Falta de lítio agrava transtorno de pacientes bipolares na quarentena




O transtorno bipolar é um distúrbio psiquiátrico que leva o paciente a alternar períodos de depressão acentuada com outros de euforia extrema. Os especialistas chamam essas fases de hipomania e mania. Está entre os processos depressivos mais preocupantes. Entre 30% e 50% dos brasileiros com o problema tentam o suicídio ao menos uma vez na vida - e 20% deles atingem o objetivo.
Desde o final de 2019, um dos medicamentos mais testados e eficientes no combate ao transtorno bipolar, o carbonato de lítio, está em falta nas farmácias e serviços públicos de saúde de São Paulo e de regiões de todo o país.
Diante das preocupações e procedimentos surgidos com a pandemia de coronavírus, agravados pelo aumento geral de ansiedade em função do isolamento doméstico da quarentena, os brasileiros que necessitam de lítio estão encontrando sérias dificuldades para se tratar e manter a saúde mental.
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) classificou o problema no abastecimento de “calamitoso” e cobrou explicação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e de departamentos de controle e fiscalização de saúde. A situação é particularmente delicada porque o lítio ainda não pode ser substituído com eficiência em grande parte dos casos de transtorno bipolar, sobretudo aqueles em que as pulsões por suicídio são mais frequentes e intensas.
A ABP pede a normalização do fornecimento “sob pena de agravamento dos quadros psiquiátricos e do consequente aumento dos casos de suicídios no país e da busca por serviços de emergência, além da maior necessidade de internações no cenário atual de escassez de leitos”.

A Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) vem recebendo reclamações de todo o país desde janeiro. O primeiro formato a sumir foi o de carbonato de lítio ER 450 mg. Dias depois, a dosagem de 300 mg também desapareceu das prateleiras e estoques. Quase todos os integrantes de grupos presenciais da Abrata usam o medicamento.
Os questionamentos de pacientes e psiquiatras nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Centro de Apoio Psicossocial (Caps) se multiplicaram. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, o lítio 300 mg sumiu por causa de uma interrupção momentânea da matéria-prima pelos fabricantes. Um processo recente de compra emergencial aberto pelo município deu às empresas fornecedoras prazo para apresentar propostas até 10 de março. Por causa do tempo curto, as novas compras ainda não chegaram aos destinos.
Fabricantes finais alegam que a matéria-prima para a fabricação do remédio é oferecida por um único fabricante no Brasil. E que eles seriam proibidos de importar o componente de outros países.
A Anvisa notificou o fornecedor na primeira semana de março. A empresa informou que “por ser um produto de alta rotatividade, não existia naquele momento estoque disponível”. E acrescentou: “as ações operacionais para retomada da produção estavam avançadas para que o reabastecimento do mercado ocorresse até o final de março de 2020”.
Com uso difundido e custo relativamente baixo, o lítio é usado por pacientes de todas as classes sociais, de artistas e personalidades a pessoas de baixa renda. Tornou-se conhecido pelos brasileiros na década de 1980, após o deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988, morto em 12 de outubro de 1992, assumir publicamente o uso para combater suas crises de depressão.
Agora é esperar e cobrar dos laboratórios e autoridades para que o prazo seja cumprido e o carbonato de lítio volte às prateleiras e serviços de saúde nos próximos dias. O mais rápido possível.


Fonte:R7