O incêndio que matou 39 imigrantes no México trouxe visibilidade para uma problema oculto até então: a situação precária dos centros mexicanos de migração. Em entrevista a AFP, cidadãos latinos descreveram a experiência como "nojenta" e "desumana".
As estações de migração deveriam servir como espaços de abrigo para pessoas que saem de países de origem em busca de condições melhores.
Nos escritórios, como o da cidade Tuxtla Gutiérrez, por exemplo, os grupos passariam por processos burocráticos para regularizarem a entrada em novos lugares, mas, segundo a venezuelana Luisa Jiménez, o espaço é quase uma "masmorra".
"Isso é uma masmorra, um centro de detenção, como se fôssemos criminosos. É um lugar nojento", relatou a mulher, de 56 anos, que precisou andar por dias, comer lixo e dormir de lado de cadáveres até encontrar o local que ela julgava ser seguro.
Muitos outros imigrantes fizeram denúncias ao jornal além da idosa. Moisés Chávez, que ficou detido por uma semana, em uma cela de 84 metros quadrados, sendo maltratado por agentes, estava na unidade do incêndio.
"Não há extintores de incêndio, detectores de fumaça, mas sim câmeras", revelou Chávez. O homem ainda garantiu que os oficiais não tentaram abrir as celas ou ajudar os detidos quando a confusão começou.
O tribunal mexicano emitiu mandados de prisão contra três funcionários do INM (Instituto Nacional de Migração), dois seguranças executivos e o migrante que teria iniciado o incêndio, além de continuar investigando o caso.
Outros relatos revelam que as pessoas que chegam nesses espaços têm os pertences tomados, ficam aglomeradas em celas com superlotação, passam frio e fome, além de permanecerem lá por mais dias do que deveriam.
Embora sejam levados a estes locais com a promessa de receberem autorizações para residência, os migrantes entrevistados pela AFP dizem que na verdade recebem as notificações para deixar o México dentro de 10 a 30 dias.
De acordo com a ONG Anistia Internacional, em 2022, as autoridades detiveram pelo menos 318.660 pessoas em centros de migração e expulsaram cerca de 106 mil, incluindo menores.
Após o incêndio, a organização condenou a existência destes espaços, que têm causado "inúmeros prejuízos, e até tortura e tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, a milhares de migrantes".
"As estações de migração não são 'abrigos', mas centros de detenção, e as pessoas não são 'abrigadas' ali, mas privadas de sua liberdade", acusou a ONG. Outras instituições internacionais também defendem alternativas à prisão.
Fonte:R7