Polêmica: Etanol prejudica os motores turbo? Especialistas explicam

 



Uma polêmica recente no mundo automotivo são diversos conteúdos entre vídeos e artigos que afirmam que o etanol prejudica os motores turbo a longo prazo. A teoria é de o etanol é um combustível “mais seco” e adicionado de muita água, o que em parte é verdade, o que supostamente prejudicaria os motores atuais em geral turboalimentandos com três cilindros que estão em carros de volume como Fiat StradaVolkswagen Polo e T-CrossChevrolet Onix e Tracker, entre outros.

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Usar o etanol de forma continuada prejudica o motor?
“Com todos os sistemas que são testados exaustivamente posso dizer que não e os carros são adaptador para uso de etanol ou gasolina podem rodar com os dois combustíveis” explica Gerson Borini, engenheiro que tem 38 anos de atuação no mercado e décadas atuando com grandes fabricantes e fornecedores de peças.

Borini admite que há muitas teorias a respeito desse tema partindo até mesmo de fabricantes de peças de que seria necessário “alternar” ao menos de vez em quando o uso de gasolina para quem só usa etanol. “O etanol chamado na origem de ‘álcool hidratado’ tem esse nome justamente porque tem água na composição. De um tempo para cá passaram a introduzir no etanol um pouco de gasolina, em proporção bem reduzida. Recentemente falei com uma empresa que faz calibração de motores e eles de fato recomendam um pouco de gasolina mas na minha vivência profissional eu digo que não é necessário”, reafirma.

O etanol é corrosivo?
Uma linha contrária ao uso do etanol também afirma que o combustível vegetal é corrosivo para as partes metálicas do carro. Mas o engenheiro diz que não; “há anos há providências e desenvolvimento de materiais para que os motores possam trabalhar bem com etanol. Os tanques eram de metal e hoje são de plástico, há tratamento de bicos injetores, nas partes internas do motor que já são adaptados ao uso do etanol”, diz o engenheiro.

No entanto, Borini explica que uma ressalva é feita antes de parar o carro após um abastecimento com combustível diferente. Se for preciso abastecer antes de parar o carro vale a pena rodar alguns minutos para que o sistema tenha tempo de perceber a mudança especialmente em carros mais antigos. Já nos carros novos não há esse problema. “Há também um sensor de etanol na linha de combustível e ele está perto dos bicos injetores com a função de ‘avisar’ que o combustível da linha tem composição diferente e assim a combustão é ajustada pela programação da injeção eletrônica”, explica.

Na experiência de Borini, até mesmo os carros mais antigos a etanol quando tinham motores desmontados apresentavam menos borra, impurezas e sujeira no sistema. Ao perguntarmos por que então tantas ocorrências de problemas com motores abastecidos a etanol que viralizam nas redes, o engenheiro explica:

“Isso ocorre quase sempre por conta do combustível adulterado e uso do óleo lubrificante errado”. Atualmente especialmente em motores turboalimentados é preciso ter o cuidado minucioso com a manutenção. Técnicos recomendam que se deve usar não só o lubrificante com a mesma especificação mas sim o óleo “original” homologado pela montadora.

Segundo Gilberto Pose, Coordenador Técnico de Combustível Raízen/Shell, os veículos flex estão bem preparados para receber o etanol. “Quando os veículos flex foram criados no Brasil, as montadoras dimensionaram toda a parte de engenharia voltada para o etanol, que pode causar corrosão. Por isso, os motores têm um tratamento nas partes metálicas que entram em contato direto com o etanol, como os bicos injetores, que receberam um tratamento para a passagem do etanol, assim como a bomba de combustível", informou.

E nos carros mais antigos?
Borini explica, porém, que carros calibrados para usar só gasolina especialmente os mais antigos, podem enfrentar problemas com mais etanol adicionado à gasolina ou com etanol adulterado com mais água. Segundo Borini são carros feitos para o seu tempo, como nos anos 1990 havia adição de 10 a 12% de etanol e hoje já são 27%.

