu apoio dos internautas à hamburgueria da vítima.
O Centro de Referência Afro Mestre Jorge “repudiou de modo veemente a pichação explicitamente racista e vergonhosa ocorrida no dia 11 de agosto, na porta do Theodoro’s Burguer em Araraquara, com os dizeres “Macaco / Senzala”. Entendemos que como cidadãs e cidadãos de sociedade democrática de direitos, não devemos nos silenciar diante desse fato e o criminoso precisa ser identificado, julgado e punido por seus atos”, diz a nota de repúdio.

A Comissão de Combate à Discriminação Racial e a Diretoria da 5ª Subseção da OAB de Araraquara, também emitiu uma nota de repúdio. “A OAB vem através desta nota repudiar o ato racista, tipificado com crime e praticado contra o proprietário do estabelecimento comercial “THEODORO’S BURGUER”, na última quarta-feira. Vivemos em um país em que o racismo está presente nas relações institucionais e no convívio entre as pessoas, em que, manifestações e perseguições preconceituosas como a mencionada acima, ainda são

enfrentadas pela comunidade negra diariamente. Combater o racismo e exigir o cumprimento da lei é um exercício diário e também meta da Comissão de Combate à Discriminação Racial da OAB da 5a Subseção de Araraquara que, não tolerará nenhuma prática racista e nem admitirá a impunidade aos que praticam um crime tão sério na nossa cidade!

Desta forma, repudiamos o ato e nos colocamos à inteira disposição da

vítima deste crime para o apoio e acompanhamento processual pertinente”, diz a nota assinada pela Comissão de Combate à Discriminação Racial da 5a Subseção da OAB de Araraquara.

Crime

O inciso XLII do artigo 5º, promulgado pela Constituição Federal de 1988, define que: a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei.

Este Inciso garante o direito à não discriminação de qualquer indivíduo em razão de raça, bem como prevê a pena deste crime em lei. Cabe pontuar que essa é uma forma de promoção do direito à igualdade, garantia extremamente importante para a democracia. O acusado não terá direito a aguardar seu julgamento em liberdade provisória, mesmo se pagar fiança. Ele só terá liberdade provisória caso não sejam cumpridos os requisitos autorizadores da prisão preventiva.