Governo busca superar burocracia e custos elevados para operadoras e ampliar cruzeiros no Brasil

 



governo federal pretende impulsionar o setor de cruzeiros no Brasil e ampliar a oferta de viagens de navio, mas esbarra em dificuldades como excesso de burocracia e custos elevados para as operações das empresas. Apesar dos obstáculos, o Executivo calcula que a atual temporada de cruzeiros, que começou em outubro de 2023 e vai até o fim deste mês, seja a melhor em uma década. A previsão é que sejam injetados R$ 5,1 bilhões na economia, valor que inclui gastos dos passageiros e dos tripulantes nas cidades visitadas e nos portos, além dos investimentos das empresas para realizar as viagens.

Há, ainda, a expectativa de geração de 80 mil empregos diretos e indiretos. Segundo o Ministério do Turismo, são, ao todo, 203 roteiros, com oferta de mais de 840 mil leitos para os passageiros.

São duas empresas em atuação no país, com nove navios em operação, terceiro menor número da série histórica. Na temporada 2010-2011, o país chegou a ter 20 embarcações. Confira:

• 2004-2005: 6

• 2005-2006: 9

• 2006-2007: 11

• 2007-2008: 14

• 2008-2009: 16

• 2009-2010: 18

• 2010-2011: 20

• 2011-2012: 17

• 2012-2013: 15

• 2013-2014: 11

• 2014-2015: 10

• 2015-2016: 10

• 2016-2017: 7

• 2017-2018: 7

• 2018-2019: 7

• 2019-2020: 8

• 2021-2022: 5

• 2022-2023: 9

• 2023-2024: 9

Entre os argumentos do governo federal para incentivar o setor no país, está o tamanho da costa marítima brasileira — são mais de 7,3 mil km de extensão, o 15º maior litoral do mundo. Como forma de estreitar os laços com o grupo e atrair empresas estrangeiras para ofertar cruzeiros no Brasil, o ministro do Turismo, Celso Sabino, participa da maior feira do setor em Miami, nos Estados Unidos.

“A pessoa que viaja de cruzeiro geralmente tem um ticket médio muito maior, gasta e consome mais e traz mais recursos para a nossa economia. Estamos disputando palmo a palmo com outras grandes nações cruzeiristas”, argumentou Sabino.

Desafios

O setor de cruzeiros em operação no Brasil considera o cenário nacional desafiador para o crescimento da área. Entre os fatores limitadores, a Clia (Associação Internacional de Linhas de Cruzeiro, na sigla em inglês) destaca elevadas taxas e custos portuários; excesso de burocracia, com envolvimento de ao menos 12 órgãos diferentes; falta de infraestrutura dos portos brasileiros; altos impostos; e deficiência de processos regulatórios.

“As taxas operacionais praticadas pelos portos brasileiros não são competitivas quando comparadas a outros mercados internacionais de cruzeiros. No Caribe, por exemplo, as taxas e impostos são bastante inferiores, tornando o destino mais atrativo”, destaca a Clia.

A associação cita, como custos elevados, as taxas de atracação, reboque, embarque, desembarque, trânsito, bagagem e tarifas por passageiros. “Mesmo com a evolução dos últimos anos do sistema portuário brasileiro, principalmente nos portos do Rio de Janeiro (RJ) e Santos (SP), ainda se observa necessidade de importantes intervenções e investimentos públicos e privados, especialmente, nos setores de passageiros, estrutura para atracação e serviços gerais”, argumenta.

Segundo a Clia, nem todos os destinos brasileiros têm portos para atracação de navios, o que torna necessário o uso de cais e marinas privadas. A associação também pede melhorias nas estruturas dos serviços de alimentos e bebidas, maior integração com transportes locais e aumento da capacidade dos terminais de passageiros.

Perfil dos passageiros

Outro empecilho ao crescimento do setor no Brasil está no alto custo da viagem. Um pacote de cinco dias, a partir de Santos (SP), com destino a Santa Catarina, por exemplo, está a partir de R$ 4 mil reais por pessoa. Uma viagem de oito dias de navio pelo Caribe, com embarque na ilha de Martinica, chega a R$ 3.500 por pessoa.

Segundo números da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Clia, 64,5% dos viajantes de navio brasileiros têm renda mensal familiar acima de R$ 5 mil. Desses, 30,3% têm ganhos de mais de R$ 10 mil por mês e 11% recebem, por família, até R$ 2,5 mil.

66,1% dos passageiros estão na primeira viagem de navio e 33,9% já viajaram de cruzeiro, em média, quatro vezes antes. Em relação à origem, 87,5% moram no Brasil, dos quais 60% são de São Paulo e 17%, do Rio de Janeiro. Do total dos viajantes, 60,8% são mulheres e 39,2%, homens. A maioria (43,9%) dos passageiros têm de 35 e 54 anos.

Últimos resultados

Na temporada 2022-2023, o setor gerou R$ 5,066 bilhões e recebeu 803 mil pessoas, conforme os dados da FGV e da Clia. Do total gerado na temporada passada, R$ 3 bilhões foram oriundos de gastos das empresas com a montagem e as operações.

Os R$ 2,066 bilhões restantes foram referentes aos gastos dos passageiros e tripulantes nas cidades e portos. Segundo a FGV e a Clia, R$ 4,05 foram movimentados na economia brasileira a cada R$ 1 gasto pelas empresas na temporada 2022-2023.


Fonte:R7