Infecção por HPV pode evoluir para câncer

 




HPV é a sigla em inglês para Papilomavírus Humano, vírus capaz de infectar a pele ou as mucosas, causadores de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), transmitido principalmente pelo contato sexual desprotegido e com uma pessoa que esteja infectada.

Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV, sendo que cerca de 40 podem infectar o trato ano-genital em homens e mulheres, e 13 deles são considerados oncogênicos, apresentando maior probabilidade de provocar infecções persistentes e associadas a lesões precursoras de câncer, segundo informações do INCA (Instituto Nacional de Câncer).

Um estudo epidemiológico concluído em 2017, que ouviu 7.693 homens e mulheres saudáveis e sexualmente ativos, com idades entre 16 e 25 anos, nas 26 capitais brasileiras e Distrito Federal, concluiu que a prevalência do HPV no Brasil na faixa etária entrevistada era de 54%. Na mesma pesquisa, cerca de 50% dos jovens referiu usar preservativo e 33% tiveram dois ou mais parceiros no último ano.

Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV – Foto: Adobe Stock

Apesar da alta prevalência, a infecção é transitória e costuma regredir espontaneamente na maioria das vezes. O perigo está no fato de que no pequeno número de casos nos quais a infecção persiste e, especialmente quando é causada por um tipo viral com potencial para causar câncer, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras.

Se elas não forem identificadas e tratadas podem progredir para o câncer, principalmente no colo do útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca.

Dentre os HPV de alto risco oncogênico, os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo do útero. Já os HPV 6 e 11, encontrados em 90% das verrugas genitais e papilomas laríngeos (lesões proliferativas), são considerados não oncogênicos, de acordo com o INCA.

ALTAMENTE CONTAGIOSOS
A transmissão dos vírus do HPV se dá pelo contato direto com a pele ou mucosa infectada, sendo que a principal forma é pela via sexual, incluindo contato oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. O contágio com o HPV pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal.

A médica Juliana Horschutz Stella, ginecologista que atende em Santa Bárbara d’Oeste, afirma que a alta incidência de contaminação da população pelo HPV se deve ao fato de que o vírus é altamente contagioso e muitos dos infectados não apresentam verrugas ou lesões genitais visíveis.

“A maioria das pessoas que são portadoras do HPV são assintomáticas, elas contraem o HPV e mesmo sem sintomas podem transmitir para outra pessoa. Isso faz com que a infecção seja mais comum. Por isso a grande preocupação em se estudar e fornecer orientações sobre o HPV”, comentou.

Ela explica que, embora o uso de preservativo, camisinha masculina ou feminina diminua os riscos de transmissão do vírus, apenas a vacinação contra o HPV pode ser considerada uma maneira efetiva de proteção.

“Temos um comportamento, principalmente na população mais jovem e brasileira, de que a camisinha deve ser colocada apenas no final do ato sexual. Isso é errado, colocar apenas para evitar que o conteúdo da ejaculação engravide a mulher. As preliminares também têm risco de transmissão de doenças”, complementa.

O conselho da médica é que as mulheres se consultem regularmente com um especialista em ginecologia para a realização do exame preventivo, o papanicolau, com a frequência indicada – que pode variar entre semestral ou a cada 3 anos. Ela recomenda que as mulheres conheçam bem os seus parceiros ou parceiras e exijam que eles também se consultem e façam exames regularmente.

“O vírus é perverso porque o subtipo 16 e 18 são agressivos, mas silenciosos. Eles entram no colo do útero e vão mutando o núcleo das células. A mulher não tem corrimento, não sente coceira, nada. Fica tempos sem fazer papanicolau, porque não sente nada, mas o vírus está lá quietinho. Depois, ela pode descobrir um câncer de colo de útero e levar um susto”, alerta a ginecologista.

A demora na busca pelo atendimento médico também pode fazer com que os homens tenham cânceres desencadeados pela infecção do HPV, aponta o urologista de Americana Gustavo Araujo.

“Minha orientação é, como a mulher tem o costume de todos os anos ir ao ginecologista, que o homem também tenha mais cuidado, não ir ao urologista somente quando precisar, mas uma vez ao ano seria o ideal”, defende ele.

HPV tem cura?

Independentemente de o paciente ser homem ou mulher, não há cura para a infecção pelo vírus do HPV – a meta dos tratamentos é sempre extinguir as verrugas ou lesões.

