Início da dose de reforço em SP tem hesitação sobre a CoronaVac

 



No primeiro dia de aplicação da 3ª dose da vacina contra a covid-19 em idosos na cidade de São Paulo, houve hesitação por parte dos mais velhos em receber a CoronaVac como reforço em UBSs (Unidades Básicas de Saúde) visitadas pelo Estadão nesta segunda-feira (6). O dia representou ainda um encontro de gerações, com o início da aplicação em adolescentes de 12 a 14 anos.

A hesitação dos idosos era justificada pelo receio de que a CoronaVac pudesse não oferecer proteção tão ampla quanto outras vacinas. O Ministério da Saúde pediu que o reforço nos idosos fosse feito com a vacina da Pfizer e, na falta dela, com AstraZeneca ou Janssen. Médicos dizem que o reforço com a CoronaVac é seguro, mas criticam a decisão da gestão João Doria (PSDB) diante das evidências científicas de que a eficácia da vacina do Instituto Butantan é menor nessa faixa etária.

Nos postos de saúde, as doses da Pfizer disponíveis foram destinadas a adolescentes. Essa vacina é a única aprovada pela Anvisa para menores de 18 anos.

Carlos Avino, de 73 anos, saiu cedo de casa com o pai, Pasqual Alvino, de 98. O compromisso que fez eles chegarem às 6h30 na UBS Alto de Pinheiros, zona oeste, era esperado: seu Pasqual tomaria a 3ª injeção. Quando ficaram sabendo que seria com a CoronaVac, voltaram.

"A gente vê especialistas dizendo que é melhor dar Pfizer, AstraZeneca ou Janssen, mas querem dar a CoronaVac. E aqui tem vacina da Pfizer, mas só para adolescentes. Não está certo", reclamou Carlos. Ele ficou pouco mais de duas horas em frente ao posto tentando convencer a equipe a aplicar outra vacina em seu pai e até abriu reclamação na ouvidoria do SUS, mas não adiantou.

O ministério havia pedido aos estados que começassem o reforço dia 15. São Paulo decidiu começar antes e é o único estado que usará qualquer uma das quatro vacinas na 3ª dose.

Na UBS Santa Cecília, Lisane Sahd levou a mãe Eli, de 90 anos, mas também recuou. "A orientação que temos de especialistas e ministério é de que a 3ª dose não seja com CoronaVac", diz ela.

O governo defende a CoronaVac para esse público. "Não podemos deixar nenhuma vacina (de) fora. Precisamos que todas estejam e sejam incluídas no nosso Programa Nacional de Imunização", disse o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn na quarta-feira passada.

Coordenador do Comitê Científico do governo estadual, João Gabbardo citou, na semana passada, a nota técnica 27/2021, do ministério, que apontou "amplificação da resposta imune" após 3ª dose da CoronaVac, para defender a vacina no reforço. Isso permitiria, segundo ele, antecipar a 2ª dose da Pfizer em faixas mais jovens e incluir o grupo de trabalhadores da área da saúde no calendário da 3ª dose.

"O objetivo da dose de reforço é aumentar os anticorpos e a proteção contra a variante Delta (mais transmissível), a grande preocupação agora. E já sabemos, até por estudos no Brasil, que a CoronaVac dá uma resposta menor nos idosos do que nos mais jovens", afirma Raquel Stucchi, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.

A prefeitura informou que os idosos que recusarem a CoronaVac como reforço não serão penalizados. Na cidade, quem recusa um imunizante vai para o fim da fila de vacinação.

A 3ª dose está disponível para idosos com 90 anos ou mais que tomaram a 2ª dose há pelo menos seis meses. No feriado, os pontos de vacinação não funcionam na cidade. A imunização será retomada nesta quarta-feira (8).

Fonte:R7