Comerciante vive drama ao fechar 2ª tentativa de negócio em SP

 




O fechamento de setores da economia em razão da fase emergencial, imposta pelo governo de São Paulo para combater a pandemia da covid-19 no estado, tem provocado impactos negativos na vida de diversos pequenos e médios comerciantes, cujas atividades foram interrompidas.

Dona de um pequeno estabelecimento no ramo de alimentação, montado na garagem de casa, em um bairro da zona norte paulistana, Iane Cirelli, de 37 anos, revelou que viu a renda familiar cair em cerca de 70% após o agravamento dos casos da doença na cidade e, por isso, não conseguiu manter o negócio.

"Abri uma minipadaria em outubro do ano passado na garagem de casa para tentar segurar a fase da pandemia, porque tinha fechado uma loja de perfumes. Vendia super bem até dezembro [de 2020]. Quando a pandemia voltou com força total, o movimento foi caindo", lamentou a empresária.

Se antes era possível manter um padrão razoável de conforto, após baixar as portas do comércio, Iane se viu obrigada a entregar o imóvel alugado em que morava junto com a mãe e dois irmãos.

"Entreguei a casa, aluguei um apartamento bem mais barato, guardei todos os maquinários para, no futuro, tentar reabrir a minipadaria. Ou irei vendê-los, caso essa fase [crítica da pandemia] não passe logo".

Atualmente, Iane diz que tira o sustento da família somente do faturamento das vendas de semijoias e pratas.

"Moro com a minha mãe, que é aposentada, meu irmão de 22 anos, que está desempregado e só estuda, e uma irmã, também desempregada. Vivo das vendas que faço das semijoias e das pratas para clientes que mantenho há alguns anos. Estou tentando segurar as contas básicas do dia a dia, como aluguel, comida, água, luz", contou.

Na última sexta-feira (26), o governo estadual anunciou a prorrogação da fase emergencial do plano de flexibilização econômica até o dia 11 de abril. Essa etapa reúne as regras mais rígidas de circulação e distanciamento social desde o início da crise sanitária que assolou o país.

Entre as regras, estão o fechamento de parques e praias, toque de recolher entre 20h e 5h, além de limitação específica para restaurantes e lanchonetes, que podem apenas funcionar nos sistemas drive-thru e delivery.

Porém, as medidas restritivas são formas de combater o aumento do número de casos e mortes em razão da doença. O sistema de saúde entrou em colapso. Hospitais públicos e privados já não possuem vagas de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e os estoques de oxigênio e medicamentos estão praticamente no fim. 

Apesar de classificadas como necessárias para o controle da pandemia, a decisão dos governos (estadual e municipais) de proibir o funcionamento de parte da cadeia econômica tem provocado reações de alguns comerciantes.

Em Ribeirão Preto, ainda neste mês de março, um comerciante foi preso por contrariar as regras da fase emergencial do Plano SP. Ele também foi acusado de incitar outros comerciantes a também não fecharem as portas. Porém, o homem foi solto por decisão judicial.

Outra decisão — em caráter liminar — da Justiça de São Paulo liberou o funcionamento do comércio na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. A determinação foi tomada em resposta a um pedido da Associação Comercial e industrial do município, formada por 450 micro e pequenas empresas de diversos ramos.

A entidade alegou que o fechamento do comércio é inconstitucional, por violar direitos fundamentais dos cidadãos, como o trabalho e a livre locomoção.

O município está em "lockdown total", com forte restrição de circulação e funcionamento do comércio, desde o dia 21 de fevereiro, quando identificou a transmissão local da variante P.1, descoberta inicialmente em Manaus.


Fonte:R7