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Motores mais antigos certamente terão mais dificuldades com outro combustível que não é aquele programado pelo carro. No caso de carros antigos que usam carburador e sem essa programação os danos podem ser maiores com problemas nas bombas, bico, tanque e outros componentes são iminentes com mais etanol.

MARLON COSTA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO-20.12.2023

De fato, há um projeto de lei já aprovado pela Câmara dos Deputados que prevê adição de 35% de etanol na gasolina. A matéria está no Senado mas requer discussões técnicas antes da votação.  “35% de etanol na gasolina para os carros flex não vai mudar nada. Só vai mudar a razão de cálculo onde aquela proporção de preço de 70% não vai valer mais. Agora para carros mais antigos, no dia a dia, eles serão impactados com perda de potência pois o poder calorífico do etanol é menor e reduzirá a potência, aumentará o consumo e levará o motorista a acelerar mais sem falar nos danos ao motor” explica.

Motor Honda ZR-V importado

Motor Honda ZR-V importado

MARCOS CAMARGO JR. 01.02.2024

Carros Importados com mais etanol
Segundo o engenheiro até os carros importados serão bem prejudicados. Atualmente eles são calibrados para uma proporção menor e com mais etanol podem ter mais danos a longo prazo. “Com 35% de etanol essa nova mistura vai prejudicar os componentes do motor”. Carros importados precisam ser calibrados para vender aqui e isso não é somente um ajuste eletrônico mas também mecânico como troca de um bico injetor ou outros componentes.

Motor 1.3 litro turbo TCe entrega 162 cv com gasolina e 170 cv com etanol

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FELIPE SALOMÃO 03.08.2022

Desde os primeiros modelos flex de 2002 (quando o motor flex foi introduzido pela Volkswagen no Gol), os motores passaram por muitas evoluções. Os carros da primeira geração de injeção eletrônica (fim dos anos 1980 e anos 1990) evoluíram de um sistema analógico de injeção de combustível para a partida a frio automática, uso de sensores, de computadores associados aos sensores, pré aquecimento desse combustível até chegar aos motores menores turboalimentados e com injeção direta. A programação do carro dentro da central eletrônica evoluiu muito com novos dispositivos e sensores ao longo dos últimos anos, isso nos modelos flex.

Volkswagen começou a estudar a possibilidade de misturar o etanol e a gasolina em 1992

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VOLKSWAGEN/DIVULGAÇÃO

Uso do etanol como combustível  já supera quatro décadas
O histórico do uso de etanol remete ao final dos anos 1970 com o programa Proalcool que introduziu um combustível de origem vegetal desenvolvido e produzido no Brasil que seria tão eficiente quanto a gasolina com o benefício de menores emissões. Ao longo dos anos 1980 as vendas de carros até então a álcool, depois etanol, chegou aos 90%. No entanto oscilações no preço da cana de açúcar levaram a fases mais ou menos positivas para o álcool. Após 2002, a chegada do primeiro carro flex foi seguida por quase todos os modelos produzidos nacionalmente. 

De acordo com a montadora, os softwares ficaram mais sofisticados

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INTERNET/REPRODUÇÃO

Etanol Aditivo e “Aditivos”
Em relação ao etanol aditivado, o combustível pode ajudar na limpeza dos bicos, segundo a Raizen, o que afasta as teorias de o melhor é usar aditivo em frascos pois o combustível não tem padrão de mistura. "O etanol aditivado conta com detergentes desenvolvidos para manter o interior do bico injetor lubrificado sem entupimento. Também ajuda na limpeza das válvulas, que ficam sujas. Por isso, para fazer a limpeza é recomendado utilizar de três a cinco tanques de combustível aditivados, melhorando a partida, a marcha lenta, as arrancadas e, por fim, deixando o veículo mais econômico", disso o executivo.


Fonte:R7