O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes deu dez dias ao diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes, para se manifestar sobre a exigência de aval da Justiça em trocas de diretores da corporação.
O despacho de Moraes atende a um pedido feito no âmbito do inquérito sobre a suposta tentativa de interferência do presidente Jair Bolsonaro (PL) na PF, que foi aberto após denúncia do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.
Ao deixar o cargo, em abril de 2020, Moro afirmou que o presidente havia dito em uma reunião, no mesmo mês, que interferiria na superintendência da corporação no Rio de Janeiro. O ato, de acordo com as acusações, ocorreria para que o chefe do Executivo protegesse amigos e parentes no estado.
O pedido do senador é que a exigência de aval da Justiça para trocas de diretores de áreas estratégicas da PF vigore, pelo menos, até a conclusão dos inquéritos atualmente em curso que envolvem pessoas com foro privilegiado.
Ao fazer a denúncia contra Bolsonaro, Sergio Moro citou uma reunião no Palácio do Planalto em 22 de abril de 2020. Na ocasião, o que chamou a atenção de Moro foi a frase "vou interferir", dita por Bolsonaro. Em depoimento dado no ano passado por ordem de Moraes, Bolsonaro alegou que em nenhum momento citou interferência nos trabalhos de investigação.
À época, o R7 teve acesso à íntegra do depoimento. Bolsonaro disse que indicou pessoalmente a Sergio Moro o nome de Alexandre Ramagem para diretor-geral da corporação. Segundo o presidente, ele recomendou a troca no comando da PF por suspeitar de vazamentos para veículos de imprensa de informações sigilosas de investigações em andamento.
Bolsonaro afirmou que Moro concordou com a troca, mas impôs uma condição. O ex-ministro teria aceitado a promoção de Ramagem ao cargo máximo da corporação desde que ele fosse indicado para uma vaga no STF.
Em relatório enviado no fim de março ao STF, a Polícia Federal afirmou que não houve interferência de Bolsonaro na corporação. Segundo a PF, as testemunhas ouvidas disseram que não receberam orientação para interferir em investigações conduzidas na corporação nem para exercer influência sobre elas.
A Procuradoria-Geral da República, ao abrir a investigação, afirmou que Moro poderia ter cometido o crime de denunciação caluniosa, caso as acusações não se confirmassem. No entanto, para a Polícia Federal, o ex-ministro também não cometeu crime. Segundo a PF, o que se apurou é que, quando expôs os fatos, Moro teve como intenção "esclarecer as circunstâncias de sua saída e preservar [a] autonomia da Polícia Federal", pois, no seu entendimento, as trocas de comando "sem uma causa apontada e portanto arbitrárias configurariam interferência política no órgão".
Fonte>R7