A moral dos soldados é algo que faz a diferença entre a vitória e a derrota em uma guerra?

 



Quando um país se envolve em uma guerra, ninguém encara mais os riscos dos confrontos do que os soldados. As tropas estão na linha de frente, nos tanques, nos navios, submarinos e nos aviões pelos céus dos campos de batalha.


Esses combatentes, porém, não cumprem atualmente o mesmo papel que já desempenharam em conflitos no passado, como a Primeira e Segunda Guerra Mundial. Sem a necessidade de ficar em trincheiras durante semanas, o combatente agora conta com mísseis teleguiados, drones e outras tecnologias que facilitam o posicionamento dos batalhões e diminuem a exposição aos riscos.

Ainda assim, segundo Gunther Rudzit, professor de Diplomacia Corporativa e Gestão de Negócios Internacionais na ESPM, os soldados desempenham papel essencial na guerra e a motivação desses homens faz a diferença diante da tropa inimiga.

“A moral do soldado sempre teve importância central em qualquer guerra, não só nessa na Ucrânia. Se o soldado não ver um propósito para arriscar sua vida, ele não se empenha, não segue totalmente as ordens”, explica Rudzit ao R7.

A motivação foi extremamente importante para ucranianos e russos na Segunda Guerra Mundial, quando defendiam a bandeira da União Soviética, cita como exemplo o professor.

“Os soldados soviéticos, mesmo mal equipados diante das tropas alemãs, se sacrificavam para defender a mãe pátria. Isto sustentou as perdas gigantescas sofridas pela União Soviética, em torno de 25 milhões de pessoas.”

O professor da FGV Ebape Marco Tulio Zanini também destaca a importância dos soldados saberem o motivo pelo qual devem lutar. Segundo o especialista, considerar a guerra justa e com um objetivo é vital para a autoestima das tropas.

“A legitimidade é extremamente importante. Existem estudos sobre guerra justa e injusta. Claro, o soldado não é convidado a pensar se ele quer ou não quer participar da guerra, ele é formado para a guerra, mas é claro que a legitimidade tem um peso muito grande na moral da tropa”, conta Zanini ao R7.

O especialista ressalta que grande parte dos cidadãos russos são a favor da guerra, o que dá um incentivo a mais aos soldados do país em combaterem os vizinhos ucranianos.

Como aumentar a autoestima das tropas?

Soldados ucranianos em trincheira atirando contra o exército russo

Soldados ucranianos em trincheira atirando contra o exército russo

ANATOLII SEPAMOV/AFP - 11.4.2022

Nos últimos dias, a Ucrânia disputou a repescagem das eliminatórias europeias para uma vaga na Copa do Mundo de futebol. Após superar a Escócia, os ucranianos caíram diante da seleção do País de Gales. Apesar da derrota, foram divulgadas imagens de soldados comemorando os gols, enquanto faziam guarda em postos de controle espalhados pelo país em guerra.

Por outro lado, os russos são constantemente descritos pela imprensa mundial como soldados com a moral em baixa, supostamente por não terem sucesso na invasão de Kiev — um dos principais objetivos da Rússia na guerra.

Para levantar a moral destas tropas, cada país usa uma estratégia. O esporte costuma ser uma delas, como foi visto no caso ucraniano, mas também há uma série de casos em que artistas nacionais são enviados para locais de conflito para se apresentarem aos militares.

Com o auxílio da tecnologia, os exércitos pelo mundo também têm aproximado as famílias dos campos de batalha. Chamadas de vídeo, que no século passado exigiam satélites caríssimos, hoje podem ser feitas com recursos mais acessíveis.

“É necessário ‘tirar a mente’ do soldado da tensão permanente da frente de combate, mesmo que seja por algumas horas, a fim de evitar estresse de combate”, explica Rudzit.

Outros recursos, como alimentos e bebidas do país de origem, têm a função de alegrar os soldados. Com esta mentalidade, a marca de refrigerante Coca-Cola fabricou a primeira bebida da comapanhia no Brasil, em Recife, Pernambuco — importante ponto logístico para os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

O então presidente da empresa, Robert Woodruff, prometeu aos soldados americanos que eles "teriam sempre uma Coca-Cola gelada por perto para matar a sede ao preço de 5 centavos".

Há também relatos da utilização de drogas sintéticas para melhorar a autoestima das tropas, recurso amplamente utilizado pela Alemanha na Segunda Guerra Mundial, de acordo com Wolf Kemper no livro Nazis on Speed. Alguns compostos, à base de metanfetamina, atuam como estimulantes, além de inibidores de sono, fome e medo, tornando os soldados mais destemidos.

“Mesmo com equipamentos modernos, a capacidade de concentração, de seguir ordens, raciocínio e coragem de se arriscar, são elementos fundamentais para a guerra. Por isto, se o soldado perde a moral, não consegue desempenhar totalmente como seus superiores esperam, arriscando a ele e seus companheiros de unidade”, conclui Rudzit.

“A guerra traz muito sofrimento. O que pode melhorar a moral da tropa é ter esperança”, diz Zanini. “Quando ele se vê assistindo um jogo de futebol, se entretendo com alguma coisa que seja simples, de pessoas que vivem fora do ambiente de guerra, é a esperança de que ele voltará a viver essa vida que traz moral”.

Fonte:R7