Tiro de Guerra de Araraquara completa 110 anos

 



Hamilton Mendes/Colaboração

Comandado pelo subtenente Brayner Rogério Tavares Araújo, o Tiro de Guerra 02-002 de Araraquara está comemorando 110 anos de sua fundação, ainda como Linha de Tiro Cívica, fato ocorrido em 10 de setembro de 1911.

Considerado o mais antigo em atividade no país, o TG de Araraquara foi incorporado pelo Exército já em 1917, imediatamente após a publicação das normas que instituíram, oficialmente, o Serviço Militar Obrigatório do País.

Bastante ativo e com muitos planos para o fortalecimento da tradicional unidade militar da cidade, Tavares capitaneou uma verdadeira revolução no TG local, como reforma de várias de suas instalações, instalação do Hotel do Atirador, dentre outras melhorias. O TG também deve ganhar em breve um Espaço Cultural aberto à visitação pública.

O Imparcial voltará ao tema em matéria especial sobre o assunto.

Conheça abaixo um resumo do histórico da criação dos Tiros de Guerra no Brasil, e da fundação do TG local.

Serviço Militar no Brasil

A tradição das convocações para o Serviço Militar no Brasil começou ainda no Império, com a criação, em 18 de agosto de 1831, da Guarda Nacional, um organismo militar, que funcionava à parte do Exército Regular, destinado à formação de reservas para a defesa do território nacional e manutenção da ordem. Foi o primeiro Serviço de Alistamento Militar do Brasil, cujos membros eram recrutados entre o povo.

A Lei de criação da Guarda Nacional previa sua instalação em todos os principais Distritos e Municípios das mais importantes Províncias. Nas localidades, sua organização ficou, a princípio, confiada ao Juiz de Paz, e, ou outros líderes e pessoas ilustres da cidade.

O recrutamento para o Serviço Militar era forçado

A ordem para a instalação da Guarda Nacional em Araraquara, foi dada pelo Presidente da Província de São Paulo, por ofício de 2 de julho de 1833, em cujo teor exigia sua criação “…no prazo máximo de 15 dias…”.

Como a primeira Câmara Municipal de Araraquara somente foi instalada em 24 de agosto de 1833, e sua primeira sessão veio a ser realizada apenas em 28 de agosto, o Ofício do Presidente da Província foi apreciado apenas nesta data.

Guarda Nacional e Milícias Cívicas (República)

Na promulgação da 1ª Constituição da República, pelo parágrafo 3º das Disposições Gerais, foi definitivamente abolido o recrutamento militar forçado no país, e o Exército passou a depender do Voluntariado.

A Constituição previa também a organização de Milícias Cívicas nos municípios, o que deu início, a partir de 1910, a fundação das Linhas de Tiro Cívicas, que mais tarde, em 1917, foram incorporadas pelo Exército e deram início ao restabelecimento do Serviço Militar no país.

No caso do interior de São Paulo, a partir de 1910, as Milícias Cívicas foram as Linhas de Tiro.

Essa independência, e o fato de seus grupamentos (formados por voluntariado), desenvolverem atividades junto às comunidades locais: guarda de prédios públicos, força auxiliar, etc., fez com que, no interior de São Paulo, nascessem a partir delas, os chamados “Clubes de Tiro”, ou Linhas de Tiro, que eram grupamentos cívicos com fundamento associativos.

Araraquara

Em Araraquara, no início de 1911, alguns líderes locais se mobilizaram e criaram a Linha de tiro Cívica da cidade, fundada oficialmente em 10 de setembro de 1911. A notícia foi tornada pública através do jornal O Republicano, com o Sr. Major Christiano Infante Vieira comunicou a fundação da Linha de Tiro de Araraquara.

A reunião que decidiu por sua criação ocorreu três dias antes na residência no próprio Major, e sua primeira diretoria foi a seguinte: Presidente – Major Christiano Infante Vieira; Secretário – Major Eulógio Pitombo; Tesoureiro – Coronel Luiz de Ulloa Castro (patentes obtidas na Guarda Nacional).

