80% das crianças brasileiras comem ultraprocessados; veja alternativas

 




Pelo menos 80% das crianças brasileiras entre 5 e 11 anos consomem ou já consumiram alimentos ultraprocessados. É o que revelou o inédito ENANI-2019 (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil), divulgado neste mês pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O alto índice de ingestão de ultraprocessados é agravado pelo baixo consumo de frutas e hortaliças. “No dia anterior à realização da entrevista com as famílias, 22,2% dos bebês de 6 meses a 2 anos e 27,4% das crianças de 2 a 5 anos não haviam consumido nem frutas nem hortaliças. A situação é mais preocupante na região Norte, onde, na véspera da entrevista, um terço (29,4%) dos bebês de até 2 anos não havia comido nem frutas nem hortaliças e a maioria deles (84,5%) tinha consumido ultraprocessados”, alerta Giberto Kac, pesquisador responsável pelo estudo.

Entre os alimentos da lista dos chamados ultraprocessados, estão biscoitos industrializados, farinhas instantâneas, refrigerantes e sucos açucarados. A nutricionista Julia Carricondo propõe cinco opções para que as famílias substituam esse tipo de alimento para crianças. Veja:

O que são alimentos ultraprocessados

Os alimentos ultraprocessados mais famosos são os biscoitos, as farinhas instantâneas (para fazer mingau para crianças) e os iogurtes industrializados.

Os ultraprocessados são alimentos que passaram por diversos processos de industrialização, geralmente com a adição de diversos ingredientes à mistura, como sal, açúcar, óleo, gordura, extratos e substâncias sintetizadas em laboratórios, como corantes e aromatizantes. “Esse termo veio de uma classificação brasileira, do professor Carlos Augusto Monteiro. Esses alimentos sofreram um alto grau de industrialização. Por exemplo, em vez de leite, têm soro de leite. Em vez de carne, têm extrato de carne”, explica a nutricionista Elisa Lacerda, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ.

“Por exemplo: existe a fruta natural e o néctar de fruta, que é a maioria dos sucos de caixinha. Nele, que é um ultraprocessado, temos os produtos que vão dar o cheiro da goiaba, o gosto da goiaba, o aroma da goiaba. São considerados inclusive formulações industriais e não alimentos propriamente ditos”, afirma.

Malefícios dos ultraprocessados

Segundo a pesquisadora Elisa Lacerda, são vários os malefícios do consumo de ultraprocessados, especialmente por crianças e adolescentes. “São centenas de estudos que mostram que esses alimentos causam obesidade, hipertensão, doença cardiovascular, doenças gastrointestinais, entre outras. Para crianças, os estudos estão crescendo agora, mas alguns já mostram que elas têm mais chance de dislipidemias — alterações no colesterol no sangue, aumento nos triglicerídeos no sangue, por exemplo. Isso tem a ver futuramente com doenças cardiovasculares”, destaca.

Além disso, componentes desses alimentos podem fazer mal ao sistema digestivo dos menores. Os alimentos ultraprocessados têm aditivos de vários tipos, como corantes, aromatizantes e conservantes. “Inclusive materiais que estão em embalagens podem passar para os alimentos e, portanto, a criança acabar consumindo esse material”, diz a pesquisadora.

Quem consome esses alimentos desde a infância, portanto, tem mais riscos de desenvolver doenças digestivas e cardiovasculares. “Também cabe destacar que esses alimentos têm qualidade pior do que os alimentos não processados. Comparando com os alimentos in natura, eles têm menos nutrientes, vitaminas e mineirais e mais quantidade de calorias, mais gordura saturada — que tem relação direta com doenças cardiovasculares — e mais açúcar e sódio. Todos esses produtos relacionados a doenças vasculares e hipertensão”, ressalta.

Por que as crianças consomem?

Os produtos ultraprocessados, atualmente, são mais acessíveis às famílias do que os alimentos naturais. Eles podem ser encontrados em qualquer mercado. Além disso, duram mais tempo estocados – ao contrário de frutas, verduras e legumes, que precisam de melhor condicionamento porque estragam mais rápido. Mas a desinformação dos responsáveis pelas crianças também é um dos fatores que impulsionam esses alimentos.

“Uma das mais importantes razões para o consumo de ultraprocessados é a desinformação das famílias. Às vezes, elas não sabem que faz mal. Dependendo do produto, até profissional indica. A indústria lançou, por exemplo, o composto lácteo para concorrer com o leite. O marketing das indústrias é muito forte, principalmente agora nas redes sociais e indicando o que dar para o filho”.

Outro fator é o custo. Os ultraprocessados são geralmente mais baratos que o de alimentos naturais. “É mais barato comprar um pacote de biscoito, às vezes, do que um legume”, afirma a nutricionista Elisa Lacerda.

A pesquisa

Para a realização do ENANI-2019 (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil), foram entrevistados pais, mães ou responsáveis por mais de 14.500 crianças. A pesquisa visitou 123 municípios dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal.

“O dado que a gente tem é que, principalmente entre 6 meses e 2 anos de idade, há uma prevalência de 86% do consumo de ultraprocessados. Isso significa que a criança comeu pelo menos um tipo de ultraprocessado no dia anterior à da realização da pesquisa. Essa prevalência foi maior na região Norte. Por enquanto, não sabemos o motivo, mas isso significa que a alimentação é mais deficiente, já que as crianças que comem ultraprocessados acabam ingerindo menos nutrientes”, conta a pesquisadora.

Fonte:R7