Professoras são demitidas por justa causa após maltratarem bebês em creche de Rio Preto-SP

 




Câmeras de monitoramento da unidade gravaram agressões na sala de aula

O Ministério Público vai instaurar procedimento investigatório criminal para apurar denúncia de maus-tratos contra crianças do berçário 2 da creche Irmã Julieta, localizada no Jardim Urano, em Rio Preto-SP. Câmeras de monitoramento flagraram uma professora tratando com violência uma criança de 1 ano. Ela está acompanhada de outra professora, que nada faz para evitar as atitudes. A situação foi constatada na sexta-feira (18/3), pela coordenadora pedagógica. Nesta segunda-feira (21/3), ambas foram demitidas por justa causa.

Creche Irmã Julieta, fica no Jardim Urano, e atende crianças de 4 meses a 4 anos de idade Foto: Guilherme Baffi

A creche Irmã Julieta é administrada pelo Centro Social do Estoril. A entidade possui convênio com a Prefeitura por meio da Secretaria de Educação e fornece atendimento gratuito a crianças do berçário ao maternal (4 meses a 4 anos de idade).

Segundo informações, uma funcionária foi até a sala do berçário 2 para pegar uma criança cuja mãe foi buscar antes do horário de saída. Ao abrir a porta, ela deparou com uma professora dormindo enquanto a outra mexia no celular. Próximo a esta havia uma criança no bebê conforto, que foi colocado em cima de um pufe. Quando a segunda professora se levantou para ajudar outra criança, o bebê conforto deslizou, e a criança presa à cadeirinha ficou na iminência de sofrer uma queda.

A funcionária denunciou a situação para a coordenadora pedagógica, que decidiu verificar a informação por meio das câmeras. As imagens confirmaram não apenas a falha de procedimento das educadoras como outras condutas classificadas como “intoleráveis” pela instituição.

Documento encaminhado para o Ministério Público, a Secretaria de Educação e o Conselho Tutelar revela que uma das professoras puxa abruptamente uma criança, a chacoalha com violência e tampa a boca dela, para abafar o choro. A cena é testemunhada pela professora auxiliar, que não reage para impedir nem repreende a colega de trabalho.

“As cenas foram verificadas após o expediente e as professoras já tinham ido embora. Na segunda-feira, assim que chegaram na creche, as funcionárias foram demitidas e não tiveram mais acesso à sala de aula”, disse o presidente do Centro Social do Estoril, Manoel Neves Filho.

Segundo ele, as professoras trabalhavam há quase 10 anos na instituição. Um pente-fino foi realizado nos arquivos de imagem e nenhum outro excesso foi constatado, segundo a instituição.

“A professora disse que estava com problemas pessoais, que não estava bem. Respondi que, se ela não se sentia apta para cuidar de crianças, que pedisse uma folga. Agressão é intolerável na nossa instituição. Mesmo sendo uma situação aparentemente isolada, houve uma quebra de confiança”, afirmou.

A criança, segundo o presidente, passava por adaptação na creche. “Estava chorando muito. É normal nesse período em que o aluno se separa da mãe e passa a conviver em um espaço desconhecido. É um processo que requer paciência e acolhimento”.

Sobre a demissão da professora que testemunhou a violência, o presidente respondeu que “quem se omite responde igualmente” e que a conduta de mexer no celular durante o trabalho revela negligência com as crianças.

Manoel afirmou que a criança está bem, continua matriculada na instituição e não chorou nesta semana.

O promotor da Infância e da Juventude André Luís de Souza tomou conhecimento do caso e teve acesso às imagens, encaminhadas pelo Centro Social do Estoril. “Recebi com tristeza a denúncia. A gente percebe que a cultura da violência ainda impera no país. Se não tem paciência, não pode trabalhar com criança”, avaliou. Ele explicou que atua na esfera cível, de responsabilização administrativa. “Como a instituição tomou providências rápidas, demitindo as professoras e se reunindo com a mãe da criança, não é mais necessária a nossa intervenção.”

Porém, o representante do Ministério Público encaminhou a documentação para a promotoria criminal a fim de que seja apurado se as professoras cometeram crimes. “Vou despachar nesta quinta-feira (24/3) os documentos que recebi”, adiantou.

Já a Secretaria de Educação informou que repudia toda e qualquer forma de violência. “Informamos ainda que a Educação mantém parceria com a OSC Centro Social do Estoril, responsável pela creche Irmã Julieta. A unidade é supervisionada pela Secretaria de Educação e a diretoria da unidade foi orientada com relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente sobre os casos de violência”. (JT)