Barco à deriva encontrado com 9 corpos no Pará teria saído da Mauritânia, diz relatório da PF

 




Um relatório preliminar obtido pela RECORD aponta que havia mais pessoas na embarcação na qual foram encontrados nove corpos em uma embarcação no Pará. Em 13 de abril, pescadores encontraram um barco à deriva com corpos em estado avançado de decomposição nas proximidades da Ilha de Canelas, no município de Bragança (PA). De acordo com o novo relatório, objetos de uso individual encontrados no barco indicam a presença de mais de 20 passageiros a bordo. “O elevado quantitativo de capas de chuva [25] e de celulares [27] indica que, no momento da partida, o número de pessoas que estavam à bordo era muito superior ao número que chegou à costa brasileira”, diz o documento. Isso leva a perícia a acreditar que a embarcação saiu da Mauritânia, país situado no noroeste da África.

O relatório aponta que, além do fluxo migratório ser intenso na região, “o quantitativo é compatível com relatos do fenômeno migratório na Mauritânia, que apontam para barcos com as mesmas características, transportando entre 30 e 40 pessoas”.

Investigações

A Policia Federal adotou o método internacional de identificação de vítimas de desastre da Interpol. Os exames, finalizados na quarta-feira (24), coleta de dados de potenciais familiares residentes na África, por meio de cooperação internacional para comparação com o dos corpos.

Os possíveis familiares das vítimas serão localizados a partir dos elementos encontrados, como documentos e pertences que podem ser identificadores, além dos números nas agendas dos celulares.

Entre os materiais examinados até o momento, foram encontrados os seguintes elementos indicativos de nacionalidades:

• Documentos de identidade de cidadãos da Mauritânia e Mali;

• Anotações contendo números telefônicos com DDI da Mauritânia e República do Congo;

• Cédulas de papel moeda da Mauritânia; e

• Anotações com números telefônicos compatíveis com outros países da África, que estão sendo verificadas.

A principal suspeita é de que a embarcação seguido a direção errada quando se aproximava do arquipélago espanhol das Ilhas Canárias, para onde as vítimas pretendiam imigrar. Como a migração de pessoas dos países da África Ocidental é um problema humanitário com histórico de milhares de desaparecidos, faltam dados organizados sobre essas pessoas, por isso o relatório diz que o trabalho de identificação pode demorar e não estima prazo para a finalização do processo de identificação dos nove corpos resgatados.

Diante do quadro de imprevisibilidade, adotando recomendações internacionais para situações semelhantes, optou-se pelo sepultamento temporário dos corpos, enquanto são realizadas as medidas de cooperação para coleta de dados junto aos países de origem, para posterior vinculação de identidade.

Sem descartar nacionais de outros países, o relatório pediu que as embaixadas de Mali, Mauritânia e Congo, países com “elevada probabilidade” de origem das vitimas, fossem avisadas sobre o enterro. Também foi feito um pedido de ajuda e cooperação internacional para localização de parentes dessas vitimas.

Relembre o caso

Pescadores encontraram um barco à deriva com corpos em estado avançado de decomposição nas proximidades da Ilha de Canelas, no município de Bragança (PA), na manhã de 13 de abril. A Polícia Federal enviou peritos e papiloscopistas de Brasília para investigar o caso. “Um dos principais objetivos é descobrir quem eram as pessoas no barco, usando protocolos de Identificação de Vítimas de Desastres (DVI). O inquérito é de responsabilidade da PF no Pará”, disse a corporação em nota na época.

Além da PF, a Marinha do Brasil e o MPF (Ministério Público Federal) investigam o caso. A Marinha enviou uma equipe de inspetores navais da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental até o local. O MPF abriu investigações, uma criminal, que foca eventuais crimes cometidos e na responsabilização penal de autores, e outra cível, que apura questões de interesse público e da proteção de direitos que não necessariamente envolvem crimes.


Fonte:R7