“Encarar a morte é triste. Mas alguém tem que fazer este serviço. Quando entrei neste trabalho ficava constrangido. Antes eu era motorista e foi uma mudança radical em minha vida. Me preparei espiritualmente. Mas hoje vejo de uma forma diferente, como uma passagem. Apesar da dor, me sento útil em poder auxiliar uma família em uma hora tão dolorosa”.
Com esta frase, o agente de serviço funerário Luís Fernando Lazarini, 39 anos, recebeu o São Carlos Agora em seu local de trabalho, no Funerais Santa Cruz, para relatar o dia a dia desta classe trabalhadora em época de pandemia da Covid-19.
São Carlos possui hoje oito funerárias e aproximadamente 40 agentes de serviços. Todos são inclusos na linha de frente e receberam as duas doses da vacina que ajuda na imunização da grave infecção.
Lazarini contou que há quatro anos é agente funerário. Antes, por 12 anos foi motorista de ônibus de transporte público. “Foi uma transformação radical em minha vida”, disse, salientando que desde então passou a buscar e remover corpos. “Mas naquela época não tinha a pandemia da Covid-19”, explicou.
Desde março de 2020, com a chegada desta grave doença, as autoridades sanitárias da saúde criaram rígidos protocolos de segurança, uma vez que o SARS-CoV-2 é um novo coronavírus infeccioso e que leva muitas pessoas a morte (grupos de risco e com comorbidades). Agora, devido às variantes, não escolhe idade e muitos jovens têm perdido a vida.
“Há quase um ano e meio, quando somos informados pela Santa Casa, Hospital Universitário ou Unimed que a pessoa que faleceu estava com Covid-19, temos que nos preparar detalhadamente”, disse Lazarini. “Colocamos macacão, botas, luva, máscara, óculos de segurança e touca. Quando chegamos, o corpo está em um saco plástico. Ele é colocado no caixão e lacrado. Dali seguimos para o local onde será sepultado. Não há velório. Posteriormente, quando chegamos ao nosso local de trabalho, nos higienizamos com álcool 70º”, disse.
AUMENTO DE MORTES
Lazarini comentou que mensalmente, devido a Covid-19, são feitos aproximadamente 80 atendimentos de casos de falecimento e devido a possibilidade de contágio, o medo é constante. “Mas fazemos nosso trabalho e confiamos nos protocolos de segurança. Principalmente quando vamos buscar um corpo que está em um saco fúnebre. Colocamos na urna e lacramos. É duro, mas esta é a realidade”, afirmou.
MOMENTO QUE COMOVE
Apesar de considerar o seu trabalho como uma rotina, Lazarini afirmou que a comoção é uma companheira diária, principalmente quando chega ao cemitério, ponto final de uma pessoa.
“É angustiante, pois aquela pessoa que irá ser enterrada foi vista pela última vez saindo de casa para ser internada. Depois é intubada e quando não se recupera, vem a morte. Não pode ocorrer uma despedida digna, nem sequer ver o rosto. Dói na alma este momento. Não desejo a ninguém”, afirmou.
Mas, segundo Lazarini no começo da pandemia, nos primeiros meses, na maioria dos enterros, familiares questionavam e não aceitavam que a morte seria pela doença, uma vez que não podia ocorrer velório. "Porém, com o passar dos meses, tudo mudou e apesar da dor, aceitam aquele momento triste, da forma como tem que ser”, ponderou. “Acredito que a lição que esta pandemia nos deixa é que todo mundo é igual perante os olhos de Deus. Ninguém é melhor que ninguém”, finalizou.
Fonte: São Carlos Agora