Casos de sarampo podem aumentar com queda na procura por vacina








O Brasil perdeu, em 2019, o certificado de "país livre do vírus do sarampo", concedido pela Organização Pan-americana da Saúde (Opas). Atualmente, o País registra casos da doença em alguns estados e a baixa procura pela vacina pode ser uma das causas desse cenário


O sarampo é uma doença viral grave, que pode ser fatal. De acordo com Haroldo Teofilo de Carvalho, pediatra do Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (HU-UFSCar/Ebserh/MEC), a transmissão do vírus ocorre quando a criança, o adulto e até mesmo o idoso contaminados tossem, falam, espirram ou respiram próximo de outras pessoas.   

Os sintomas aparecem entre 10 e 14 dias após a exposição ao vírus e comprometem vários órgãos, podendo causar dores pelo corpo, mal-estar, redução do apetite, tosse, coriza, vermelhidão nos olhos com sensibilidade à luz, dor de garganta, febre e irritação na pele com manchas vermelhas, conhecida como exantema. A transmissão pode ocorrer entre quatro dias antes e quatro dias após o aparecimento das manchas vermelhas pelo corpo. 


Por se tratar de uma doença grave, o pediatra do HU explica que o sarampo pode deixar sequelas por toda a vida e até causar o óbito. "Dentre as principais complicações, destacamos a pneumonia - infecção dos pulmões pelo mesmo vírus causador do sarampo -, otite, encefalite e, em gestantes, pode causar o parto prematuro e até óbito fetal", alerta.  


Haroldo de Carvalho aponta que não existe tratamento específico para o sarampo e que os medicamentos são utilizados para reduzir o desconforto ocasionado pelos sintomas da doença, conforme indicação médica para cada caso. A principal recomendação do pediatra é a vacinação adequada.


Casos da doença e vacinação

De acordo com o Boletim Epidemiológico, elaborado em julho deste ano pelo Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que diferentes países em todas as regiões do mundo reportaram 24.840 casos de sarampo em 2021. Nas Américas, a Opas relata que foram registrados 481 casos de sarampo em dois países (Brasil e EUA), sendo que no Brasil foram 479 casos, em três estados (Amapá, Pará e São Paulo). De acordo com o Boletim, no estado de São Paulo foram seis casos, sem ocorrência de óbitos.    


Mesmo com uma vacina segura e eficaz, o sarampo continua a ser uma das principais causas de morte entre crianças pequenas no mundo. Em 2019, o Brasil viveu um surto de sarampo com quase 21 mil casos da doença, o que resultou na perda do certificado emitido pela Opas. Especialistas acreditam que a queda na busca por vacinação contra a doença pode ter ocasionado esse aumento de casos. De acordo com o Instituto Bio-Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que disponibiliza a vacina tríplice viral ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil, no ano em que houve o surto foram entregues 35 milhões de doses no País, mas, apesar da alta cobertura vacinal, ainda há "bolsões" de pessoas não vacinadas.   

De acordo com o Ministério da Saúde, a incidência da doença é reduzida nos países que conseguem manter altos níveis de cobertura vacinal, acima de 95%. Por isso, a Opas recomenda aos países das Américas que mantenham a cobertura vacinal da população-alvo e fortaleçam a vigilância epidemiológica, a fim de aumentar a imunidade da população e detectar rapidamente casos suspeitos de sarampo.  

O pediatra do HU explica que as pessoas que já tomaram as duas doses da vacina contra o sarampo não precisam se imunizar novamente. "Agora, o público entre 1 e 29 anos que recebeu apenas uma dose deve completar o esquema vacinal com a segunda dose da vacina. Se a pessoa nunca tomou nenhuma dose, não se recorda ou perdeu o seu cartão, serão necessárias duas doses para os menores de 29 anos, e uma dose para aqueles que têm 30 anos ou mais", recomenda Haroldo de Carvalho. Ele destaca que a vacina só é contraindicada durante a gestação, mas recomendada para mulheres que pretendem engravidar.   


A vacina contra o sarampo é ofertada em toda a rede pública de saúde no Brasil e também em clínicas particulares.