"VOCÊ AINDA DIZ 'CRIANÇA ESPECIAL'? ENTÃO PRECISAMOS CONVERSAR"

 


De “crianças especiais” a “crianças atípicas”: a importância de nomear com respeito e consciência

Por Sérgio Pinheiro – Professor e Jornalista

Durante muito tempo, o termo "crianças especiais" foi utilizado como uma tentativa de acolher e dar visibilidade a alunos com algum tipo de deficiência ou diferença no desenvolvimento. A intenção, na maioria das vezes, era boa. No entanto, os tempos mudaram — e com eles, a linguagem também precisa evoluir.

Hoje, profissionais da educação, da saúde, da psicologia e, principalmente, os próprios movimentos de pessoas com deficiência e suas famílias, têm alertado para a necessidade de abandonarmos expressões genéricas e, muitas vezes, paternalistas ou capacitistas, como "crianças especiais" ou "excepcionais".

Esses termos, embora ainda estejam presentes no vocabulário de muitos, reforçam uma ideia de “diferente demais”, “fora da normalidade”, e até de “coitadinhos”, o que prejudica a luta por direitos, autonomia e igualdade.

Por que dizer "crianças atípicas" ou "neurodivergentes"?

Nos últimos anos, as palavras vêm sendo cuidadosamente revistas para que possamos construir uma sociedade mais inclusiva. Expressões como “crianças atípicas” ou “neurodivergentes” são mais utilizadas porque:

  • Têm base científica ou técnica: refletem melhor o que está sendo discutido nas áreas da neurologia, pedagogia e psicologia;

  • Evitam o capacitismo: que é o preconceito contra pessoas com deficiência ou desenvolvimento diferente;

  • Promovem a inclusão com respeito: reconhecendo as diferenças sem rotular com romantização ou exclusão.

O termo "criança atípica", por exemplo, é usado para se referir a crianças cujo desenvolvimento foge do considerado “típico”, ou seja, esperado segundo padrões normativos. Isso pode incluir crianças com autismo, TDAH, dislexia, deficiência intelectual, entre outros.

"neurodivergente" parte da ideia de que há diferentes formas de o cérebro funcionar — e nenhuma é melhor ou pior que a outra. É apenas diferente. E a diferença não é um problema: é uma parte natural da diversidade humana.

O papel da escola e da linguagem

Na sala de aula, precisamos mais do que nunca abandonar rótulos e adotar uma abordagem inclusiva, acolhedora e precisa. Isso começa pela linguagem que usamos. Quando nomeamos com respeito, comunicamos também um posicionamento pedagógico e ético.

Educar para a diversidade significa, entre outras coisas, respeitar a identidade e a singularidade de cada criança, oferecendo os apoios necessários, sem diminuir sua autonomia ou exagerar nas “qualidades especiais”.

Conclusão

A linguagem transforma a realidade. E ao atualizarmos a forma como nos referimos às crianças com deficiência ou com desenvolvimento atípico, estamos dando um passo importante para a construção de uma sociedade mais justa, consciente e verdadeiramente inclusiva.

Falar de maneira respeitosa não é modismo nem exagero: é reconhecer a dignidade de todos, especialmente dos nossos alunos.