Baixas temperaturas aumentam o risco de doenças cardiovasculares e a incidência de infartos

 




As baixas temperaturas, que atingem, em média, 14ºC, obrigam o organismo humano a se adaptar ao frio e comprimir as artérias, condição que aumenta a probabilidade de uma série de doenças cardiovasculares.

Como o próprio nome já diz, essas doenças atingem o coração e os vasos sanguíneos, geralmente pelo mesmo motivo.

“São as doenças que acometem, prioritariamente, as artérias coronárias – que levam sangue ao músculo cardíaco – e, quando ficam doentes, com aterosclerose, podem afetar as artérias carótidas (levam sangue ao cérebro) e causar acidente vascular cerebral, por falta de irrigação”, informa o cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Coronariopatias Crônicas do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas), Luiz Antonio Machado César.

E acrescenta: "a mesma coisa pode acontecer na aorta, que é o vaso que sai do coração esquerdo e leva sangue através dos seus vários ramos e artérias para o corpo inteiro, além dos vasos dos membros inferiores.”

A vasoconstrição, como é conhecida, é uma contração intensa dos vasos sanguíneos, feita para manter a pressão nos órgãos essenciais, regular o fluxo e impedir que o corpo perca calor. Entretanto, esta diminuição de circulação pode causar insuficiência em outros órgãos e desencadear diversos problemas.

“Se as extremidades tiverem um processo de falta de sangue durante a vasoconstrição [o quadro] se torna pior e o paciente pode ter uma necrose de dedos”, aponta o cirurgião vascular e membro do Conselho Superior da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular - Regional São Paulo, Calogero Presti.

Além deste caso, as pessoas que já convivem com uma doença que afeta o coração ou os vasos sanguíneos correm maior risco de infartar.

"Os pacientes que já têm, por exemplo, uma doença coronariana de base, têm uma maior chance, no frio, de infartar, [por conta do] estímulo reflexo de vasoconstrição. E há uma mortalidade maior por infarto do miocárdio no inverno”, alerta Presti.

Segundo dados do INC (Instituto Nacional de Cardiologia), o inverno pode aumentar em 30% o risco de infarto. A alta é dada porque essa constrição em uma artéria doente pode romper uma placa, obstruir a veia e impedir o fluxo de sangue.

Além do mais, durante as baixas temperaturas, segundo o cardiologista, o fígado produz mais proteínas que favorecem a coagulação do sangue, também facilitando a obstrução. 

Sintomas

De acordo com Presti, um dos primeiros sinais de que o paciente está com, por exemplo, uma obstrução arterial de membros inferiores, são os dedos pálidos e arroxeados. Além disso, há um resfriamento intenso e dor nas extremidades, em conjunto a alterações de sensibilidade.

“Palidez, arroxeamento dos dedos e dor. Existe a dor ao caminhar, chamada de claudicação intermitente, que também pode ser intensificada no inverno”, informa o cirurgião.

O diretor do Incor também alega que os sintomas podem ser confundidos com o de outras doenças, mas não devem ser ignorados, principalmente no frio. 

"Esse talvez seja o maior problema com essas doenças. O indivíduo pode ter pressão alta, hipertensão arterial, e não saber ou sentir nada, eventualmente tem umas dores de cabeça, mas passa desapercebido. Quando chega no inverno ele, de repente, pode ter um infarto sem nunca ter tido nada", alerta Machado. 

A porcentagem de pessoas já diagnosticadas com doenças cardiovasculares deve se informar detalhadamente acerca dos sintomas de um possível infarto ou isquemia cerebral, por exemplo. De acordo com o cardiologista, dois deles são a dor no peito e a falta de ar.

Grupos de risco

Os grupos mais propensos a desenvolverem complicações que devem redobrar a atenção nos períodos mais frios são os idosos, hipertensos, diabéticos e pacientes que já possuem uma doença coronariana diagnosticada ou assintomática.

A faixa etária que mais sofre com a possibilidade de um infarto durante o inverno são as pessoas com mais de 60 anos.

Além deles, fumantes, indivíduos acima do peso – a obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento de pressão alta – e que consomem álcool em níveis elevados devem ficar atentos. 

"Pessoas com mais idade têm mais chances de ter doença cardiovascular, de estar com a pressão alta e, ao longo da vida, pode começar a ter o colesterol mais alto. Se ele não pratica atividade física é mais um motivo, a obesidade é outro e se você juntar pessoas com mais de 65 anos com esse perfil, estão em maior risco [ainda] de ter a doença, mesmo que nunca tenham tido nada", alega o cardiologista. 

Prevenção

Uma das principais prevenções é a proteção contra o frio, por meio de agasalhos, luvas, gorro, cachecol e meias de lã. Nenhuma parte do corpo deve ficar exposta, principalmente, se o paciente for do grupo de risco. Estas atitudes devem ser repetidas dentro e fora de casa. 

"Nossas casas, no Brasil, não têm aquecimento central, são frias. Então, a pessoa realmente tem que ficar agasalhada dentro de casa, [porque] não tem como parar de respirar, ou seja, ela vai inalar ar frio e isso também serve como estímulo para os vasos contraírem", disse Machado. 

O especialista também adverte que é essencial não deixar de caminhar e comer de forma mais saudável, evitando, principalmente, alimentos com muita gordura. 

Presti acrescenta que os indivíduos devem beber água, pois nestes períodos o corpo perde mais líquido e a desidratação pode piorar os quadros. Os exames de rotina também devem ser feitos para analisar, detalhadamente, os níveis de colesterol no sangue e controlar a pressão sanguínea. 

“Manter-se ativo, proteger-se muito bem do frio, manter bem hidratado, bem alimentado, isso é muito importante”, aconselhou Presti.

Além do mais, a vacinação contra as infecções pulmonares, como influenza e Covid-19, é essencial para evitar o agravamento ou mortalidade por essas doenças no inverno.

fonte:r7