A Ucrânia afirmou neste sábado (2) que as tropas russas se "retiram rapidamente" do norte do país, enquanto no sul do país a Cruz Vermelha se prepara para tentar retirar civis de Mariupol, cidade cercada por Moscou, após uma série de bombardeios em várias regiões.
Depois de cinco semanas da campanha militar ordenada em 24 de fevereiro por Vladimir Putin, que deixou algumas áreas da Ucrânia em ruínas, a Rússia anunciou nos últimos dias que reduziria os ataques contra Kiev e a cidade de Chernihiv (norte).
Neste sábado, o conselheiro presidencial ucraniano Mikhaylo Podoliak confirmou que uma "rápida retirada" russa é observada nas regiões.
"Com a rápida retirada dos russos de Kiev e Chernihiv (...) está bastante claro quei a Rússia escolheu outra tática prioritária: retirar-se para o leste e sul, manter o controle de vastos territórios ocupados e conquistar um poderoso ponto de apoio na região", escreveu Podoliak no Telegram, ao retomar a advertência do presidente Volodimir Zelenski sobre uma reorganização das forças russas.
O governador da região de Chernihiv, Viacheslav Chaus, informou que a cidade de mesmo nome, devastada pelos combates nas últimas semanas, não sofreu novos ataques na madrugada de sábado.
"Os russos se retiram da região de Chernihiv", afirmou.
O horror da guerra, no entanto, não para na capital. O fotógrafo e documentarista ucraniano Maks Levin foi encontrado morto nas proximidades de Kiev, depois de ser considerado desaparecido por mais de duas semanas.
"Ele desapareceu na zona de hostilidades em 13 de março, na região de Kiev. Em 1º de abril, o corpo foi encontrado perto da localidade de Gouta Mezhyguirska", afirmou o secretário do gabinete presidencial, Andrey Yrmak.
Além de recuperar o controle ao redor de Kiev, as tropas ucranianas avançavam na região de Kherson, sul do país, a única cidade grande que a Rússia conseguiu ocupar desde 24 de fevereiro.
"Certamente não podemos evitar usar armas pesadas se queremos liberar o leste e Kherson e empurrar os russos para o mais longe possível", destacou Podoliak.
A situação é diferente no porto estratégico de Mariupol, no Mar de Azov, sul do país, que está cercado e onde as condições humanitárias são catastróficas.
Mariupol suportou semanas de bombardeios russos intensos, com pelo menos 5.000 habitantes mortos, de acordo com as autoridades locais, e as 160.000 pessoas que permanecem na cidade sofrem com a falta de alimentos, água e energia elétrica.
"Conseguimos resgatar 6.266 pessoas, incluindo 3.071 de Mariupol", declarou o presidente Zelenski em uma mensagem de vídeo neste sábado.
A vice-primeira-ministra Iryna Vereshchuk informou na sexta-feira (1º) que 42 ônibus com oradores de Mariupol saíram de Berdiansk, 70 km ao sudeste, e outros 12 partiram de Melitopol com moradores da cidade.
Dezenas de ônibus com ucranianos que fugiram da destruição em Mariupol chegaram na sexta-feira a Zaporizhzhia, 200 km ao noroeste.
"Choramos quando chegamos a esta área. Choramos quando vimos os soldados no posto de controle com bandeiras ucranianos em seus braços", disse Olena, que carregava a pequena filha no colo.
"Minha casa foi destruída, eu vi em fotos. Nossa cidade não existe mais", acrescentou.
A Cruz Vermelha Internacional anunciou que pretende fazer outro esforço de retirada de civis em Mariupol, após uma tentativa frustrada na sexta-feira "quando as condições tornaram impossível proceder", segundo a organização.
A ONU informou que mais de 4,1 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde a invasão russa.
Neste sábado, durante uma visita a Malta, o papa Francisco pediu "respostas amplas e compartilhadas à crescente emergência migratória".
"A expansão da emergência migratória - pensemos nos refugiados da martirizada Ucrânia - exige respostas amplas e compartilhadas. Não podem deixar que apenas alguns países suportem todo o problema, enquanto outros permanecem indiferentes", declarou o papa em um discurso no palácio presidencial de Valeta.
As negociações de paz entre as autoridades ucranianas e russas continuaram na sexta-feira por videoconferência, mas o Kremlin advertiu que um ataque ucraniano com helicóptero contra um depósito de combustível na cidade russa de Belgorod afetaria as conversações.
"Isso não pode ser visto como algo que cria condições apropriadas para a continuidade das negociações", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O ataque aéreo atingiu um depósito de combustível do grupo de energia Rosneft a 40 km da fronteira ucraniana.
Kiev se negou a assumir a autoria do ataque. Entrevistado pelo canal americano Fox News sobre a acusação russa, Zelensky disse: "Desculpe, não discuto nenhuma de minhas ordens como comandante em chefe".
O presidente ucraniano voltou a insistir no apelo para que o Ocidente forneça mais apoio militar ao país.
O Pentágono anunciou que destinará 300 milhões de dólares em "ajuda de segurança" para fortalecer a defesa da Ucrânia, além dos US$ 1,6 bilhão que Washington já ofereceu desde o início da invasão russa.
O pacote inclui sistemas de foguetes guiados a laser, drones, munições, aparelhos de visão noturna, sistemas de comunicação tática, equipamentos médicos e peças de reposição.
A Rússia enfrenta sanções ocidentais sem precedentes que levaram empresas multinacionais a abandonar o país. As autoridades americanas afirmaram que a economia russa deve enfrentar uma contração de 10%.
A China, grande aliada comercial da Rússia, negou que evite "deliberadamente" as sanções ocidentais contra Moscou, um dia depois de receber uma advertência da UE de que qualquer apoio de Pequim ao Kremlin prejudicaria as relações econômicas com a Europa.
A economia ucraniana também sofre os efeitos devastadores da guerra: o PIB desabou 16% no primeiro trimestre na comparação com o quarto trimestre de 2021, segundo estimativas do ministério da Economia.
Fonte:R7