A Linha de Tiro de Araraquara, embora tenha sido organizada dentro das instruções baixadas pela Directoria Geral, funcionou como suas coirmãs pelo interior, especificamente de forma cívica e com fundamentos associativos, com sócios pagantes. Aos poucos, a Linha criou sua própria milícia composta por voluntários, para serviços junto à comunidade.

Ficou assim até o ano de 1917, quando foi instituído, oficialmente, o Serviço Militar Obrigatório do País. Também foram determinadas as regras que regulamentaram o funcionamento das Linhas e Tiros de Guerra e as diferenças entre elas.

1917 – A Regulamentação

“Linhas e Tiros”

No início de 1917, finalmente foram regulamentados, no interior, os Tiros de Guerra e as Linhas de Tiro como organismos filiados a “Directoria Geral dos Tiros de Guerra de São Paulo”, e com isso, foi dado início ao procedimento dos sorteios e convocações para implantar definitivamente o Serviço Militar Obrigatório no país.

Isso causou uma explosão na criação de novas Linhas pelo interior na tentativa de se buscar a filiação no organismo estadual. Somente as Linhas mais antigas, porém, obtiveram a incorporação imediata. Segue abaixo a discriminação das diferenças existentes entre Linhas e Tiros no momento de sua regulamentação:

Linhas de Tiro:

As Linhas receberam, logo na incorporação, o termo “Federal”, que foi incorporado ao seu nome, e uma designação numérica que era sua identificação e registro junto a “Directoria Geral dos Tiros de Guerra”.

Onde haviam as Linhas não aconteciam as “convocações” e sim os “sorteios”.

As Linhas Federais receberam para seu comando a designação de um Sargento de carreira do exército e funcionaram, no princípio, como Juntas de alistamento, seleção e grupamento cívico. Não contavam com efetivo próprio.

Para seu grupamento era designado um reduzido número de jovens da própria localidade que formavam sua Guarda e prestavam serviços à comunidade. O comando do pequeno grupamento ficava a cargo do Sargento, comandante da Linha.

Fora isso, cabia a Linha de Tiro encaminhar, a Directoria Geral, a documentação dos jovens sorteados em sua localidade para que esta definisse o destino deles, que poderia ser qualquer Quartel que necessitasse completar seus efetivos.

No caso de Araraquara era bastante comum os recrutados serem enviados para Campo Grande-MT, ou interior do Paraná. As Linhas mantiveram ainda por algum tempo sua condição primitiva de organizações com fundamento associativo e diretoria, embora coubesse a última somente a administração do “Clube” de associados, já que nos assuntos militares o comando ficava a cargo do Sargento designado pela Directoria Geral.

Tiros de Guerra:

Foram aquelas Linhas já incorporadas pela Directoria Geral na condição de Tiros de Guerra, ou seja, com “status” de Quartel.

Os Tiros tinham efetivo próprio, instrução militar, e o Sargento designado pela Directoria Geral era seu instrutor.

Normalmente os Tiros recebiam para seu comando um oficial com posto de Tenente. Nas localidades onde existiam não havia o procedimento dos “Sorteios” e eram realizadas as Convocações propriamente ditas. Por esse motivo os jovens das localidades onde as Linhas foram incorporadas na condição de Tiros não necessitavam se ausentar de suas cidades para prestar o Serviço Militar. Todos, portanto, desejavam que suas “Linhas Federais” alcançassem o status de Tiros e trabalhavam politicamente muito por isso.

Linha Federal nº 610 de Araraquara

A Linha de Tiro de Araraquara, que fora criada em 1911, teve definida sua incorporação oficial pela Directoria Geral dos Tiros de Guerra de São Paulo em outubro de 1917.

Com a decisão, o organismo araraquarense recebeu, no início de 1918, a designação numérica, 610, e teve, desde outubro de 1917, o termo “Federal” incorporado a seu nome, passando a chamar-se Linha de Tiro Federal nº. 610 de Araraquara.

