Alvo da PF, morador de Americana é suspeito de invadir sistemas do INSS

 



Uma investigação do Núcleo de Repressão a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, em Brasília, apontou um analista de sistemas de 23 anos, morador de Americana, como responsável por invasões em bases de dados do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

O suspeito, segundo a PF, fazia o desbloqueio irregular de benefícios para a realização de empréstimos consignados e vendia os dados e o serviço a financeiras. Ele foi preso em outubro e teve a soltura determinada na última semana.

A polícia concluiu a investigação no mês passado e indiciou o analista pelo crime de invasão de dispositivo informático, que prevê pena de dois a cinco anos de prisão. O Ministério Público Federal ainda não apresentou denúncia. A defesa contesta a ação da PF e diz que ainda são necessárias perícias para se comprovar que, de fato, houve um crime.

O desbloqueio de benefícios é uma medida necessária para que aposentados e pensionistas do INSS consigam realizar empréstimos consignados. O procedimento, entretanto, costuma ser moroso e deve ser feito pelo próprio beneficiário.

Para agilizar as concessões de empréstimo, agências financeiras acabam pagando para que hackers atuem nos sistemas governamentais, seja obtendo dados sigilosos de possíveis clientes ou realizando desbloqueios que viabilizem os empréstimos.

No caso do analista de Americana, a PF sustenta que, além de realizar os desbloqueios e vender os números desbloqueados a clientes, ele também retirava a exigência de representante legal de alguns beneficiários, o que evitaria a necessidade de autorizações judiciais.

O analista, ainda segundo a PF, também comercializaria um painel de dados em que era possível acessar em tempo real a situação de beneficiários, conforme dados sigilosos da base do INSS.

OPERAÇÃO. Na manhã do dia 20 de outubro, agentes da PF estiveram em um condomínio em Americana e em endereços comerciais da região central para cumprir mandados de busca e apreensão. Na casa do suspeito, os policiais relataram ter flagrado no computador do analista negociações em andamento.

Havia, por exemplo, arquivos com milhares de números de beneficiários que teriam sido enviados para o suspeito realizar o desbloqueio irregular nos servidores do Dataprev, empresa pública que gere os dados do INSS.

Em uma análise inicial, a investigação identificou mais de 11 mil desbloqueios irregulares de benefícios para empréstimos consignados. O analista recebia por meio de uma empresa de consultoria em seu nome. Em uma negociação flagrada pela PF, cobrava-se R$ 40 por cada desbloqueio. Além do crime de invasão, a polícia suspeita que ele possa estar envolvido em lavagem de dinheiro.

A investigação não concluiu que os benefícios desbloqueados foram usados para fraudes, mas não descarta a possibilidade, ainda mais pelo fato de a polícia ter identificado que, diariamente, milhares de dados eram vendidos.

Nas buscas feitas na casa do analista também foram encontrados, segundo a PF, arquivos que sugerem que ele tinha credenciais de servidores do INSS, ou seja, e-mails e senhas para acesso aos sistemas internos.

HISTÓRICO. A atuação do analista de Americana estava nos radares da Polícia Federal há pelo menos cinco anos, mas ele nunca foi condenado. Em 2017, quando era adolescente, foi alvo de uma investigação sobre invasão a sistemas de informática e banco de dados públicos.

No ano seguinte, houve a suspeita de que ele estivesse acessando ilegalmente sistemas da Justiça Eleitoral. Já na época, policiais federais encontraram indícios de que o analista desbloqueava milhares de números de benefícios no INSS.

No mesmo ano, em 2018, a Polícia Federal realizou a operação Data Leak, sobre vazamentos de dados sigilosos do INSS em pelo menos cinco estados – Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

A investigação mais recente, que teve o analista de Americana como alvo, apontou que ele mantinha contato com um dos alvos da Data Leak, um homem com experiência na comercialização de dados sigilosos.

No dia do cumprimento do mandado de busca e apreensão contra o analista, agentes flagraram conversas via Skype entre os dois no computador. Ambos negociariam desbloqueios de benefícios.

ALVARÁ. Em decisão do ministro Rogério Schietti Cruz, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), da última terça-feira, foi determinada a liberdade do analista e medidas cautelares. Dentre elas, ele foi proibido de acessar a internet por qualquer meio e de se ausentar da cidade sem comunicar a Justiça.

O advogado William Oliveira, que representa o analista, contesta a conclusão da polícia. “Foram constatadas apenas algumas conversas e ainda é cedo para falar em invasões. Isso depende de outras informações e perícias muito complexas. Conseguimos revogar a prisão e acreditamos que a busca foi ilegal e poderá ser anulada”, comentou. 


Fonte: O LIBERAL