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Zilda Mayo: “Eu tenho uma história pra contar”

Ousada, talvez seja este o adjetivo que melhor identifique a atriz Zilda Mayo, nome de batismo Zilda Sedenho. Araraquarense, filha de família tradicional da cidade, ela largou tudo e, aos 17 anos, foi enfrentar o mundo selvagem da Capital em busca de um sonho.
Linda e de um olhar ingênuo – talvez esteja aí o segredo tão seu que despertou o fetiche no universo masculino – sua ascensão veio pouco tempo depois e ela se tornou uma das atrizes mais populares da Década de 70 do cinema brasileiro, em especial, da pornochanchada.
“Eu não tinha noção do que estava acontecendo naquele momento. Vi minha foto estampada na lateral inteira de um prédio ao lado do Cine Marabá, na Avenida Ipiranga, no dia do lançamento do meu primeiro filme ‘Possuídas pelo Pecado’. Filas davam volta no quarteirão”, relembra a atriz que interpretara a personagem Jussara. No longa-metragem do diretor Jean Garret, ela foi apresentada para o papel por David Cardoso.
Esta é uma pequena passagem dentre muitas que Zilda irá contar em seu livro “Zilda Mayo para os íntimos”, do jornalista Luiz Augusto Zakaib, que está previsto para ser lançado em breve. Tudo foi minuciosamente escrito e pesquisado num trabalho que inclui, além de reportagens, entrevistas com profissionais com quem Zilda contracenou, diretores, amigos e um acervo de 300 fotos.
O livro irá retratar a vida da menina do interior, da adolescente cobiçada até a gloriosa carreira: ao todo, foram 42 filmes, dezenas de peças de teatro e centenas de capas de revistas.
A atriz, elogiada no meio artístico pelo seu comprometimento e profissionalismo, estava em todos os cantos do Brasil, despertando o imaginário masculino. Era um desejo puro e ingênuo de suas personagens travestidas de muita sensualidade e obsessão. Porém, “nunca fiz sexo explícito”, frisa sempre Zilda.
Mas, por traz deste mundo glamoroso do cinema, ela irá contar no livro várias histórias que despertam a curiosidade de cinéfilos e profissionais do meio. “As dificuldades de se fazer filmes eram muitas. Não podíamos errar na gravação para não perder o negativo que era muito caro. Lembro de uma passagem quando fui gravar um filme do diretor Osvaldo Oliveira (bebia uma pinga danada – cita) e numa determinada cena deitei em cima de um formigueiro, comecei a gritar e ele, sem saber o que estava acontecendo, ficou bravo comigo. Foi cômico e trágico”, sorri.
Zilda conheceu os bastidores do cinema como ninguém. São muitas histórias, principalmente da Boca do Lixo. Localizado na Rua do Triunfo, em São Paulo, foi o local onde mais se produziu filmes no Brasil na época, principalmente comédias eróticas, policiais, faroestes e outros gêneros.
O lugar foi o ponto de encontro de artistas, diretores, produtores e cenário de muitas gravações. Zilda relembra que durante a gravação do filme “O Rei da Boca” (1982), de Clery Cunha, e contracenando com Roberto Bonfim, as cenas aconteciam dentro de um hotel com prostitutas entrando e saindo dos quartos. “Eram gravações acontecendo dentro de um cenário real. Na maioria dos filmes não havia essas ‘superproduções’ que temos hoje”, conta a atriz.
Em outra passagem, ela revela que “em alguns trabalhos íamos para as locações de filmagens, às de vezes de Kombi, ficávamos dois, três meses. Éramos uma verdadeira família, havia muita união... mas, em algumas situações ficávamos muito expostos. Imagine gravar uma cena dentro de um rio, preocupada somente em gravar”.
Relação com os fãs
Além de ousada, Zilda Mayo foi perseverante em busca de seus sonhos, numa época em que os valores morais eram outros e o Brasil vivia um período político conturbado, principalmente para o meio artístico. Até hoje, ela carrega contigo a constante luta pelos seus sonhos. Nunca desistir, nunca perder a coragem, nunca perder as raízes e, principalmente, respeitar os fãs.
“O nosso fã é o que nos alimenta vivo. Todo artista necessita viver. Aonde vou encontro fãs, pessoas que contam inúmeras histórias. Muitos deles sabem mais da minha vida do que eu própria. Até hoje é assim. Em março deste ano, o casal de Ribeirão Preto, Gisele e Marcelo Gonçalves, passou uma tarde de domingo comigo. Ele conhecia todos os meus filmes, minhas falas. Foi incrível, inexplicável, foi muita emoção e uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida”, diz emocionada.
Estão aí os vários motivos do nome do seu livro: “Sim, ‘Zilda para os íntimos’ é porque o artista é íntimo para os fãs”, esclarece ela.
Mas, mais íntimo ainda é o respeito do público e o carisma da atriz. Após 40 anos de sua estreia no cinema eis o livro “Zilda para os...”, um retrato sem pudor da bela morena que rompeu com os valores de uma época se aventurando na cidade grande.
Em busca de um sonho, ela emergiu para o cinema brasileiro como um mito, um ícone que despertou desejos e sonhos. Zilda foi um olhar ingênuo, uma cobiça, um fetiche do público e... do próprio cinema!
texto e fotos: Jornal O Imparcial Araraquara