Em CPI, Barra Torres diz discordar de falas de Bolsonaro sobre vacinas

 




O presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, afirmou na CPI da Covid do Senado, nesta terça-feira (11), ser contrário às declarações do presidente Jair Bolsonaro, nas quais ele minimizou a importância da vacinação contra a pandemia ou pôs em dúvida os imunizantes. 

Ao ser questionado pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), como ele via as falas de Bolsonaro - citou, por exemplo, a brincadeira sobre o risco de virar jacaré para quem tomasse o imunizante da Pfizer -, Barra Torres declarou que isso "vai contra tudo o que nós [da Anvisa] temos protagonizado em todas nossas manifestações públicas".

"Entendemos que a política de vacinação é essencial. Se todos estamos sentados aqui nessa sala é porque um dia nossos pais nos levaram para se vacinar", disse o presidente da agência. "Discordar de vacina ou falar mal de vacina não guarda razoabilidade histórica", concluiu.

Mudança na bula da cloroquina

Barra Torres confirmou que estava na reunião no ano passado em uma das salas do Palácio do Planalto na qual se cogitou mudar a bula do medicamento cloroquina, colocando-o como possível medicamento contra a covid.

O encontro servia como reunião do chamado grupo executivo interministerial e Anvisa, criado em fevereiro de 2020 para enfrentamento da pandemia.

Segundo ele, estavam na reunião o então ministro da Casa Civil (hoje da Defesa), Walter Braga Netto, o ex-ministro da Saúde Mandetta, ele, como representante da Anvisa, e a médica defensora da cloroquina e do tratamento precoce Nisa Yamaguchi, mais outro médico, do qual não lembra o nome.

Em determinado momento, conta, a doutora Nise Yamagushi sugeriu a mudança na bula e ele prontamente rejeitou a ideia. "Minha reação foi imediata, dizendo que aquilo não poderia ser", disse aos senadores.

Torres explicou aos parlamentares que quem pode modificar uma bula de um medicamento registrado é a agência reguladora do país origem, desde que solicitada pelo detentor do registro. Isso pode ocorrer quando o laboratório que tem a propriedade do remédio descobre outra aplicação para a substância.

"Quando houve uma proposta de uma pessoa física, tive uma reação um pouco mais brusca. Olha, isso não tem cabimento, isso não pode. E a reunião acabou logo em seguida a esse episódio", relembrou.

De acordo com o presidente da Anvisa, "a doutora parecia estar, digamos, mobilizada para essa possibilidade".

Torres disse que nunca fez reunião com o presidente Jair Bolsonaro para aconselhá-lo sobre temas relacionados à Saúde.

Em relação à cloroquina, ele se mostrou contrário à aplicação da substância em qualquer fase do tratamento de covid, mas citou que existe um estudo em aberto, chamado coalisão 5, que avalia dados da aplicação do remédio em casos leves de infectados pelo novo coronavírus. Deve ser finalizado em dezembro deste ano. "Mas, até o presente momento, não há indicação de uso", avisou.

Máscaras

Questionado por Renan Calheiros sobre o comportamento de Bolsonaro em relação às máscaras, Barra Torres afirmou ser contrário ao chefe do Executivo e sugeriu seguir a ciência, que recomenda o uso do equipamento de proteção para diminuição do contágio.

"Destarte a amizade que tenho com o presidente, discordo dele. Na última live que participei com o presidente, permaneci de máscara, causando até estranheza aos presentes", encerrou.


Fonte>R7