Uma pesquisa inédita da Universidade de
São Paulo (USP), coordenado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
apontou que o agravamento clínico de pacientes que contraíram a Covid-19 está
ligado ao grau de ativação dos inflamassomos no organismo.
De acordo com reportagem do portal G1,
com os estudiosos, tais proteínas atuam como soldados, desencadeando uma
inflamação controlada para proteger os órgãos e, ao mesmo tempo, combater os
elementos invasores. Nos pacientes com coronavírus, esse sistema de defesa
ficou desorganizado, o que contribuiu para o agravamento da doença.
Ao longo de oito meses, mais de 40
cientistas focaram os estudos em um grupo de 128 voluntários infectados pelo
Sars-Cov-2, vírus que causa a Covid-19. Naqueles que apresentavam sintomas mais
graves da doença, foi identificado um processo inflamatório fora do comum,
informou a reportagem.
Os resultados obtidos em Ribeirão Preto foram publicados
em novembro deste ano no Journal of Experimental Medicine, um dos mais
importantes jornais médicos científicos do mundo, e chamou a atenção da
comunidade internacional, porque abriu um novo horizonte para tratamentos mais
eficazes contra a Covid-19.
Coordenador do estudo, Dario Zamboni, que
é professor do Departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioagentes
Patogênicos e do Centro de Pesquisas em Doenças Inflamatórias (Crid), diz que
ao serem ativados, os inflassomos promovem o controle das infecções. Caso o
processo seja extremo, o organismo produz uma resposta exagerada, podendo lesar
tecidos e piorar o quadro. “Fazendo uma analogia seria como se nosso corpo
fosse uma casa e essas proteínas são o fogo. A gente precisa do fogo, a gente
usa para cozinhar, para acender uma vela, para fazer um churrasco. Mas, ao
mesmo tempo, se ela está superativada, descontrolada, pode incendiar a casa
inteira e sair do controle. Então, as proteínas que fazem a defesa do nosso
corpo, têm que ser muito controladas. Esse vírus, o coronavírus, Sars-Cov-2,
ele ativa demais essas proteínas e elas podem piorar o quadro clínico”, afirma
Zamboni.
Diante das informações obtidas em laboratório, os
pesquisadores identificaram que é possível aumentar a chance de sobrevivência
de pacientes em estado grave com Covid-19. Em estudos preliminares, eles
perceberam que o uso de um medicamento específico diminui o tempo de
internação, tanto em leitos de enfermaria, quanto em de Unidade de Terapia
Intensiva (UTI).
Durante a pesquisa, a média de dias de
internação de pacientes no centro intensivo, que precisavam de respiradores,
caiu de sete para três dias. O nome do remédio, que pode ajudar a salvar vidas,
ainda é mantido em sigilo. “Cada quadro clínico é diferente. Muitas pessoas têm
uma doença muito leve, né? Nesse caso, é melhor não tomar esses medicamentos,
porque essas proteínas podem até estar contribuindo para o controle da doença.
Em alguns casos mais graves, aí, sim, seria importante usar o medicamento.”