A beira de uma possível terceira onda, os casos de Covid-19 mostram tendência de alta em todo o país e São Carlos não foge à regra, fazendo com que o Comitê de Crise de Combate ao Coronavírus em São Carlos aumentasse as restrições nos próximos dias para tentar conter o número de infectados na cidade.
Em meio a esta preocupação, o número de mortes devido a grave infecção aumentaram e os cemitérios de São Carlos registram aumento de sepultamentos. É o caso do Nossa Senhora do Carmo, o mais antigo e que possui hoje 30 mil sepulturas que são cuidadas por um grupo de 12 servidores (dois administrativos, dois da limpeza, um agente operacional, um pedreiro e seis coveiros). Há ainda cinco serventes terceirizados.
Um deles, Valmir Martins, 46 anos, trabalha há 25 anos no cemitério. Casado, pais de dois filhos e já vacinado com as duas doses, trabalha na linha de frente e viu os sepultamentos aumentarem significativamente nos últimos meses. “A gente sofre junto com a família. Tenho esposa e filhos. Minha mãe (Isabel) de 86 anos. A gente compreende que é difícil para todos, mas temos que fazer este serviço (enterrar o ente querido)”, disse Valmir ao São Carlos Agora.
PREOCUPADO
Durante entrevista realizada no campo santo, Valmir se vê preocupado com o momento atual, uma vez que, desde o início da pandemia, a idade das pessoas que tem perdido a vida, mudou sensivelmente. “Nos primeiros meses eram idosos em sua grande maioria. Hoje estamos enterrando jovens que foram infectados pela Covid-19”, disse. “É um momento triste, pois vi colegas de todas as idades morrerem. Amigos de infância. E participei do enterro deles. A dor é grande”, lamentou.
PARAMENTADO
Indagado qual o procedimento que os coveiros do cemitério adotam quando são informados que um carro funerário irá trazer um corpo infectado pela Covid-19 para ser enterrado, Valmir disse que os servidores têm um protocolo padrão de segurança.
“É um equipamento que devemos colocar e consiste em luvas, máscaras, macacão e botas. Depois da cerimônia, sem velório e sem familiares, passamos álcool em todo o corpo. A gente sofre mais ainda pois devido a esta infecção, praticamente não ocorre a última despedida”, lamentou.
200 SEPULTAMENTOS MÊS
Segundo o assistente administrativo Lucas Tiberti, 28 anos, no Nossa Senhora do Carmo há 30 mil sepulturas. Antes da pandemia, eram 120 enterros, das quais 75% na parte antiga e as restantes, na parte nova.
Segundo ele, diariamente ocorrem devido à Covid-19 em média, 2 a 3 sepultamentos por dia e que requerem cuidados redobrados para que as pessoas presentes não se infectem. Nos últimos quatro meses, segundo ele, chega a acontecer 200 enterros.
“Quando a morte das pessoas são as consideradas normais, devido aos protocolos de segurança, os velórios duram apenas duas horas e no máximo a presença de dez pessoas. Mas quando somos comunicados que a pessoa a ser sepultada foi vítima da Covid-19, quando o carro funerário chega, fora do cemitério é feita a oração com os presentes e o caixão lacrado é levado para a cova para o enterro. Sem velório”, disse. “É triste para a família, pois não podem se despedir com mais dignidade”, lamentou, salientando que o momento atual que é vivenciado pelos servidores do Nossa Senhora do Carmo é de stress e medo. “Todos temos famílias e fica a tensão no ar para não se infectar. Houve aumento no serviço e ocorre um certo sufoco. Mas temos que cumprir nossas obrigações”, afirmou.
Fonte: São Carlos Agora