A partir de então, pela primeira vez na República, os jovens araraquarenses passaram a concorrer ao Sorteio anual para o Serviço Militar.

O primeiro Sorteio a que concorreram jovens de Araraquara se deu no final de 1917 para o Serviço Militar de 1918.

A Conquista do Tiro de Guerra

Por Despacho de 19 de março de 1932, finalmente a Linha de Tiro Federal de Araraquara, que na ocasião já contava com cerca de 400 (quatrocentos) Reservistas, foi incorporada a Directoria Geral na condição de Tiro de Guerra.

Embora a luta fosse antiga, e tenha tido a participação de muitos líderes locais, o Sargento Mário Mariano, que prestava serviço há tempos na Linha araraquarense, foi considerado o grande responsável pela conquista.

O telegrama informando as autoridades locais sobre a decisão, chegou a cidade no dia 20 de março, e comunicava também, que a antiga designação numérica, 610, seria mantida, e pela sua nova condição, o organismo da cidade passaria a chamar-se Pelotão nº. 610, ou Tiro de Guerra nº.610.

A partir desta data acabaram-se os Sorteios em Araraquara, com o Tiro local organizando as Convocações propriamente ditas, a fim de suprir a seu efetivo, que com sua elevação a Tiro, passou a ter.

Ficou também assentada a manutenção do Sargento Mariano a frente do organismo, agora na condição de “Instructor” do Tiro.

A boa notícia foi publicada no jornal O Imparcial na edição de 27 de março de 1932, depois que todas as diretrizes já estavam determinadas. Segue abaixo a transcrição de trechos do Comunicado Oficial da Directoria Geral dos Tiros de Guerra de São Paulo dirigida ao Presidente de Honra do organismo de Araraquara, o Prefeito Municipal Sr. Francisco Vaz Filho.

Alterações e Prontidão

Através do Decreto nº.247, de 18 de junho de 1935, foram criados novos Tiros de Guerra onde antes tinha havido as Linhas de Tiro não homologadas pela antiga Lei. As últimas foram definitivamente extintas.

Já a partir de 1937, em razão da grande apreensão que a situação inspirava, decidiu-se que qualquer cidadão brasileiro até a idade limite de 40 anos, que não estivesse quite com as obrigações militares, concorreria a um Sorteio anual para o Serviço Militar. A situação aplicava-se também aos estrangeiros aqui radicados e já com sua documentação em ordem. Segue dois exemplos:

General Gleuber Vieira

No ano de 1937, depois de cinco anos inativo, o Tiro de Guerra 610 de Araraquara voltou a convocar jovens para o Serviço Militar. Assumiu o comando em Araraquara o pai do futuro general Gleuber Vieira, ministro e comandante do Exército (1º de janeiro de 1999 a 1º de janeiro de 2003), durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Extinção do Nº610, criação do Nº 06 e instalação do 02-002. No ano de 1945, pela Portaria Ministerial nº. 8.747 de 31 de outubro, todos os Tiros de Guerra existentes no país foram extintos e, pela mesma portaria foram criados aqueles que os substituíram. No caso de Araraquara, foi extinto o Pelotão nº 610, ou Tiro de Guerra nº 610, e para seu lugar foi criado o Tiro de Guerra nº 06, instalado na cidade em 14 de novembro de 1945.

Foi designado instrutor comandante do Tiro de Guerra 06, o 1º Sargento Francisco Barretto de Menezes, em 29 novembro de 1945, conforme Boletim Interno nr 44 do antigo Segundo Exército, atualmente Comando Militar do Sudeste.

Em 13 março de 1970 aconteceu a inauguração da atual do Tiro de Guerra, localizada a Rua Ceará nº 1588, Vila Xavier.

Mais tarde, em 27 de março de 1979, O Exmo Sr Ministro de Estado do Exército, por meio da Portaria Ministerial nº 878, alterou a numeração do TG 06 para TG 02-002 – Araraquara.

Fotos: Arquivo pessoal