Quais são os materiais para a arte? Onde a arte deve estar? Como o trabalho artístico se relaciona com o público? Como as formas das coisas fabricadas se relacionam com as formas das coisas da natureza? Estas e outras questões são respondidas no Livro-Jogo com Acervo Marco do Valle, que será lançado nesta sexta-feira (10), a partir das 18h, na Biblioteca Municipal Mário de Andrade.
O Livro-Jogo + Acervo Marco do Valle é uma publicação destinada a jovens e adultos interessados em arte e curiosos pela construção das coisas. É uma espécie de percurso por algumas das obras do acervo do artista Marco do Valle, a exemplo de Multi-Multi (1982), instalação realizada na Rodovia dos Bandeirantes; Eixo Paralelo ao de Rotação da Terra (1987), escultura pública instalada no Ciclo Básico da Universidade Estadual de Campinas e Topografia Artificial (1989), ocupando inteiramente uma das salas da 20ª Bienal Internacional de São Paulo.
A parte do jogo, corresponde às proposições da publicação, nomeadas também de jogos de investigação, que poderão ser realizadas de modo individual ou coletivo, em grupos ou na sala de aula, com orientação de um professor para determinar o sistema da jogada. Trata-se de uma forma lúdica, para demonstrar os conceitos trabalhados por Marco do Valle, como espaço público, patrimônio cultural, instalações e intervenções artísticas, de modo a incentivar o reconhecimento do desenvolvimento humano e as condições da vida contemporânea, sobretudo dos centros urbanos, na formação cultural das pessoas.
Segundo Julyana Troya, organizadora do projeto, “um dos objetivos do livro-jogo é oferecer um recorte do acervo para ser consumido de diversas maneiras: pela história, pelo jogo, pelas práticas arte-educativas, e sobretudo, pela cumplicidade de estar participando de uma realização em prol da memória de Marco do Valle e da arte contemporânea brasileira”.
Marco do Valle, um dos pioneiros da arte contemporânea no Brasil, apesar de ter realizado muitos projetos na capital paulista, viveu sua juventude na cidade de Leme, onde iniciou sua trajetória artística ao lado de sua mãe bordadeira que o ensinou a desenhar. Sua vida adulta em Campinas, cidade onde foi para estudar Arquitetura e, devido à sua dedicação pela área das artes, acabou por fundar de modo baste ousado, o Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Faculdade de Arquitetura da mesma instituição. Foi onde também veio a falecer, precocemente, em 2018, e hoje abriga o Instituto Marco do Valle, instituição pensada pelo artista ainda em vida.
Por estes motivos e também por estar muito envolvida com as ações culturais do interior paulista, Julyana Troya, que também é prima do artista, fez questão de envolver o município de Araraquara no lançamento do projeto Araraquara será uma das primeiras cidades do estado a receber o livro-jogo e exemplares serão doados para as suas escolas e biblioteca pública.
O lançamento que foi muito bem acolhido pela Secretaria Municipal de Cultura, pela Secretária Teresa Telarolli e pelo coordenador de Acervos e Patrimônio Weber Fonseca, contará com a apresentação do livro-jogo e também com a leitura de uma das obras mais importantes do artista, seus Diários de Objetos (1978-1987), com desenhos, esboços e estudos para a execução das peças que seriam realizadas em escalas diferenciadas em várias capitais, cidades e museus do país a partir do final da década de 70.
A autoria do livro-jogo foi realizada pela equipe do Acervo Escola, projeto do Instituto Marco do Valle idealizado por Julyana Troya em 2019. Foi escrito também pela curadora e historiadora da arte Érica Burini. As proposições educativas foram realizadas pela artista e professora de artes Ana Helena Grimaldi e também pela pesquisadora Amanda Tavares. O projeto gráfico foi desenvolvido pelos artistas Kauê Garcia (design gráfico) e Bruno Novaes (ilustrações) que se dedicaram ao estudo das obras de Marco do Valle para compor o visual do livro.
O projeto Livro-Jogo com Acervo Marco do Valle é uma produção contemplada pelo edital PROAC EXPRESSO LEI ALDIR BLANC nº50/2021, prêmio de Julyana Troya pelo histórico em Artes Visuais, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo.
Sobre Marco do Valle:
(Taquaritinga – 1954 / Campinas – 2018)
Artista-professor-arquiteto. Trabalhou com as linguagens múltiplas que caracterizaram a arte desmaterializada – Arte-Xerox, Micro Arte, Videoarte – nas décadas de 70 e 80, momento em que toma um posicionamento questionador sobre a função da arte, utilizando-se de suportes e materialidades distantes dos meios tradicionais e indagando os espaços da/para a arte.
Apesar de realizar avançadas pesquisas sobre a tradição escultórica, Marco do Valle desenvolve séries de esculturas e instalações contemporâneas com material da construção civil que dialogam em complexidade com a ciência e o esoterismo. Foi fundador do Instituto de Artes da Unicamp, onde atuou por mais de 30 anos como professor de Escultura, e um dos idealizadores da Faculdade de Arquitetura. Participou de Bienais, mostras e exposições no MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM-RJ, MAC USP, MAC Campinas – instituições que possuem suas obras acervadas.