Dor e legado: como morte de casal abalou família de Santa Bárbara d’Oeste

 



“Se ela estivesse passando por isso, diria: Jesus é a resposta. Para caminhar um dia de cada vez. Ela tinha esse lema, está até nas etiquetas das roupas”. A fala é da estilista Viviane Gonçalves, de 35 anos, de Santa Bárbara d’Oeste.

Sua tia, Sandra Gonçalves Pina, de 54, com quem trabalhava e considerava como mãe, morreu por conta do novo coronavírus (Covid-19) na tarde do último sábado, 22, no Hospital São Francisco, em Americana.

Na madrugada do domingo, também por conta da doença, morreu o marido de Sandra, Sebastião de Magalhães Pina, 46, no Hospital Santa Tereza, em Campinas. Os dois foram internados duas semanas antes, mas não resistiram.

Viviane (ao centro) e a equipe da confecção: continuidade do trabalho – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Proprietário de uma fábrica de confecção de roupas plus size (para tamanhos maiores) no Jardim Europa, a Flight Level confecção, o casal deixa um filho, Ramon Gonçalves Pina, 23, estudante de medicina. Ele também foi infectado, mas se recuperou.

“Além de lidar com os pais internados, o Ramon ficou mal, teve 60% do pulmão comprometido, risco de ser internado. Com tudo isso acontecendo, a vida dele é um milagre”, desabafa Viviane. “Foi uma perda muito grande. Somos uma família cristã. Só a fé em Deus em um momento desse, nos consolando, ajudando a vencer dia a dia”, diz.

Viviane ressalta que a confecção é um legado deixado pela tia e que a família já retomou as atividades da empresa.

Casal morreu e filho se recuperou – Foto: Arquivo Pessoal

“A perda dos dois é irreparável, não tem nem palavras, mas a gente vai continuar com a confecção, com o mesmo amor, garra, e bravura, assim como o Ramon vai continuar seus estudos e ser um grande médico”, comenta sobre o caso.

A história do negócio começou depois que Sandra ganhou um Fiat 147 em uma rifa, quando tinha 25 anos. Ela vendeu o carro e comprou uma máquina para costurar. “Ela sempre foi apaixonada por empreender, sempre inventava alguma coisa”.

Sandra passou a fabricar e vender camisetas junto de sua família. As vendas foram bem e ela não parou por ali.

Ao LIBERAL, a estilista contou que o casal tomava todos os cuidados contra o coronavírus. “Nunca faltou máscara e álcool em gel. A Sandra tinha comorbidade, por pouco não foi vacinada”, explicou. Segundo ela, a situação toda foi um choque. “Eles foram internados quase juntos e morreram em um intervalo de tempo muito curto”.

Viviane diz que o sonho da tia era que a marca fosse reconhecida, “vestindo e cuidando” da autoestima das mulheres. “Ela amava trabalhar. Vamos manter este legado que eles deixaram”.

Fonte:JORNAL O LIBERAL