Edinho: “Araraquara se uniu em defesa da vida”

 





José Augusto Chrispim

O ano de 2021 foi marcado por grandes desafios em decorrência da pandemia do novo coronavírus que fez estragos na economia do Brasil e do mundo, além de deixar uma triste marca de mais de 600 mil mortes no país. Em Araraquara, mais de 600 pessoas perderam as vidas vítimas da Covid-19.

Falando com exclusividade à reportagem do Imparcial, o prefeito Edinho Silva (PT) lembrou das dificuldades pelas quais a cidade passou na fase mais dura da pandemia com hospitais lotados e mortes diárias, mas também comemorou a condução acertada do município no combate à doença que foi destaque na imprensa nacional e até internacional. Edinho falou também sobre os desafios de Araraquara para 2022.

Veja a entrevista na íntegra:

O Imparcial: Como o senhor avalia a administração da cidade em 2021? Quais foram os acertos e o que poderia ter sido melhor?

Edinho: “Foi um ano muito difícil e desafiador. Nenhum de nós tinha um manual de como enfrentar uma pandemia. Fomos construindo um caminho no decorrer da pandemia, ouvindo cientistas e pesquisadores. Tivemos universidades que foram muito parceiras, principalmente na rede de testagem e na vacinação. Construímos um roteiro de enfrentamento da pandemia e que penso ter sido vitorioso. Criamos uma estrutura que custou caro ao município, mas salvou vidas. Não tem custo que possa ser equacionado quando sua meta é salvar vidas. O hospital de campanha cumpriu seu papel, o Pronto-Socorro do Melhado teve papel importante, a UPA da Vila Xavier foi uma referência. Isso trouxe reconhecimento nacional e internacional. A cidade soube enfrentar a doença. Investimos R$ 55 milhões em 2020 e R$ 88 milhões neste ano, em recursos próprios da Prefeitura, no combate à Covid-19. Isso exigiu um remanejamento talvez nunca registrado no Orçamento do Município. Mas estamos, com cautela, saindo desse processo e sinalizando para a retomada das atividades”.

O Imparcial: Em um período tão difícil pelo qual a população de Araraquara e do Brasil está passando, não há outra forma de colocar as contas da Prefeitura em dia sem que haja aumento no IPTU?

Edinho: “Nós temos consciência de que a população está enfrentando dificuldades com a crise econômica e o aumento da inflação, tanto que a Prefeitura criou a Rede de Solidariedade para garantir alimentação às famílias em extrema vulnerabilidade: foram quase 38 mil cestas distribuídas desde o ano passado. Também criamos um Refis, para pagamento de impostos municipais atrasados, com parcelamentos e descontos em juros e multa para empresários que perderam faturamento na pandemia e pessoas físicas que estão com dificuldades de acertar suas pendências. Porém, da mesma forma que a sociedade, o Município também vem sofrendo com os custos mais elevados dos bens e serviços que presta à população, devido ao aumento dos preços dos alimentos, da energia, do combustível, do setor de transportes, da construção civil. Esses reajustes impactam o custo de toda a cadeia de compra de produtos e prestação de serviços. E a Prefeitura, apesar disso, precisa manter a qualidade da prestação dos serviços públicos. Vale lembrar que não houve reajuste no IPTU nos últimos três anos, desde 2018. O reajuste de 9,68% corresponde apenas à projeção de variação da inflação oficial, o IPCA, nos últimos 12 meses. Se fosse levado em conta o período de 2018 até agora, seriam 21% de reajuste. Ou seja: o Município sofreu com queda de arrecadação durante a pandemia, investiu R$ 88 milhões neste ano no enfrentamento à Covid-19, mas todas as outras áreas do governo precisam continuar funcionando. Fixamos um reajuste que nos ajuda a manter as políticas públicas e não cobre as perdas pela inflação dos últimos anos, justamente entendendo o momento que a sociedade enfrenta. O Município precisa minimamente manter seus patamares de arrecadação para dar continuidade com qualidade na prestação de todos os serviços e investimentos públicos necessários”.

O Imparcial: Com a abertura para a iniciativa privada do complexo esportivo de Araraquara, o prefeito acredita que a cidade tem condições de se transformar em um grande polo de eventos?

Edinho: “Araraquara vai ser o maior centro de eventos do interior de São Paulo. O investimento da WTorre, além de gerar muitos empregos, mudará a configuração econômica do município por um longo período da nossa história. Hoje, a âncora econômica que mais cresce no mundo é a de eventos e lazer. É o setor da economia que mais cresce no planeta. Além de continuarmos sendo uma cidade muito importante para a agroindústria, também seremos referência na área de eventos. Uma vocação que Araraquara sempre quis ter desde os anos 1990, com a organização da Facira nos antigos pavilhões, mas que o poder público acaba não tendo condições de manter um calendário de feiras, shows e atrações durante o ano todo. Quando a gente diz que Araraquara será o maior centro de eventos do interior de São Paulo, a gente diz que a cidade terá, toda semana, um ou mais eventos acontecendo. E eventos grandes, de vulto. Movimentando a empresa de segurança, de limpeza, o hotel, o restaurante, toda a estrutura que o turismo movimenta. São muitos empregos gerados”.

O Imparcial: Com a volta à normalidade nos hospitais da cidade, existe um prazo para a regularização das cirurgias eletivas acumuladas durante a pandemia?

Edinho: “Toda a estrutura da Saúde precisou ser utilizada no enfrentamento da Covid-19, o que aumentou a fila de exames e cirurgias eletivas. Nós estamos com uma nova etapa do programa “Saúde Cidadã” focado no pós-pandemia. Serão quase 10 mil exames, diagnósticos e cirurgias eletivas realizados em dois meses, em parceria com a Santa Casa, com recursos de emendas parlamentares de deputados estaduais e federais. Esses exames e cirurgias procedimentos que precisaram ser adiados durante a pandemia e agora, com maior segurança sanitária, poderão ser realizados. É um dos grandes desafios do município para 2022”.

