Morte do líder do grupo Wagner pode desestabilizar a guerra a favor da Ucrânia? Entenda

 



As causas da queda do avião que matou o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, são tão incertas quanto o que deve acontecer nas áreas em que os mercenários atuavam, como na guerra na Ucrânia.

Os paramilitares garantiram a superioridade no front de batalha no leste ucraniano e conseguiram impedir o avanço do Exército de Kiev, principalmente na região de Bakhmut, onde ocorreu o mais longo combate do conflito até agora.

A situação mudou no dia 23 de julho, quando um motim da organização mercenária exigiu a renúncia do ministro da Defesa da Rússia Serguei Shoigu. A capital russa chegou a ficar em alerta pelo risco de ser cercada.

Em menos de 24 horas, a situação estava controlada, mas o atrito entre Prigozhin e o presidente russo, Vladimir Putin, abalou a confiança e a relação entre os dois, que eram aliados próximos. O caso foi tratado pelo Kremlin como "traição" e ficou decidido que os homens do grupo Wagner seriam substituídos por tropas do Exército regular da Rússia.

Com a importância dos paramilitares na guerra diminuindo nos últimos dois meses, o momento pode oferecer uma pequena vantagem ao presidente ucraniano, Volodmir Zelensky, que intensificou os ataques no território inimigo e passou a reconquistar áreas próximas à fronteira com a Rússia.

Um fator que pode determinar quais serão os possíveis desdobramentos dessa situação no conflito é quem assumirá a liderança do grupo Wagner com a morte de Prigozhin e de seu braço direito Dmitry Utkin.

"A relação entre o grupo Wagner e Putin já estava rachada. Então, sem um comandante que possa assumir rapidamente a liderança, militar este em que os mercenários ainda não possuem confiança, o mais provável é que o grupo saia de cenário bastante enfraquecido", afirma Rodrigo Reis, internacionalista e fundador do Instituto Global Attitude.

Nova liderança

Yevgeny Prigozhin estava no avião acidentado

Yevgeny Prigozhin estava no avião acidentado

REPRODUÇÃO/TELEGRAM/REUTERS - 24.06.2023

Os rumos da guerra dependerão também de qual será a posição do novo líder em relação ao governo Putin e seus generais.

"Um dos principais motivos pelos quais começaram os desentendimentos entre o Ministério da Defesa e o grupo Wagner foi justamente a tentativa por parte da Rússia de tentar incorporar os paramilitares ao Exército", diz Rodrigo Ianhez, historiador e especialista em Rússia e União Soviética.

O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, já mostrou estar disposto a acolher o grupo paramilitar em seu país. "Wagner viveu, vive e viverá em Belarus", afirmou. Ele espera que cerca de 10 mil membros da organização podem entrar no país nos próximos dias.

Essa mudança poderia ser um fator estratégico para a Rússia diante das tropas ucranianas. Ianhez afirma que ainda são rumores que o grupo vai realizar esse movimento, mas lembra que a fronteira entre Ucrânia e Belarus teve grande importância no início da guerra, quando blindados militares de Moscou fizeram incursões por essa região entre os dois países.

Rodrigo Reis declara que um enfraquecimento do grupo Wagner pela falta de uma liderança pode ter uma consequência extra, que seria o fortalecimento de outras organizações com a mesma forma de atuação em conflitos pelo mundo, até mesmo com a possibilidade de atuação ao lado da Rússia.

"Existem outros grupos de mercenários que possuem características semelhantes e que poderão ser acionados por Putin. Um deles, o Akhmat, do líder checheno Ramzan Kadyrov, é o mais provável nome a figurar nessa história, pois é o grupo de mercenário mais poderoso depois do Wagner e que também já recebeu ordens de Putin", explica o internacionalista.

Desde o motim, o grupo Wagner estava com uma atuação menor no front de batalha no Leste Europeu após a perda da confiança de Putin em Prigozhin. Com a liderança da organização vaga, os membros podem optar por migrar até mesmo para as tropas regulares. 

"É possível que se intensifique o processo de incorporação das forças do grupo Wagner às Forças Armadas da Rússia", diz Ianhez. Segundo o historiador, essa situação deve trazer consequências também para outros países onde os mercenários estavam presentes, principalmente na região do Sahel, na África.

Nesse sentido, o presidente Vladimir Putin assinou um decreto nesta sexta-feira (25) em que exige que os membros do grupo Wagner e de outras organizações paramilitares jurem "fidelidade" e "lealdade" à Rússia e "cumpram rigorosamente as ordens dos comandantes e superiores".

Mesmo sem uma indefinição para o conflito, este não deixa de ser um momento para que Volodmir Zelensky consiga algum êxito no front.

"O presidente ucraniano pode aproveitar o momento de fragilidade a seu favor e agir cirurgicamente nos territórios em que a Ucrânia se encontra em maior desvantagem, tentando reverter a situação, mesmo que ainda extremamente difícil e conflituosa", diz Reis.

Sem a previsão de um cessar-fogo ou de um acordo de paz, o combate entre Rússia e Ucrânia segue em aberto, e a morte de Prigozhin é mais um capítulo da guerra que já está perto dos 600 dias.

Fonte:R7