“A cura nós consideramos como a cura da lesão, que tem um potencial de transmissão altíssimo”, afirma o urologista Gustavo.
Cada caso é um caso e precisa ser avaliado pelo especialista competente, mas as verrugas costumam ser tratadas com cauterização química, eletrocauterização ou laser.

“Quando se descobre uma lesão pré-câncer pelo papanicolau você faz a biopsia para confirmar e retira a lesão. E quando já é um câncer de colo de útero bem localizado, há cirurgias em que você tira o colo do útero”, explica a ginecologista Juliana Horschutz Stella.

“Hoje, para uma pessoa com HPV bem controlada, bem orientada, bem acompanhada, a possibilidade de morrer de câncer de colo de útero é extremamente baixa. Percebemos a doença maligna no estágio inicial pelo papanicolau e não esperamos piorar”, enfatiza.

Após a cicatrização, é preciso ter consciência de que o vírus pode voltar a se manifestar ao longo da vida, na maioria das vezes devido à queda na imunidade, e um acompanhamento médico se faz necessário.

VIDA SEXUAL
Logo após o tratamento e cicatrização das verrugas ou lesões provocadas pelo HVP, a orientação dos especialistas é que o paciente volte a ter relações sexuais com o parceiro ou parceira somente depois que ele também passe por um acompanhamento médico – em outras palavras, ambos devem ter um tratamento contra a manifestação do vírus concluído com sucesso.
Contudo, a vida sexual não precisa ser abalada pela infecção.

A ginecologista Juliana Horschutz Stella sugere cuidado para não impactar o psicológico, e prejudicar a vida sexual e amorosa dos casais em tratamento.

“Se o casal tem uma união estável, saudável e fiel, fisiologicamente, ao tratar a lesão, acabou o HPV. Vemos pacientes perdendo a potência sexual porque tem medo, associam o vírus à promiscuidade, à infidelidade, mas podem ter pego de um parceiro no passado. Bem orientados, a vida sexual deve ser normal, acompanhando anualmente ou a cada seis meses”, finaliza.

HPV e a mulher grávida

Devido ao estresse fisiológico e sistema imunológico comprometido, as mulheres grávidas podem ter manifestação de verrugas genitais devido à infecção pelo HPV, mesmo que a infecção tenha ocorrido anos antes da gestação. Nestes casos, a cauterização das verrugas pode ser feita sem graves consequências.

“O grande problema é se a paciente, na gravidez, no primeiro exame de pré-natal, descobre que tem uma lesão no colo do útero. Por isso a mulher, antes da gestação, deve ter um exame papanicolau atualizado. Se ela tiver alguma alteração, uma ferida pré-câncer ou até mesmo um início de câncer, ela trata e cicatriza, para depois engravidar”, recomenda a ginecologista Juliana Horschutz Stella.

Iniciando a gestação com todos os exames normais, a mulher ainda pode desenvolver uma verruga ou lesão devido ao HPV. Mas a médica explica que o período da gravidez não é suficiente para o vírus desencadear um câncer.

“O parto normal não é contraindicado em pacientes que tem HPV, desde que no dia no parto ela não tenha nenhuma verruga grande, que pode sangrar. Seja o parto normal ou cesárea, se a mulher está bem tratada, não há risco de transmissão do vírus ao bebê”, esclarece ainda.

Apenas a vacinação contra o HPV pode ser considerada uma maneira efetiva de proteção contra o vírus HPV – Foto: Divulgação

Vacinação contra o HPV

O Ministério da Saúde iniciou em 2014 a implementação no SUS (Sistema Único de Saúde) da vacinação gratuita contra o HPV em meninas de 9 a 14 anos e meninos com 11 a 14 anos, com a vacina quadrivalente, que protege contra os tipos de HPV 6,11,16,18.

Outros grupos etários podem procurar serviços privados, já que as vacinas são clinicamente recomendadas até mesmo a quem já apresentou infecção pelo HPV. As vacinas possuem maior indicação para meninas e meninos que ainda não iniciaram a vida sexual, pois apresentam maior eficácia na proteção de indivíduos não expostos aos tipos virais presentes no imunizante.

TERMINOLOGIA
A terminologia IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) passou a ser adotada em 2016 em substituição à expressão DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), porque destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas.


Fonte:O LIBERAL