O Imparcial: Mesmo com o protesto dos empresários aos dois lockdown, na sua avaliação, a condução do combate da pandemia pela Prefeitura foi acertada?

Edinho: “As medidas foram corretas e seguiram a orientação da ciência, tanto que nosso trabalho foi reconhecido nacional e internacionalmente. Naquele momento da pandemia, em que a vacina ainda estava começando a ser aplicada e tinha coberto uma parte pequena da população, a única forma de conter a transmissão do coronavírus era o isolamento social rígido, que ficou conhecido como lockdown. Foi um sacrifício que a população e os comerciantes precisaram fazer, mas em prol de um bem maior: preservar vidas. Projeção do médico epidemiologista e professor doutor Bernardino Alves Souto, da UFSCar, aponta que pelo menos 259 mortes foram evitadas até dois meses depois do lockdown de fevereiro, além de 3.579 casos evitados em 30 dias. Araraquara se uniu em defesa da vida. Sou muito grato à população por ter compreendido o momento que estávamos enfrentando e ter colaborado. A imensa maioria dos empresários e comerciantes também teve essa compreensão e deixou as disputas políticas e partidárias de lado nesta grave crise sanitária enfrentada por todo o mundo. Nossas decisões de enfrentamento da pandemia sempre foram tomadas em diálogo com representantes comerciais, dos trabalhadores e do Ministério Público”.

O Imparcial: Com o enfraquecimento da pandemia do coronavírus devido ao avanço da vacinação, o prefeito acredita que em 2022, Araraquara possa voltar a crescer e gerar empregos?

Edinho: “Acredito e vou continuar trabalhando muito para isso. A geração de empregos e renda será uma das nossas prioridades. É preciso ‘fazer a roda da economia girar’. Infelizmente, um dos reflexos da pandemia em todo o mundo foi o desemprego. Muitas empresas reduziram seu quadro de funcionários. Trabalhadores autônomos perderam o sustento devido ao isolamento social e o risco de se contaminar e contaminar seus familiares. A vulnerabilidade social se agravou muito, o que fez a Prefeitura criar a Rede de Solidariedade para garantir a alimentação das famílias em extrema vulnerabilidade. Para 2022, a retomada dos empregos é fundamental. A Prefeitura fará o que estiver ao seu alcance para seguir atraindo investimentos. A vinda da Estrella Galícia é o maior investimento privado da história de Araraquara, transformando o município em um polo de produção e exportação de cerveja. São R$ 2 bilhões investidos nesta fase inicial, gerando 400 empregos diretos e 4 mil indiretos, além de um incremento sem precedentes de arrecadação tributária municipal, beneficiando toda a população. Será a primeira fábrica da Estrella Galicia fora da Espanha, e a empresa escolheu o Brasil, o estado de São Paulo e a nossa Araraquara. O investimento da WTorre vai criar o maior centro de eventos do interior do estado de São Paulo, o que vai contribuir muito para a geração de empregos diretos e indiretos, como hotéis, bares e restaurantes. E teremos no próximo período a vinda do outlet, que também ajudará a diversificar a nossa âncora econômica. Economia forte é economia diversificada. Vamos continuar sendo fortes na agroindústria, no setor têxtil, no setor metalúrgico, e vamos desenvolver ainda mais os setores de alimentos e de eventos e lazer. A cidade será palco de grandes investimentos econômicos, criando uma grande sinergia na nossa economia, aumentando a capacidade de produção e de geração de empregos para a nossa população, o que é uma das nossas prioridades no momento”.

O Imparcial: Quais são os principais desafios para Araraquara em 2022?

Edinho: “Os principais desafios para o próximo ano são a geração de empregos e o investimento em exames e cirurgias represadas na pandemia, como já detalhei nas respostas anteriores, além de um grande programa de alfabetização e reforço escolar. Estamos lançando o “Educa Mais Araraquara” com esse objetivo de diminuir a defasagem escolar causada pela pandemia, principalmente nas crianças dos primeiros anos. O ensino à distância minimiza a ausência da criança na escola para aquela família que tem computador, tablet, celular com acesso à internet. Mas nada supera o ensino presencial, o contato do aluno com o educador. Uma parcela da população não tinha sequer computador em casa. Mesmo com os materiais impressos sendo entregues para as famílias, existiu essa dificuldade de aprendizado. Vamos desenvolver esse programa para diminuir o déficit de alfabetização e de aprendizagem ocorrido desde o início da pandemia”.

O Imparcial: Qual é a mensagem que o prefeito pode passar para o araraquarense?

Edinho: “Tivemos um ano muito difícil em 2021, com o agravamento da pandemia iniciada em 2020. O mundo todo sofreu muito, e Araraquara não foi diferente. Tivemos perdas humanas, que são imensuráveis. Familiares, amigos, colegas de trabalho vitimados pela Covid-19. Foi um ano difícil na economia, com desemprego e aumento da vulnerabilidade. Mas também foi um ano de esperança, com a vacina contra a Covid-19 sendo aplicada em nossa população e os índices da pandemia despencando, o que nos proporcionou a retomada gradual das atividades. Para 2022, desejo que a pandemia termine, que todos nós possamos ter muita saúde e momentos felizes ao lado de nossas famílias e amigos. Que todas as dificuldades sejam superadas. Feliz Natal a toda a população de Araraquara e um 2022 de muitas conquistas. De nossa parte, na Prefeitura, vamos seguir trabalhando muito para que Araraquara seja uma cidade ainda mais justa, humana e solidária”, finalizou o prefeito.