Quedas do Ibovespa continuam em meio a preocupação com juros e recessão

 



O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, fechou abril com queda de 9,7%, o pior resultado desde de março de 2020, quando a pandemia no país causou temor aos investidores. As quedas continuaram em maio, depois de uma sequência de quatro meses de alta.

Os recuos podem ser explicados pelo cenário global conturbado. Segundo a analista da XP Jennie Li, “os riscos de recessão crescentes estão preocupando os investidores”. O cenário global é de juros altos, com o objetivo de controlar inflação. E há os impactos na cadeia de suprimentos global causados pela guerra na Ucrânia e os lockdowns na China.

Diante das incertezas, especialistas esperam maior volatilidade da Bolsa, pelo menos nos próximos meses.

Crescimento menor

O conflito entre Rússia e Ucrânia, dois importantes produtores de commodities, e as rígidas restrições na China causaram problemas de demanda mundial, principalmente para as economias que vinham em um processo de retomada pós-pandemia. Como consequência, a inflação disparou e uma política monetária mais agressiva foi necessária, o que causou dúvidas sobre as expectativas de crescimento.

“Estamos em um cenário de incerteza, nós vamos observar na Bolsa esses impactos um pouco mais duradouros, ela reage ao PIB [Produto Interno Bruto]. Então a gente tende a ver essas quedas por mais alguns meses”, explica Sampaio.

Aumento da taxa de juros

Depois de uma alta na última quarta-feira (6), dia de aumento na taxa de juros do Brasil e dos Estados Unidos, o Ibovespa subiu 1,7% e chegou aos 108.344 pontos. Mas a animação do mercado com a decisão do Fed (Federal Reserve) de incrementar os juros dentro do esperado pelos investidores, em 0,5 ponto percentual, durou pouco.

A Bolsa brasileira e Wall Street voltaram a cair na quinta-feira (5), em meio à estreia da alta de juros nos dois países. O Ibovespa praticamente zerou os ganhos no ano, que ficaram em 0,46%, depois de terminar o dia com queda de 2,81% e 105.304 pontos, o pior patamar desde janeiro. Até o início de abril, o índice chegou a ter ganho parcial no ano de 16%. Na sexta-feira (6), fechou a semana com recuo de 0,16%, a 105.134,73 pontos. 

"A gente viu os mercados reinterpretando a decisão do Fed [banco central americano], basicamente precificando uma alta de juros mais agressiva para controlar a inflação por lá e isso tem causado essas quedas no mercado lá fora e a gente tem ido junto com o humor dos investidores globais", explica Jennie Li.

Com o incremento de 1 ponto percentual na taxa de juros  no Brasil, a Selic chegou ao maior patamar desde 2017 (12,75%), o que causou uma fuga de capitais da Bolsa. “Isso acaba aumentando bastante a atratividade em renda fixa e diminuindo a atratividade de investimentos em renda variável como é o caso da Bolsa de Valores”, explica Sampaio, professor da FGV.

"A gente pode analisar que a Bolsa de Valores e a renda fixa são competidores. Elas competem pelo dinheiro do investidor. Quanto mais alta a taxa de juros, maior o fluxo de capitais para esse tipo de investimento, já que a renda fixa tem menos risco", completa o economista-chefe da G11 Finance e professor do Mackenzie Hugo Garbe.

Recuperação

Até o momento, a volta da Bolsa aos patamares anteriores a abril vai depender da melhora do cenário internacional. "Tendo melhoria de cenário, ela pode reagir positivamente. Mas como a gente tem expectativa de continuar com incertezas, pelo menos no primeiro semestre, a gente vai ver uma Bolsa bem volátil", projeta Sampaio.

Garbe considera que a melhora pode vir somente nos próximos anos. "Nós vemos na economia brasileira e mundial o que chamamos de tempestade perfeita, nós saímos da pandemia com a economia abalada e inflação, depois veio incremento dos juros, guerra na Ucrânia, entre outros fatores. O mais importante para que essa queda não se acentue ainda mais é uma redução da taxa de juros no mundo todo, o que só deve acontecer a partir de 2023, quando a Bolsa deve recuperar um patamar mais ameno.

Fonte:R7