SP: Pelo 4º ano seguido, transporte público é espaço de maior risco de assédio para mulheres

 




O transporte público ainda é, por larga distância, o espaço onde as mulheres em São Paulo (SP) veem o maior risco de assédio, de acordo com pesquisa da Rede Nossa São Paulo, divulgada nesta quinta-feira (3). É o quarto ano consecutivo em que elas percebem sua vulnerabilidade mais acentuada nos ônibus, trens e Metrô que em outros locais.

“Ao circular pela cidade, para uma mulher, sempre tem o risco de sofrer algum tipo de assédio. O transporte é o campeão, mas tem vários espaços onde elas sentem esse risco... é sempre muito grande”, afirma Paloma Lima, pesquisadora e especialista em dados da Rede Nossa SP.

Entre as entrevistadas, 52% apontaram o transporte públicos em suas respostas. Em seguida estavam as ruas (17%), bares e casas noturnas (9%) e pontos de ônibus (8%).

De acordo com a pesquisadora, há uma relação clara com a insegurança feminina em espaços públicos, três entre os quatro primeiros lugares citados pelas mulheres na pesquisa.

“Pensamos na questão com a segurança, e o quanto elas estão vulneráveis nesses espaços, desde o momento de esperar o ônibus ela já se sente vulnerável, até adentrar no transporte público. Nem dentro do transporte, que tinha que ser controlado pelo poder público, elas se sentem seguras na sua locomoção pela cidade”, comenta Lima.

Outras formas de violência sexual

Diante dos resultados da pesquisa, a advogada e consultora em diversidade Isabel Del Monde traça uma linha de divisão entre os casos ‘menos graves’ de assédio, como os que ocorrem no transporte público – de importunação sexual –, e a violência sexual em sua versão mais crítica.

“Há algumas gradações. Quando se fala em importunação, de fato o espaço público é o mais inseguro, com a cantada, a tentativa de ‘encoxar’, algo muito ligado à oportunidade. Mas quando falamos em estupro, pro exemplo, a maioria é composta por conhecidos das vítimas”, comenta Del Monde. Segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 70% dos estupros são cometidos por conhecidos das vítimas.

“Neste caso, a violência não ocorre em espaços públicos, mas em espaços íntimos de convivência. E também é importante que se destaque a violência sexual que ocorre no trabalho, como o caso da deputada Isa Penna, importunada por um colega de trabalho na Alesp”, relembra a advogada.

Vulnerabilidade financeira é fator de influência

Para a pesquisadora e a advogada, há uma correlação entre os assédios e a classe social das vítimas. De modo geral, as mulheres financeiramente vulneráveis podem ser atingidas de maneira mais direta.

De acordo com Paloma Lima, o número das respondentes que apontam o transporte público como espaço de maior risco cresce entre as mulheres que mais dependem dele, nos recortes de renda e faixa etária.

“Quando fazemos o cruzamento [de dados], vemos que são as mulheres que mais precisam do transporte público que sofrem mais com isso, e as classes D e E são as que mais têm medo de assédio na rua. São uma série de outros aspectos, e quando fazemos esses recortes vemos que é nítida uma questão de renda, de classe e talvez dependência do transporte público”, diz.

Para Isabel Del Monde, a relação entre a classe e a maior vulnerabilidade no transporte é factível, pois as mulheres mais pobres dependem quase que inteiramente do transporte público, enquanto quem possui maiores fontes de renda pode usar carro próprio, táxi ou aplicativos, tendo mais segurança.

“É uma camada de classe – e também de raça – em mais um nível de vulnerabilidade”, afirma.

A pesquisa

A pesquisa “Viver em São Paulo: Mulheres” realizou 800 entrevistas – online e domiciliares com questionário estruturado – com moradores da capital paulista de idade mínima de 16 anos. Seu intervalo de confiança é de 95%, com margem de erro estimada em 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

Além dos resultados acerca da violência doméstica e familiar, os resultados mostraram que a percepção de que homens e mulheres dividem suas tarefas igualmente caiu 10% em relação ao ano anterior – de 47% para 37%. O estudo também mostrou que, para 85% dos entrevistados, a violência doméstica e familiar contra a mulher aumentou no último ano.

Fonte:R7