Nos 30 anos do Dia da Biodiversidade, país tem recorde de desmatamento

 



Com o objetivo de conscientizar a população sobre a preservação de todos os ecossistemas, em 22 de maio de 1992 a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Internacional da Biodiversidade.

No entanto, nesses 30 anos o cenário piorou e não há o que comemorar. Notícias sobre desmatamento na Amazônia, degradação de biomas, poluição e genocídio indígena tomaram as manchetes do jornais de todo o mundo, especialmente no Brasil, onde a biodiversidade sofre fortes ameaças.

Nos últimos quatro anos, de acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o desmatamento no bioma foi 56,6% maior que no mesmo período de 2015 a 2018.

Segundo dados da ONU e do Greenpeace, 15% da biodiversidade do planeta se encontra na Amazônia. Além disso, a floresta acolhe 30 milhões de espécies animais, dentre essas mais de mil aves já catalogadas, e 85% de todas as espécies de peixes da América do Sul, conforme dados do Instituto Brasileiro de Florestas.

A floresta hospeda também 2.500 espécies de árvores, sendo 1/3 de toda a madeira tropical do mundo e 30 mil espécies de plantas, das 100 mil existentes da América do Sul, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

A porta-voz do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti, relembra que há uma crise da biodiversidade em curso e que, apesar do país estar seguindo na contramão da proteção das florestas remanescentes, sabemos o caminho para reverter a situação.

“Estamos perdendo espécies da biodiversidade em um ritmo acelerado devido à ações humanas, e um exemplo delas é o desmatamento que está em alta na Amazônia. No entanto, com vontade política é possível reverter este quadro”, pontua.

Mazzetti afirma que entre 2004 e 2012, o desmatamento na maior floresta tropical do planeta caiu em 80% após ter sido colocado em prática um plano robusto de combate ao desmatamento que envolvia, dentre outras ações, atividades articuladas de fiscalização e criação de áreas protegidas.

“Essas estratégias têm sido ignoradas pela gestão atual, ainda que a ciência alerte para a urgência de ações para conter não só a crise da biodiversidade, mas também do clima, cabe a nós, sociedade, pressionar para que o combate ao desmatamento seja uma política séria e de Estado”, conclui ela.

Melhorias em 30 anos

Segundo a gerente de ciências da WWF Brasil Mariana Napolitano, em contraponto com os altos índices de desmatamento, em 30 anos alguns pontos foram melhorados.

“Hoje, a partir da instalação de satélites e plataformas digitais, temos informações praticamente em tempo real do que está acontecendo na Amazônia, no Cerrado e em outras regiões. Tudo de forma rápida e ágil”.

Napolitano também destaca a criação de áreas de proteção e reconhecimento de territórios indígenas, especialmente no final da década de 90, quando diversas áreas de conservação foram criadas. “Essas extensões são essenciais e fundamentais para combater o desmatamento no bioma”, pontua ela.

Mariana afirma que o combate ao desmatamento demanda uma ação coordenada entre vários departamentos. “Desde o governo federal, estadual e o setor privado. Para ajudar na proteção do meio ambiente, a população deve ter consciência sobre o que consome, de onde vem os produtos e se causam algum tipo de degradação ambiental”, conclui.

Garimpo ilegal

Em acordo feito com a ONU, o Brasil se comprometeu a reduzir o volume de gases liberados na atmosfera até 2025 em 37%, tendo como base as emissões registradas em 2005.

No entanto, segundo levantamento do MapBiomas, projeto de monitoramento formado por universidades, ONGs e empresas de tecnologia, o garimpo ilegal é um dos responsáveis pelo desmatamento que precisa de atenção.

A pesquisa aponta que o garimpo dentro de terras indígenas cresceu 495% de 2010 a 2020. Só nas terras dos yanomamis, a destruição provocada pelos invasores cresceu 46% de 2020 para 2021.

Para Daniel Candido, especialista em Recursos Naturais da Imagem Geosistemas, além de praticar ações sustentáveis e a redução de gases poluentes, é preciso buscar medidas para prevenir e combater o desmatamento, focos de incêndio e atividades ilegais para preservar terras indígenas.

“Nesse cenário, o investimento em tecnologia geográfica é o mais indicado, por trazer soluções mais rápidas através de sistemas de reflorestamento, monitoramento em tempo real e análises de Big Data”, afirma ele.

Os satélites e radares de calor podem monitorar o desmatamento e as queimadas em lugares como a Amazônia, e oferecer a análise de imagens que são transmitidas em tempo real para possibilitar a rápida identificação de alterações no terreno, suas causas e consequências.

Assim, é possível acionar rapidamente o órgão responsável mostrando, por exemplo, a área em que está havendo incêndios florestais ou desmatamento por garimpo ilegal, além de auxiliar o governo na tomada de decisões para a realização de medidas protetivas e preventivas.