A Petrobras anunciou seu plano estratégico de 2023 a 2027, no qual prevê investimentos de US$ 78 bilhões, valor 15% superior ao anunciado no ano passado. Mas analistas preveem mudanças e estimam que a empresa tenha perdido R$ 145 bilhões em valor de mercado com as sinalizações do novo governo.
A petroleira vem sendo criticada pelo governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, pelos pagamentos e dividendos que faz a seus diretores, além de seguir os preços internacionais e replicá-los ao consumidor brasileiro, por meio da chamada “paridade de preço internacional”.
Durante a apresentação do plano estratégico, na última quinta-feira (1º), executivos da Petrobras afirmaram que a petroleira hoje não tem restrições para elevar os investimentos, mas que novos projetos demandariam garantias de retornos financeiros sustentáveis, em diversos cenários. Eles defenderam as estratégias da atual gestão em meio à expectativa de que o programa seja revisado pelo governo eleito, em 2023.
Integrantes do governo de transição vêm indicando que o plano será revisto depois que a nova administração tome posse e altere a diretoria executiva e o conselho da petroleira estatal, em busca de mais investimentos em refino e energias renováveis, por exemplo.
Mas uma das principais críticas do governo de transição é contra o papel social da companhia de capital misto. O tema foi levantado na quinta-feira pela representante dos funcionários no Conselho de Administração, Rosangela Buzanelli Torres."Apesar de reconhecer o hercúleo trabalho das equipes envolvidas na elaboração do plano, bem como alguns avanços, considero as bases que o fundamentam inconciliáveis com os princípios que motivaram a fundação e construção da Petrobras", afirmou.
"A concepção financista na gestão da companhia a conduz como uma empresa privada, divorciada do relevante interesse público que justificou sua criação."
Ela também argumentou que o plano "deveria projetar a empresa para o futuro", considerando-se investimentos mais relevantes em transição energética, descarbonização e energias renováveis.
Entretanto, as sinalizações do próximo governo fizeram com que alguns bancos rebaixassem as expectativas quanto às ações da Petrobras, em meio a críticas no mercado financeiro de que a empresa poderá reduzir os pagamentos de dividendos e poderia passar a ter menores retornos sobre o capital investido em novos projetos.
"Hoje nós não temos nenhuma limitação para aumentar investimentos. Todo investimento que estamos fazendo é resiliente e aderente ao nosso negócio", disse o diretor-executivo de Desenvolvimento da Produção, João Henrique Rittershaussen, ao ser questionado por analistas sobre a capacidade atual da empresa de aumentar aportes em refino, exploração e produção, além de gás e energia.
"A gente tem trabalhado muito forte para dar consistência à implantação de nossos projetos [...], pela qualidade dos projetos, qualidade do que a gente põe no mercado", afirmou.
Segundo Rittershaussen, também é preciso avaliar a capacidade do mercado de absorver novos projetos.
"Não adianta a gente resolver colocar projetos demais no mercado se a gente não tiver um mercado preparado para atender."
Na quinta-feira, as ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 4,01%, cotadas a R$ 25,59.
Durante a apresentação, o diretor-executivo de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade, Rafael Chaves, explicou que avaliações da empresa indicaram o aprofundamento de estudos em novos negócios nas áreas de eólica offshore, hidrogênio e captura de carbono. No entanto, nenhum investimento ainda foi aprovado nesse sentido, antes que novos projetos passem por um crivo e provem ser de fato interessantes para a empresa.
A petroleira também elevou aportes em descarbonização das operações, biorrefino e outros, com investimentos de 4,4 bilhões de dólares, ou 6% do capex total.
Do lado do biorrefino, a petroleira planeja alocar 600 milhões de dólares até 2027.
A empresa já produz diesel coprocessado com óleos vegetais na Repar (Araucária-PR), com capacidade para produzir 32 mil barris por dia de um diesel com 5% de conteúdo renovável (Diesel R5). Agora a empresa planeja ampliar essa unidade, além de implantar a tecnologia na RPBC (Cubatão-SP), na Replan (Paulínia-SP) e na Reduc (Duque de Caxias-RJ), elevando a capacidade de produção para 154 mil barris por dia de Diesel R5.
Em paralelo, a empresa está investindo na produção de BioQAV na RPBC, em planta dedicada de 790 mil toneladas por ano de carga, com flexibilidade de matérias-primas e capacidade de 15 mil barris por dia, sendo 40% de diesel R100 e 40% de BioQAV.
Fonte:R7