Diretora da Fungota fala sobre a pandemia e os desafios da Saúde

 





Lúcia Ortiz, diretora executiva da Fungota, fundação responsável pela gestão das UPAs, do Hospital da Solidariedade, do Pronto-Socorro do Melhado e da Maternidade Gota de Leite, participou nesta quinta-feira (25) do "Canal Direto com a Prefeitura - Especial Fim de Ano", atração oferecida pela Prefeitura de Araraquara, através da Secretaria de Comunicação, com o objetivo de sanar dúvidas dos moradores ao vivo em relação à gestão municipal. A entrevista foi transmitida pelo Facebook da Prefeitura, onde o vídeo se encontra disponível para visualização.
Lúcia iniciou sua participação com uma explicação sobre a função exercida pela Fungota na cidade. "Quando falávamos da Fungota, sempre a ligávamos à Maternidade Gota de Leite. A Fungota é uma fundação pública que, junto com a Secretaria de Saúde, faz as gestões dos serviços de saúde. Até 2018, a Fungota cuidava apenas da Maternidade Gota de Leite e a partir de fevereiro de 2018 ela passou a cuidar também das três UPAs do município, que são a UPA do Valle Verde, a UPA Central e a UPA da Vila Xavier. E a partir de 2020, a Fungota passou a ser responsável também pela gestão do Hospital de Campanha e da Unidade de Retaguarda do Melhado. Ou seja, a Fungota cuida de três hospitais e das três UPAs do município", esclareceu.
Atuação na pandemia
A diretora executiva ressaltou que cuidar da Covid-19 foi o maior desafio que os serviços de Saúde já enfrentaram. "Foi uma tarefa extremamente difícil e desafiadora. No início, a Fungota trabalhou ajudando a organizar os serviços. Vamos lembrar que de um dia para o outro tivemos que montar o Hospital de Campanha. E para montar um Hospital de Campanha, é preciso ver quais os equipamentos que serão necessários, quais são os insumos, quantos profissionais serão necessários. Em um primeiro momento, a Fungota ajudou a organizar a UPA da Vila Xavier e transformar uma UPA comum em uma UPA de atendimento para uma doença específica, uma doença nova. Depois, em um segundo momento, organizou o Hospital da Campanha e em um terceiro momento a atuação foi no Melhado", lembrou.
Ela destacou que a Fungota também realizou a contratação dos funcionários que atuaram no enfrentamento da pandemia. "Quando se fala em RH, se fala em contratar e treinar, então a Fungota também foi responsável por fazer o treinamento de todos os profissionais para lidar com essa nova doença. Quando se fala em treinar, se fala em montar protocolos. A equipe da Fungota e a equipe do Comitê Científico, juntas, montaram o protocolo para trabalhar com essa nova doença. E a partir desse momento, desde março de 2020, a Fungota faz a gestão desses serviços", acrescentou.
Gota de leite
Lúcia salienta que a Gota de Leite é uma maternidade de alto risco, ou seja, já possuía uma estrutura apta para atender as gestantes que tenham gestações de alto risco e ela tem, dentro de sua estrutura, a UTI Neonatal e Pediátrica, que é referência para os 23 municípios da região. "Ela também tem uma unidade que chamamos de Unidade de Cuidados Intermediários. Como a UTI normalmente está lotada, já que a nossa UTI tem apenas dez leitos, criamos uma unidade intermediária que tem a estrutura de uma UTI. Então aquele bebê que não está tão grave para ir à UTI e também não pode ir para o quarto, fica nessa unidade", revelou.
Ela aponta também que o local foi adaptado para a pandemia. "Nós já tínhamos uma estrutura montada há muitos anos e passamos, por conta disso, a ser referência para gestantes que pegaram Covid e também para bebês e crianças que pegaram Covid e precisavam de UTI. É claro que diante de uma doença nova, muitas adaptações precisaram ser feitas", citou.
Hospital da Solidariedade
Lúcia Ortiz falou sobre a desativação do Hospital da Solidariedade, ocasionada pelo número muito baixo de pacientes necessitando de internação pela Covid-19, e também a vacinação e o alto custo de manutenção da unidade. "Desde a semana passada começamos a dar um descanso para o Hospital de Campanha, que está em stand-by. Sem dúvida nenhuma, nunca podemos deixar de reconhecer o impacto e o significado que o Hospital da Solidariedade teve. Agora ele está em seu merecido descanso, mas a cidade teve uma desmobilização dos leitos, tanto privados quanto do SUS, nos outros hospitais fixos", avaliou.
