'O Brasil não ganha a Copa do Mundo do Catar. Os europeus estão muito melhores'. Benjamin Back

 




São Paulo, Brasil

"A seleção brasileira é rejeitada porque se afastou do povo. Não há integração, interação. Os poucos jogos do Brasil no Brasil são para ricos. Virou público de show, que pode pagar R$ 400,00, R$ 500,00 para assistir a uma partida.  

"O brasileiro é um povo muito humilde. A não ser que o assunto seja futebol. Aí nos tornamos o povo mais arrogante do planeta.

"A gente acha que o Pelé joga, o Ronaldinho Gaúcho joga, o Rivaldo joga, o Romário. Só que esses caram não jogam mais.

"O Brasil era a 'caça', o grande objetivo. O time pentacampeão. E nós deitamos em 'berço esplêndido'. E os outros se aprimoraram.

"Na globalização do futebol, os talentos também surgiram fora daqui. Os últimos melhores do mundo são um argentino, um português, um croata e um polonês.

"Acha que tem de ganhar todas as Copas. Não percebe que o futebol da seleção está estagnado. Parou no tempo. E tem um aspecto muito claro.

"Tirando o Weverton e o Arana, todos os jogadores restantes atuam na Europa. Tinha de ser um europeu comandando a seleção, já acostumado com os métodos de treinamento, estratégia, tática. É algo até matemático. Com mais de 20 jogadores atuando na Europa, um europeu.

"O Brasil não vai ganhar a Copa do Catar. Porque o futebol das principais seleções europeias está muito melhor.

"Para mim, o Guardiola deveria estar comandando a seleção. Os treinadores brasileiros pararam no tempo.

"Se o Guardiola não quiser, o Jorge Jesus ou o Abel Ferreira. Um dos três deveria assumir.

"Neymar é excelente jogador. Mas está sozinho nesta geração.

"Vejo com muita preocupação o futuro do futebol na televisão no Brasil. O jornalismo esportivo está morrendo. Há uma elitização, tratam o futebol como se fosse física quântica, não se preocupam se a pessoa em casa está entendendo o que se fala. Daqui a pouco tempo, não haverá programas esportivos. E apenas transmissões.

"Não há mais relação entre jogador de futebol e imprensa. Assessores de imprensa evitam o contato verdadeiro com o atleta e jornalistas. Bastam as redes sociais. Tudo está muito frio, impessoal."

Essas são algumas declarações de Benjamin Back.

Em entrevista exclusiva ao blog, que ouvirá especialistas sobre a perspectiva do Brasil na Copa, Benja demonstrou todo seu ceticismo sobre a seleção brasileira, muita indignação com a elitização do futebol. 

Revelou o que não voltará a fazer quando tinha 12 anos, na Copa de 1982. Não vai chorar se o time de Tite for eliminado outra vez no Mundial. E também não acredita que seus filhos chorem.

"Tudo mudou em termos de seleção. Não foi para melhor, não."

A Seleção não vence uma Copa há 20 anos. Quais os motivos?

O problema é que paramos no tempo. Os europeus aperfeiçoaram estratégia, tática, preparação física e mental. O Brasil não se prepara de verdade para os Mundiais. Por motivos comerciais faz amistosos contra times fraquíssimos. Ganha as Eliminatórias contra equipes muito abaixo. E chega às Copas e se defronta com equipes europeias mais bem preparadas. 

E o pior é que não perdemos a humildade. Nos comportamos como se fôssemos o "país do futebol". O país do futebol é a Inglaterra, que criou o esporte. Enquanto não fizermos um trabalho de verdade, com preparação adequada, jogos contra as equipes mais fortes da Europa, não vamos sair desse lugar. As últimas Copas têm sido exatamente iguais. 

Para refrescar a humildade, o último brasileiro a ser melhor do mundo foi o Kaká, em 2007. E o último time a vencer o Mundial foi o Corinthians, há dez anos. Que país do futebol é esse?

Vou torcer para o Brasil ganhar a Copa porque sou brasileiro. Mas sei que não vence.

Para piorar, o brasileiro não é nem um pouco humilde quando o assunto é futebol. Acha que tem de ganhar todas as Copas. Não percebe que o futebol da seleção está estagnado. Parou no tempo.

Por que a seleção não comove mais os brasileiros?

Porque os jogadores atuam todos no exterior. Não há identificação. A seleção brasileira é rejeitada porque se afastou do povo. Não há integração, interação. Os poucos jogos do Brasil no Brasil são para ricos. Virou público de show, que pode pagar R$ 400,00, R$ 500,00 para assistir a uma partida.

