Empresas de segurança em SP perderam 2.782 armas desde 2017

 



Empresas de segurança do estado de São Paulo perderam 2.782 armas desde 2017 — mais de uma por dia — segundo dados divulgados pela agência de dados Fiquem Sabendo e obtidos via Lei de Acesso à Informação a partir da série histórica de casos registrados na PF (Polícia Federal). 

O número soma registros da PF de furto, perda e roubo nas empresas e coloca o estado na liderança das estatísticas nacionais. Em 2021, mesmo com redução expressiva da quantidade de armas roubadas desde 2017, São Paulo ainda responde por quase um terço dos ocorrências.

A redução do número de armas perdidas ou roubadas também veio acompanhada do aumento de recuperações e arrecadações do arsenal das empresas. Desde 2017, 1.785 unidades que pertenciam aos agentes privados foram apreendidas, segundo a Polícia Federal.

Especialistas alertam que muitas destas armas legais perdidas acabam sendo desviadas para o crime, que pode conseguir nos estoques de empresas de segurança mais uma fonte de armamento, além dos arsenais apreendidos pela polícia, Exército e de clubes de tiro.

"As armas do mercado ilegal vêm 100% do mercado legal. A arma é um elemento industrial, ela não é fabricadas de forma artesanal e nem aparece na natureza. Ela é fabricada em uma indústria, em algum momento ela foi legal", comenta o gerente de advocacy do Instituto Sou da Paz, Felippe Angeli.   

"Se tem mais armas, mais armas vão ser desviadas. É um produto que tem valor econômico e tem uma alta demanda no mercado ilegal. Quem tem acesso facilitado a ele e é corrupto desvia, porque ganha dinheiro com isso. Seja um policial, ladrão, atirador esportivo."

A concentração de empresas de segurança no estado e na região Sudeste ajuda a explicar a disparidade de casos de São Paulo. Atualmente são 3.603 estabelecimentos no Brasil, com 40% destas na região Sudeste do país e 25,3% só no estado paulista (912). Rio de Janeiro (268), Paraná (242) e Minas Gerais (217) vêm em seguida entre as unidades da federação com mais entidades privadas do setor, incluindo filiais e matrizes.

São Paulo também concentra a maior parte do arsenal nacional privado, com 59.086 armas. Deste estoque, 82% (48.430 unidades) é do tipo revólver calibre .38. Em todo o Brasil, são 246.511 armas de fogo na posse de empresas de segurança. 

A Polícia Federal diz que fiscaliza todas estas empresas pelo menos uma vez por ano, o que já gerou 23.283 processos desde 2016 contra os donos das armas. Neste mesmo período, a PF também cancelou o alvará de funcionamento de 516 companhias por má conservação das armas.

Para Isabel Figueiredo, membro do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de armas perdidas é "completamente" subnotificado por falhas na fiscalização das políciais estaduais e também de controle das entidades de segurança. 

"Há uma falha estrutural no país de controle das empresas de segurança, e temos uma quantidade gigantesca, inclusive, de empresas de segurança irregulares com profissionais de segurança, que contrariando a lei, são também proprietários de empresas de segurança."

O presidente do Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada em São Paulo), João Eliezer Palhuca, concorda que falta fiscalização das armas em posse das companhias. Ele opina que a lei atual do setor, sancionada em 1983, está obsoleta e precisa de atualização para que entidades do setor possam regulamentar novas diretrizes de trabalho. 

Como alternativa, Palhuca cita o Estatuto da Segurança Privada, previsto em projeto de lei que aguarda votação no Senado desde o final de 2019. "As empresas de segurança querem ter um sistema de controle de armazenamento de arma muito mais rigoroso do o tem hoje. E é só com a lei que se pode fazer isso."

As empresas de segurança têm a obrigação de comunicar a Polícia Federal e Civil simultaneamente. Às vezes é comunicado só para uma, e às vezes sequer é comunicado 

ISABEL FIGUEIREDO, FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA


Fonte:R7