CRIANÇA DE 10 ANOS É INTERNADA COM SÍNDROME APÓS PEGAR CORONAVÍRUS EM ARARAQUARA

 



Uma criança de apenas 10 foi internada na pediatria da Santa Casa de Araraquara após adquirir uma síndrome chamada Multissistêmica, e ela foi contraída após a criança pegar coronavírus.

Segundo apurado pela reportagem, a criança ficou internada na Gota de Leite, e nesta quinta-feira (01), foi transferida para a Santa Casa de Araraquara.



ENTENDA MELHOR DA SÍNDROME.

Síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica

A SIM-P ocorre em dias a semanas depois de uma infecção aguda pelo “severe acute respiratory syndrome coronavirus 2” (SARS-CoV-2). Suas manifestações clínicas são semelhantes à doença de Kawasaki, à síndrome de choque associada à síndrome de Kawasaki, à síndrome de ativação macrofágica e à síndrome de choque tóxico.

No entanto, apesar de muitos pacientes pediátricos com SIM-P apresentarem critérios para a síndrome de Kawasaki completa ou incompleta, o quadro ocorre, em geral, em crianças mais velhas, escolares e adolescentes, com a presença de marcadores inflamatórios mais exuberantes e importantes aumentos dos marcadores de lesão cardíaca.

Manifestações clínicas

A SIM-P envolve, pelo menos, dois órgãos e sistemas. Destacam-se as seguintes manifestações:

  1. Cardiovasculares: disfunção miocárdica, miocardite, pericardite, aneurismas coronarianos, hipotensão arterial e choque cardiogênico. Eletrocardiograma e ecocardiograma devem ser realizados de forma sistemática. A ressonância nuclear magnética cardíaca e a angiotomografia computadorizada cardíaca podem ser necessárias em casos graves com disfunções miocárdicas ou aneurismas coronarianos.
  2. Renais: doença renal aguda dialítica.
  3. Respiratórias: dispneia, taquipneia e hipoxemia.
  4. Hematológicas: trombose (localizada ou sistêmica), anemia, leucopenia, linfopenia, plaquetopenia e coagulopatia de consumo.
  5. Gastrointestinais: dor abdominal intensa, vômito e diarreia.
  6. Mucocutâneas: edema e fissura de lábios, língua em framboesa, eritema de orofaringe, conjuntivite, exantema polimórfico, vesículas e eritema pérnio.
  7. Neurológicas: cefaleia persistente, convulsão e psicose.
  8. Febre persistente.
  9. Pode evoluir para insuficiência respiratória aguda e síndrome da disfunção de múltiplos órgãos (em adultos está associada à síndrome da tempestade de citocinas).

Alterações laboratoriais

  1. Provas de atividade inflamatória aumentadas: proteína-C-reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS), procalcitonina e ferritina.
  2. Marcadores de coagulopatia aumentados: tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) e D-dímero elevados.
  3. Provas de função miocárdica aumentadas: troponina e N-terminal do peptídeo natriurético tipo B (NT-proBNP).
  4. Aumento de citocinas pró-inflamatórias, principalmente IL-1, IL-2, IL-6, IL-7, anti-TNF alfa e fator estimulador de colônias de granulócitos.

Diagnóstico

Através de critérios propostos pelo MS, baseados na definição de caso da OPAS/OMS e validados pela Sociedade Brasileira de Pediatria, Sociedade Brasileira de Reumatologia, Sociedade Brasileira de Cardiologia e Instituto Evandro Chagas:

Casos que foram hospitalizados com:

  1. Febre elevada (> 38°C) e persistente (≥ 3 dias) em pacientes com idade até 19 anos; +
  2. Pelo menos duas das seguintes manifestações clínicas: conjuntivite não purulenta ou lesão cutânea bilateral ou sinais de inflamação mucocutânea (oral, mãos ou pés), hipotensão arterial ou choque, manifestações de disfunção miocárdica, pericardite, valvulite ou alterações coronarianas (englobando achados no ecocardiograma ou aumento de Troponina ou NT-proBNP), indícios de coagulopatia (TP, TTPa ou D-dímero aumentados), manifestações gastrointestinais agudas (diarreia, vômito ou dor abdominal); +
  3. Aumento de marcadores inflamatórios (VHS, PCR ou procalcitonina, entre outros); +
  4. Tendo sido afastadas quaisquer outras causas de origem infecciosa e inflamatória (como sepse bacteriana, síndromes de choque estafilocócico ou estreptocócico); +
  5. Evidência de Covid-19 (através de biologia molecular, teste antigênico ou sorológico positivos) ou história de contato com caso da infecção.

A nota destaca que, para a realização do diagnóstico, podem ser incluídos pacientes pediátricos que preencherem critérios completos ou parciais para a síndrome de Kawasaki ou síndrome do choque tóxico. Além disso, os profissionais de saúde devem considerar a possibilidade de SIM-P em qualquer causa de óbito de criança ou adolescente característico com indícios de infecção por SARS-CoV-2.

Diagnóstico diferencial

  • Sepse bacteriana;
  • Doença de Kawasaki;
  • Síndrome da pele escaldada;
  • Síndrome do choque tóxico;
  • Apendicite;
  • Outras infecções virais, como causadas pelo vírus da dengue, Epstein-Barr, citomegalovírus, adenovírus e enterovírus. A pesquisa desses vírus deve ser ponderada na investigação diagnóstica;
  • Síndrome de ativação macrofágica;
  • Lúpus eritematoso sistêmico juvenil;
  • Vasculites primárias.

Critérios de hospitalização

  • Dispneia;
  • Taquicardia, taquipneia, hipotensão arterial;
  • Choque;
  • Redução do nível de consciência, convulsões, encefalopatia, cefaleia intensa e persistente e déficit neurológico focal;
  • Injúria renal, hepática ou coagulopatia;
  • Dor abdominal intensa, vômitos incoercíveis, incapacidade de se alimentar;
  • Desidratação;
  • Sinais de síndrome de Kawasaki (completa ou parcial);
  • Condições clínicas de base;
  • Incapacidade de seguimento ambulatorial;
  • Marcadores inflamatórios muito alterados;
  • Eletrocardiograma alterado ou alterações de uma das enzimas indicativas de lesão miocárdica.

Observações:

  • De acordo com a gravidade das manifestações da doença, deve-se avaliar a indicação de encaminhamento para uma unidade de terapia intensiva;
  • Medidas de isolamento devem ter como base as manifestações clínicas da doença e os resultados virológicos (RT-PCR para o SARS-CoV-2), não os sorológicos.