Eu não sei como a CBF, uma instituição bilionária, não aproxima a seleção dos torcedores. A primeira providência seria fazer com que pelo menos 30% dos ingressos nos estádios, nos jogos da seleção no Brasil, fossem reservados ao povo. A quem não pode pagar R$ 500,00 para assistir a uma partida de futebol.

Depois fazer promoções, levar torcedores comuns para jogos no exterior. Fazer com que a seleção atue mais por aqui. Não é à toa a frieza dos torcedores com as partidas do Brasil.

Muita gente confunde seleção com CBF e deixa de acompanhar a seleção. 

Eu tenho certeza que os times comovem muito mais a torcida que a seleção.

Eu vou me colocar como exemplo. Estava no Mineirão quando o Brasil perdeu por 7 a 1 para a Alemanha. Fiquei triste, lógico. Mas logo esqueci. Se fosse o Corinthians, meu time, que perdesse para o Boca Junior por 7 a 1, na Arena, em Itaquera, eu ficaria fora de mim, enlouquecido, desesperado. A derrota da seleção não provocou esse tipo de reação. Nem provoca. Virou algo muito distante, longe do nosso dia a dia.

O Neymar pode mudar a perspectiva ruim da Copa do Catar?

O Neymar é excelente jogador. Eu acho que ele é sensacional. Tem grande potencial. Mas está sozinho nesta geração. E sozinho é muito difícil para qualquer jogador, ainda mais em uma Copa do Mundo, com tantas seleções de alto nível. Não acredito no Brasil no Mundial do Catar. Eu queria que fosse diferente. Mas é o que eu penso.

O Tite segue sendo o técnico ideal para a seleção?

Eu adoro o Tite. Acredito que, quando a Copa acabar, ele deve voltar ao Corinthians. Será muito bem recebido. Mas não deveria seguir mais na seleção. O Tite cedeu demais. Teve de se adaptar a muitas situações. Como esses amistosos contra times fraquíssimos que nada acrescentam. Talvez não queiram um técnico estrangeiro porque, com certeza, ele não aceitaria várias coisas que Tite aceitou.

Como você vê o jornalismo esportivo na televisão?

Vejo com muita preocupação o futuro do futebol na televisão no Brasil. O jornalismo esportivo está morrendo. Há uma elitização, tratam o futebol como se fosse física quântica, não se preocupam se a pessoa em casa está entendendo o que se fala.

Daqui a pouco tempo, não haverá programas esportivos. E apenas transmissões.

Fora pessoas que usam os microfones de programas esportivos para fazerem campanha política. Isso é um absurdo! Fora aqueles que usam termos que cada vez menos pessoas entendem.

Box-to-box e outras expressões incompreensíveis.

Não é à toa que as audiências não param de cair.

Principalmente nas tevês esportivas por assinatura, na hora dos programas. Ninguém aguenta ouvir em detalhes o superávit do Barcelona, feito em uma planilha. Parece brincadeira.

Programa de futebol não é isso. É falar de forma direta a quem assiste. Que a pessoa possa compreender cada palavra, tudo o que a pessoa que está no programa falando. É isso que eu aprendi a fazer: comunicação direta.

Como é a relação entre jogadores de futebol e imprensa?

Não há mais relação entre jogador de futebol e imprensa. Assessores de imprensa evitam o contato verdadeiro com o atleta e jornalistas. Bastam as redes sociais. Tudo está muito frio, impessoal.

Vou dar um exemplo. Eu queria falar com um jogador que não está mais em atividade. Liguei para o seu assessor de imprensa. Ele me disse para que o convencesse por que esse ex-atleta deveria me dar entrevista. Não acreditei no que ouvi. E respondi umas "palavras bonitas" para esse assessor. Infelizmente é o que acontece.

Eu não me submeto. Não aceito veto de perguntas. Não negocio para ter os jogadores nos programas que apresento. O pior é que, tenho certeza, muitas vezes os jogadores nem sabem dos pedidos dos seus assessores de imprensa.

Os jogadores não falam mais. Apenas postam o que querem nas redes sociais. Tudo mudou muito e de maneira rápida demais. E para pior.

Você já chorou pela seleção brasileira?

Sim, quando a melhor seleção que vi foi eliminada da Copa de 1982. O time era fantástico. Leandro, Júnior, Falcão, o melhor de todos, Sócrates, Zico. Tive de chorar. Hoje eu acredito que meus filhos não chorariam nunca em uma eliminação da seleção na Copa do Mundo. Eu entendo perfeitamente. Não há identificação.

É uma pena que conseguiram afastar a seleção do povo.

Você vai para a Copa do Catar?

Se for para trabalhar, Cosme, com o maior prazer. Se não estiver trabalhando, não vou. Por que? Por falta de interesse... 

Fonte:R7