Prefeitura inaugura Casa de Acolhimento às Pessoas LGBTQIA+

 





Nesta quinta-feira (30), a Prefeitura de Araraquara realizará a solenidade de inauguração da “Casa de Acolhimento às Pessoas LGBTQIA+ Ricardo Corrêa da Silva”. O evento será realizado às 10h, no próprio espaço, localizado na Rua Voluntários da Pátria, 3340, Santa Angelina, e seguirá os protocolos de prevenção à Covid-19, além de contar com transmissão ao vivo pela página da Prefeitura no Facebook.

A obra foi uma conquista eleita por unanimidade na plenária temática LGBTQIA+ do Orçamento Participativo. Na ocasião, durante a defesa da proposta vencedora, a população LGBTQIA+ relatou episódios de problemas familiares devido à falta de aceitação da orientação sexual. Em alguns casos, os filhos foram retirados de casa e não tinham lugar para serem acolhidos. Por isso, a necessidade apontada para a criação da unidade.

Erika Matheus, assessora especial de Políticas LGBTQIA+ da Prefeitura de Araraquara, falou sobre a importância do espaço. “É um marco na história do movimento a inauguração da primeira casa institucional de acolhimento LGBTQIA+. As políticas públicas LGBT’s na cidade têm se implementado de maneira exemplar graças ao governo municipal que temos e o diálogo que este faz com o social. A casa será uma ferramenta importante de acolhimento, proteção, auxílio e reinserção. É uma política de afeto”, avaliou.

Proteção social

A casa abrigo oferecerá proteção social de alta complexidade para a população LGBTQIA+ em situação de rua e desabrigo por abandono, ausência de residência e sem condições de autossustento. Os encaminhamentos serão feitos pelo Centro de Referência e Resistência LGBTQIA+ “Nivaldo Aparecido Felipe de Miciano (Xuxa)”, que fica na Avenida Espanha, 536, Centro, e que pode ser contatado pelo telefone (16) 3339-5002.

Para atender a demanda cada vez mais urgente no município e por se tratar de um público de vulnerabilidade muito específica, a gestão considerou que a melhor maneira de implementação do serviço seria um edital de chamamento público para firmar parceria com Organizações da Sociedade Civil (OSCs) que possuíssem vínculo e trajetória de atendimentos sociais com a população LGBTQIA+.

Assim, o serviço de acolhimento será oferecido pela Prefeitura em regime de parceria com a OSC Casa Chama, vencedora do chamamento. Fundada em 2018 e localizada na cidade de São Paulo, a Casa Chama promove o acolhimento de pessoas transexuais, visando a dignidade e a autonomia. Ela já realizou mais de 200 mil projetos e ações psicossociais, jurídicas e culturais voltadas a pessoas trans. O termo de colaboração tem vigência de um ano, podendo ser renovado por igual período. O espaço também recebeu apoio das lojas Mobly e Casas Bahia.

Mês do Orgulho LGBTQIA+

A inauguração integra a programação do Mês do Orgulho LGBTQIA+ em Araraquara. Junho é conhecido internacionalmente como o Mês do Orgulho LGBTQIA+ por conta da data de 28 de junho, que também é o Dia Municipal do Orgulho LGBTQIA+ (Lei n° 10.272/2021, de autoria da vereadora Filipa Brunelli).

O mês de junho foi escolhido como homenagem ao episódio que muitos historiadores consideram como o início da luta organizada pelos direitos dessa comunidade nos Estados Unidos e, paralelamente, em outros países ocidentais. Foi em 28 de junho de 1969 que os frequentadores do Stonewall Inn, bar LGBT no vilarejo de Greenwich, em Nova York, resolveram dar um basta nos anos de violência e perseguição policial aos seus membros e espaços de convivência, causando a revolta que daria origem ao movimento LGBT+ de hoje.

O homenageado

Em cumprimento da Lei nº 10.506/2022, de autoria da vereadora Filipa Brunelli, a Casa de Acolhimento às Pessoas LGBTQIA+ levará o nome de Ricardo Corrêa da Silva, personalidade LGBTQIA+ de Araraquara que teve uma trajetória de lutas pela causa e acabou falecendo na cidade de São Paulo, vítima da vulnerabilidade e do preconceito que atravessam as existências LGBTQIA+.

Ricardo ficou conhecido nacionalmente como Fofão da Augusta, apelido que recebeu de maneira pejorativa em razão de alterações na face decorrente de aplicações de silicone. Ele foi um artista de rua araraquarense que viveu mais de 20 anos entregando panfletos de peças de teatro na região da Rua Augusta, no centro de São Paulo.

Natural de Araraquara, era o filho de Frank e Edite, e tinha três irmãos: Marcelo, Flávio e Júlio. Saiu cedo de casa e, por opção, terminou o ensino médio e foi ser cabeleireiro na capital, para onde se mudou em 1978, aos 21 anos, por conta da discriminação de sua sexualidade enquanto homem gay que se trajava com elementos do gênero oposto, evidenciando uma performatividade enquanto drag queen, o que resultava em ridicularização e discriminação.

Se tornou cabeleireiro renomado e, durante o período de auge profissional, entre a metade dos anos 1980 e a metade dos anos 1990, Ricardo morava em uma quitinete no Centro de São Paulo. Em meados de 1990, ele foi despejado do salão em que era sócio e, não tendo como viver e se sustentar, passou a viver de esmolas e da prostituição nas ruas de São Paulo, fixando-se em lugares que lhe rendiam maior dinheiro. Dessa forma, nasceu o apelido Fofão da Augusta.

Trocou a escova dos salões de beleza pelos folhetos de teatro que distribuía e passou a fazer em si mesmo a maquiagem que fazia no rosto dos outros, evidenciando sua arte drag queen. Nas ruas, foi vítima de violência e desenvolveu problemas psiquiátricos. Sabe-se que Ricardo possuía direito à uma herança deixada por um tio, porém, passou os anos finais de sua vida residindo em um hotel na região da Cracolândia, diagnosticado com esquizofrenia aguda. Ele faleceu em 15 de dezembro de 2017, vítima de uma parada cardíaca. Sua história foi resgatada pelo jornalista Chico Felitti no livro “Ricardo e Vânia”, publicado pela editora Todavia em 2019.