Ex-treinador da Fundesport integra comissão técnica do Brasil nas Paralimpíadas

 




O técnico de atletismo Alex José Sabino se despediu da equipe de Araraquara há quatro anos, porém plantou uma semente que gerou e continuará gerando frutos por muito tempo na cidade. Ele foi uma das peças-chave da criação da equipe de atletismo ACD (atletas com deficiência) da Fundesport em 2003 e foi o primeiro técnico do grupo que desde então passou a colecionar conquistas. A excelência de seu trabalho o levou a ser convidado para trabalhar com atletas de alto rendimento do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e atualmente integra a comissão técnica do atletismo do Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio.

Alex fala de sua emoção ao participar do evento que chama a atenção do mundo para o talento e capacidade dos atletas com deficiência. “É extremamente complexo descrever qual a sensação, pois tudo é muito maior, a pressão, a ansiedade e a competitividade. Pelas responsabilidades junto aos atletas, consegui me manter concentrado no nosso objetivo que é o pódio paralímpico”, destaca.

Ele relembra do momento em que recebeu o convite para integrar a comissão técnica em Tóquio. “Minha reação foi emotiva, pois ocorreu também a convocação dos atletas e ver todos os atletas do grupo que trabalho convocados me emocionou muito, mesmo sabendo que alguns já tinham carimbado o passaporte por ter ganho o Campeonato Mundial em 2019”, conta o professor, que destacou a peculiaridade desta edição dos Jogos Paralímpicos. “A convocação é a mais esperada do ciclo para todos que estão aqui, sem dúvida. Representar nossa nação é um privilégio sempre. Tive a honra de estar como técnico representando a Seleção Brasileira Paralímpica no Parapan-Americano de 2019 em Lima no Peru, Campeonato Mundial em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e ser convocado para o ciclo mais longo da história e para os Jogos Paralímpicos mais atípico é algo maravilhoso”, analisa.

Alex avalia o desempenho brasileiro nas Paralimpíadas de Tóquio. “A participação do atletismo da delegação brasileira é sempre um grande espetáculo. Graças a muito trabalho, temos ótimos atletas, entre eles vários recordistas mundiais e medalhistas paralímpicos. Quando chegamos na Vila Paralímpica e no Estádio Olímpico, somos observados, comprimentados e filmados quase sempre. Tudo isso graças às gerações anteriores e atuais, com resultados que fizeram a modalidade se tornar uma potência. Temos metas individuais que elevam o objetivo em grupo, por isso estamos disputando muitas medalhas e pretendemos melhorar o resultado geral comparado com a Rio 2016”, assegura.

“É preciso começar”

Alex comenta que as crianças com deficiência devem ser estimuladas a praticar esportes. “Para as crianças que querem iniciar na atividade física, o esporte adaptado é a primeira porta, a porta de entrada para a liberdade, para o conhecimento, para a expansão do horizonte. Eu digo sempre que são duas chaves: a educação e o esporte. Foram por essas duas chaves que eu pude conhecer outras cidades, outros estados e alguns países, e consegui com isso ótimas amizades, assim como os atletas que trabalhei e trabalho, que tiveram grandes oportunidades na vida e alguns ainda estão tendo. Então a mensagem que deixo para essas crianças é para que elas iniciem, que acreditem e persistam, porque tudo é possível desde que você faça”, aconselha.

O treinador valoriza o trabalho dos professores que possuem a capacidade de garimpar os talentos paralímpicos desde a infância. “O profissional da educação física é um captador e semeador de sonhos. A gente visualiza a criança, o adolescente e já estima lá na frente. E quando a criança nos procura, tudo isso fortalece ainda mais, tudo isso é muito maior, muito mais forte. Hoje fico muito feliz em ver a iniciação esportiva paralímpica crescendo dentro do nosso estado, do nosso país, e me sinto lisonjeado por ter começado a iniciação esportiva paralímpica no município de Araraquara”, acrescenta.

Ele destaca a importância de gerar oportunidades para esse público. “Sabemos que o esporte de alto rendimento é seleto, mas a prática da iniciação esportiva, do esporte e lazer, é estimulante. Então o que precisamos é oportunizar. Temos muitas e ótimas histórias de atletas que hoje estão representando a Seleção Brasileira Paralímpica que iniciaram no esporte através de uma reabilitação, alguns porque foram acompanhar um colega, um irmão, ou viram na TV, então tudo é questão de oportunidade. Não importa onde você mora, não importa sua condição financeira, é possível. Às vezes não vai acontecer de você treinar o esporte que você gosta, mas você pode conhecer um esporte que você é bom”, garante.

Trabalho em Araraquara

Alex nasceu em 1983 em São Carlos e teve seu talento para o atletismo descoberto ainda na infância. Integrou as categorias de base do atletismo de sua cidade natal por cinco anos e veio para a equipe de Araraquara, onde ficou por mais de uma década. Representou muito bem o nome da cidade e colecionou medalhas de Campeonato Paulista Juvenil, Campeonato Paulista Adulto, Jogos Regionais, Jogos Abertos do Interior, Torneio Regional, Troféu Brasil e Open Internacional de Atletismo.

Com o propósito de promover a inclusão social, os Jogos Regionais passaram, em 2003, a contar com as competições de ACD (atletas com deficiência). Araraquara não possuía uma equipe nessa época, por isso a Secretaria de Esportes entrou em contato com a UDEFA (União dos Deficientes de Araraquara), onde foi criada uma equipe para a primeira participação na cidade. Não existia um responsável pela equipe e então o professor Elder Bueno pediu para Alex ajudá-los na locomoção, na pista, entre outras coisas. A estreia do ACD araraquarense foi uma surpresa positiva, já que a equipe terminou na segunda colocação geral. Desde então, ele passou a treinar a equipe e houve uma evolução contínua, com nomes que brilharam no Brasil e no exterior.

Alex se orgulha do trabalho que ajudou a construir na cidade. “Hoje Araraquara conta com uma equipe com ótimos resultados no coletivo e excelentes resultados no individual. Hoje o destaque na cidade é o Matheus de Lima, um atleta que tem 18 anos, porém iniciou muito cedo e pôde conhecer muitas pessoas, muitas cidades, viajar fazendo o que gosta, que é correr, saltar e treinar. E hoje, pelo seu resultado, ele consegue ter uma condição melhor, ser reconhecido. Há dois anos ele era juvenil e bateu o recorde brasileiro da categoria adulto. Isso foi muito bom. Temos o Pablo Fabrício Furlan, que representou Araraquara muitos anos, foi campeão regional, campeão estadual, campeão brasileiro, campeão pan-americano e campeão mundial juvenil, com mais de três convocações para a seleção principal. Ele teve a iniciação no esporte, conheceu o atletismo através da escola e com os treinamentos pôde viajar, conhecer cidades, países e muitas pessoas com as duas chaves que citei anteriormente, que são o esporte e a educação”, finaliza Alex.