Infecção por coronavírus em morcegos e outros animais é alvo de estudo

 



A infecção pelo novo coronavírus em morcegos, saguis, serpentes, cães e gatos está sendo investigada em um estudo conduzido pela Fiocruz Mata Atlântica em Pedra Branca, o maior remanescente da floresta em área urbana do país, que fica na zona oeste do Rio de Janeiro. No total, 525 animais silvestres e domésticos passarão por exames. Até o momento, nenhum dos que foram capturados tinha o vírus.

A coleta de amostras para o teste RT-PCR, considerado padrão ouro para o diagnóstico da infecção pelo coronavírus, começou em agosto, com cães e gatos. Depois, foi a vez dos morcegos. A meta é examinar 250 deles, e 20% dela já foi alcançada, de acordo com o pesquisador da Fiocruz Mata Atlântica Ricardo Moratelli, um dos coordenadores da pesquisa.

Ele destaca que o fato de todos os resultados obtidos até agora serem negativos mostra que esses animais não têm um papel importante na circulação do vírus. A investigação vai identificar quais deles são suscetíveis e possíveis hospedeiros do novo coronavírus e qual sua relação com os diferentes tipos virais.

O estudo também vai analisar a presença de outros vírus respiratórios e gastrointestinais que podem infectar seres humanos. “Em dezembro vamos incluir mais animais na coleta, como equinos”, conta. A previsão é que os primeiros resultados saiam em fevereiro de 2021.

A aposta dos especialistas, no entanto, é que o vírus que causa a covid-19 não será encontrado em morcegos da região - que concentra 29 espécies das 181 existentes no Brasil, um dos países mais ricos quando se trata desses mamíferos, segundo Moratelli.

A expectativa se baseia em evidências científicas: elas só mostram que o novo coronavírus veio da natureza, mas não permitem saber qual o seu hospedeiro e nem como ele saltou para humanos.

“O que se tem são outros coronavírus parecidos, mas o Sars-Cov-2, aparentemente, não circula em morcegos. Só esperamos encontrar vírus geneticamente próximos”, explica.

Trabalho na floresta e em laboratório

A pesquisa depende de um intenso trabalho, que é realizado em campo e também em laboratório. Na mata, a captura de animais para coleta de amostras começa por volta das 8 horas da manhã e pode se estender até o meio-dia, dependendo do animal que se deseja avaliar.

"A gente acostuma esses animais a chegarem próximos das armadilhas dois dias antes de fazer as capturas", esclarece. Bananas são usadas com iscas. O instrumento para captura também varia, para saguis são usadas gaiolas, já os morcegos ficam emaranhados em redes, por exemplo.

O próximo passo é processar todo o material colhido para que ele seja enviado aos laboratórios de Vírus Respiratórios e Sarampo e de Virologia Comparada e Ambiental, do Instituto Oswaldo Cruz, que são parceiros da pesquisa. Essa etapa se encerra às 16h.

Basta começar a desaparecer no horizonte para que os morcegos deem as caras. "Eles começam a voar e nós já estamos preparados", descreve. Essa etapa dura quase seis horas, costuma ter início às 17h30 e vai até as 23h. A equipe envolvida faz a coleta de fazes, sangue e amostras por swab. Depois, eles são liberados.

Os animaiis domésticos que participam dos estudos são de famílias que tiveram casos confirmados de covid-19 ou os membros que apresentam síndrome gripal. Nesse caso, o material é colhido na casa dessas pessoas.

"O maior desafio foi estarmos em trabalho de campo em locais de alta circulação do vírus. Toda a rotina de trabalho já vinha acontecendo desde 2013, pois monitoramos outros parasitas. Foi realmente estarmos na linha de frente, coletando amostras desses animais", analisa o coordenador do estudo.

Ele conta que havia um projeto de pesquisa programado para começar em 2019, com foco na circulação de outros coronavírus já conhecidos. Com a pandemia, a empreitada foi adiada e passou por adaptações para a inclusão do vírus que causa a covid-19.

Hábitos humanos geram novas pandemias

O pesquisador afirma que apesar dos avanços e esforços científicos, a mudança de hábito é essencial para evitar uma nova pandemia. "Os animais não têm qualquer culpa. Quem tem culpa é o ser humano. Precisamos procurar uma forma mais equilibrada de interagir com a natureza, sem ser de uma forma predatória", avalia.

Os morcegos, que já foram apontados como a origem da pandemia, desempenham papeis fundamentais para a manutenção dos ecossistemas.

"Eles defecam em voo, então são os primeiros a levarem sementes para áreas degradadas, como a Amazônia. A planta da tequila é polinizada especificamente por morcegos", exemplifica. "Além disso, o trabalho predatório deles controla populalações de insetos que atacam plantações e são vetores de agentes infecciosos", completa,


Fonte:R7