Infectologista da Santa Casa afirma que aumento de casos indica que Ômicron já circula em São Carlos




A nova variante do SARS-CoV-2, a Ômicron (detectada inicialmente na África do Sul), responsável pela pandemia da Covid-19, que devasta a Europa e EUA e faz estragos no sistema de saúde brasileiro, já está em São Carlos. O aumento significativo de casos é um forte indício da presença da nova cepa, segundo o médico infectologista e vice-diretor técnico da Santa Casa de São Carlos, Roberto Muniz Júnior.


Em uma entrevista ao São Carlos Agora, admitiu que o aumento exponencial dos casos da infecção nos últimos dias está ligado a esta nova cepa. Ele não prevê um aumento no número de mortes, porém acredita no aumento de casos na cidade.


Salientou, entretanto, que a instituição vem reforçando seu quadro de profissionais ligados à área da saúde e, caso seja necessário, está preparada para aumentar o atendimento.


Segundo ele, porém, para evitar notícias que possam entristecer a sociedade, reforçou que a vacinação em massa é fundamental e lamentou o número de faltosos excessivos para a segunda dose e reforço.


Garantiu ainda que notícias desagradáveis sobre a pandemia podem ser evitadas se a população adotar fielmente os protocolos de segurança já definidos pelas autoridades sanitárias.


Abaixo, a entrevista concedida pelo médico infectologista e vice-diretor da Santa Casa, Roberto Muniz Jr.:


São Carlos Agora - Com a reabertura do centro de triagem no ginásio municipal de esportes Milton Olaio Filho e constatada que, em 8h, após 442 testes para detectar a Covid-19, 150 deram positivos (34%), qual a análise que faz sobre a pandemia em São Carlos?


Roberto Muniz - Este é um forte indicio de que a nova cepa denominada Ômicron já circula na cidade. A cepa já foi identificada nas cidades vizinhas e a explosão de casos praticamente confirma isso. A nova cepa tem capacidade de infectividade maior que todas as outras cepas até o momento.


SCA - Diante de tais números, pode-se afirmar que existe a possibilidade de uma terceira onda na cidade?


Muniz - Pode-se afirmar que uma terceira ou quarta onda, dependendo do ponto de vista, já começou em nossa região e na nossa cidade.


SCA - Partindo deste princípio, qual a postura da direção da Santa Casa? Irá oferecer novos leitos para a população? Enfermaria e UTI Covid?


Muniz - A Santa Casa trabalha de forma muito próxima à Secretaria Municipal de Saúde e à Diretoria Regional de Saúde – DRSIII, no intuito de colaborar com os esforços não só para a Covid, como também para o enfrentamento de outras doenças. A Santa Casa de São Carlos foi a primeira unidade de saúde a criar leitos para a Covid no início da pandemia, foi quem criou mais leitos e a última que permanece com unidade dedicada. Há um plano de trabalho para aumento de leitos, caso necessário.


SCA - Os profissionais da saúde que trabalham na instituição já foram colocados em alerta? Haverá um ‘reforço’ de colaboradores?


Muniz - Estamos no momento da construção do plano de remobilização. Já iniciamos processo emergencial de contratação de profissionais de enfermagem. E toda a instituição permanece em alerta para outras mobilizações necessárias.


SCA - Informações iniciais dão conta que o responsável pelo aumento de casos seria a variante Ômicron. Diz que ela não é letal, porém agressiva. Compartilha desta ideia? Por que?


Muniz - Como falado anteriormente, sim, compartilho da ideia de que o que estamos observando é a entrada da cepa Ômicron na cidade. Já havia sido identificada em Porto Ferreira e em outras cidades próximas. Devido às suas características de infectividade, o comportamento epidemiológico atual aponta nessa direção.


Em relação à sua letalidade, as observações inicias mostram que podemos esperar 70% menos hospitalizações, porém isso em condições ideais de vacinação.


SCA - Os casos não sendo graves, devido ao avanço da imunização. Pode colapsar o sistema de saúde na Santa Casa?


Muniz - Não podemos excluir o colapso como possibilidade, visto as lições que aprendemos no passado. Ainda assim, trabalhamos diuturnamente para evitá-lo


SCA - Mesmo assim, o senhor prevê aumento das mortes? Pode ocorrer novas restrições? Existe a possibilidade das atividades econômicas encerrarem atividades por um período? O senhor compartilha desta hipótese? Por que?


Muniz - Nós não prevemos, inicialmente, aumento de óbitos. Porém, reforço que essa previsão baseia-se numa situação ideal de vacinação, o que não ocorre. Há muitos faltosos para dose de reforço e 2ª dose. Seria importante todos procurarem atualizar suas vacinações nesse momento. Não há indicativo ainda que uma nova restrição tão importante de atividades esteja nos planos. A despeito disso, já vemos o cancelamento do carnaval de rua e eventos de maior porte.


Minha opinião é que as aglomerações devem continuar sendo evitadas, visto que esta cepa tem grande capacidade de disseminação.


SCA - Além da Covid-19, há o aumento de casos da Influenza e, em casos mais graves, da Fluorona. Como se preparar adequadamente para que isso possa ser evitado?


Muniz - Manter a vacinação em dia, manter as medidas higiênicas adequadas para as ocasiões, como uso de máscara e lavagem mãos. Evitar aglomerações também é uma medida salutar neste momento.


SCA - Em uma opinião pessoal, acredita que houve relaxamento demais devido à queda de casos da infecção nos últimos meses.


Muniz - Não acredito que houve relaxamento demais. Após dois anos de pandemia, acredito que com o arrefecimento que vimos, o relaxamento estava em ordem e os casos somente aumentaram devido a uma nova cepa deste vírus.


SCA - Considerações finais:


Muniz - Doenças respiratórias transmissíveis não são uma novidade. O coronavírus é somente mais um capítulo numa extensa história de pandemias passadas e doenças endêmicas, como o resfriado comum. Influenza (a gripe) também tem história semelhante no nosso passado remoto e recente, e tornou-se uma doença com a qual convivemos.


O mais importante agora é ouvir a ciência e os cientistas sérios, vacinar todos o mais rápido possível. Vacinas são, após a água potável, o maior ganho em saúde pública da humanidade. É um disparate que alguém ainda questione o bem que a vacina proporciona. E não estamos falando apenas em relação ao coronavírus, mas em relação a todos os imunizantes.


Dito isto, agora é hora de vacinar nossas crianças. Crianças funcionam como carreadores de doenças entre as casas, atingindo os adultos e, principalmente, os idosos. A história de sucesso com vacinação de crianças é clara. Vacina para Haemophilus B e Meningococco estão aí para provar a drástica redução dessas doenças em crianças e em adultos.


O país tem um legado com o Programa Nacional de Imunização (PNI) que é inegável. Vacina é a solução!