Segundo ela, a redução de casos também ocasionou uma reorganização nos serviços de assistência à Covid-19. "Mantivemos a equipe de Vigilância Epidemiológica fazendo monitoramento dos casos e algumas equipes nas unidades básicas fazendo atendimento de casa em casa dos pacientes positivados, e mantivemos ainda a UPA da Vila Xavier como polo de atendimento à Covid, onde além da consulta, as pessoas têm acesso ao teste. Na unidade do Melhado, também fizemos uma reorganização. No fundo, onde já foi a Ala Covid, já tínhamos adaptado anteriormente. Ali nós montamos dez leitos de enfermaria e cinco de UTI, não só para Araraquara como para a região, que acreditamos ser suficiente para a fase que nós estamos", articulou.
Ela também afirmou que caso a doença retorne com força, a cidade está preparada para um novo enfrentamento. "Se alguma coisa acontecer, estaremos preparados, embora nenhum de nós queira. Acreditamos que a nossa cobertura vacinal vai garantir o controle da doença e que a população vai continuar nos apoiando nas medidas de prevenção. Tudo isso será suficiente para passarmos com segurança", alegou.
Fungota hoje
Lúcia Ortiz fez também um panorama sobre o atual cenário da Saúde em Araraquara. "Parece que as coisas hoje estão querendo voltar ao normal. A Fungota hoje mantém a maternidade e as adaptações que fizemos para Covid-19 estão mantidas. Mas estamos começando uma diminuição de atendimento Covid para ampliar alguns atendimentos que estavam represados. Na maternidade, nossa atenção se volta principalmente para as cirurgias eletivas na área de ginecologia e na área de pediatria. A unidade do Melhado está com 15 leitos de Covid no fundo, que chamamos de Ala C. Na frente, o Hospital do Melhado está com 20 leitos de clínicas médica e cirúrgica, apoiando as UPAS. Essa unidade também já está com um tomógrafo que está funcionando e assim estamos garantindo um suporte, visto que o movimento das UPAs aumentou demais", mencionou.
Ela disse ainda que a UPA da Vila Xavier continua como unidade de primeiro atendimento da Covid. "Estamos tentando organizar o serviço para isso e, na medida do possível, diminuindo o serviço e aumentando o atendimento geral. E estamos com as duas UPAs, Valle Verde e Central, preparando para o final do ano, quando tem o recesso, vários serviços fecham e a população só vai poder contar com a UPA. Então ela vai ter que estar preparada para esse aumento de demanda", analisou.
Desafios para 2022
A diretora executiva da Fungota relatou que espera 2022 com muita ansiedade. "Mesmo se vencermos a Covid, ela continuará conosco. No nosso aprendizado, estamos percebendo que muitos pacientes que venceram a Covid, que saíram do nosso hospital, estão com algumas sequelas que vão necessitar de muito atendimento médico, além de fisioterapeutas, nutricionistas e outras especialidades. Então vamos ter uma demanda que nunca tivemos, que é sequência das sequelas da covid", justificou.
Outra questão pontuada por Lúcia é o fato de que em 2020 e 2021 muitas pessoas, com medo, deixavam de procurar os serviços de saúde, que estavam com alta demanda de pacientes acometidos pelo coronavírus. "Muita gente, principalmente portadores de doenças crônicas, deixaram de fazer verificação para ver se estava tudo certo, e outras pessoas que não sabiam que o tinham não foram procurar os serviços para fazer diagnóstico por medo. Por consequência disso, o nosso grande desafio será o número de pacientes. Vamos enfrentar uma outra pandemia, que é a pandemia das outras doenças", considerou.
Para isso, a cidade precisará se reorganizar para suprir esse serviço. "A maternidade Gota de Leite está lá, mas está tentando ampliar sua área de atuação. Temos a ampliação do centro cirúrgico e vamos preparar a unidade para esse aumento de demanda. Quanto ao Hospital de Campanha, esperamos seriamente que vamos desativá-lo. Sobre a UPA da Vila Xavier, nós acreditamos que logo no começo do ano vamos conseguir fazê-la ser uma UPA e voltar ao atendimento normal. As três UPAs estão com atendimento muito grande. Estamos levantando esses números e talvez tenhamos que preparar essa porta de entrada para uma ampliação", explicou.
Lúcia, no entanto, revela que a grande expectativa é com a unidade do Melhado, que terá grande relevância nesse novo momento. "Hoje a unidade está com 20 leitos e vai manter esses 20 leitos, mas as especialidades e os atendimentos que ela prestava serão ampliados. Ela vai ter não só leitos clínicos como leitos cirúrgicos também. Já temos o tomógrafo e vamos abrir serviços de imagem, vamos passar a fazer exames que estão represados como endoscopia, colonoscopia, ultrassom, raio-x, eletrocardiograma, e teremos um laboratório grande de análises clínicas para agilizar os resultados dos exames. Então essa unidade terá alta e média complexidade e vai diminuir muito o sofrimento das pessoas que ficam esperando para ter vaga no hospital. Será um grande apoio para agilizar o atendimento, tanto da UPA quanto do nosso hospital SUS, que é a Santa Casa", concluiu.